Com Rio em guerra, líder máximo do CV completa 656 dias “incomunicável” em MS
Na Penitenciária Federal de Campo Grande desde 2024, Marcinho VP segue isolado, segundo advogados

O Rio de Janeiro amanheceu em guerra nesta terça-feira (28), dia em que Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, da alta cúpula do Comando Vermelho, completou 656 em Mato Grosso do Sul. O líder da facção criminosa de origem carioca foi internado em cela da Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) no dia 11 de janeiro de 2024.
RESUMO
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O Rio de Janeiro enfrentou uma violenta operação policial nesta terça-feira, resultando em 64 mortes, incluindo 60 suspeitos e quatro policiais. A ação, que visava conter o Comando Vermelho, foi desencadeada no dia em que Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, completou 656 dias preso em Mato Grosso do Sul. Durante os confrontos, traficantes utilizaram drones com explosivos, causando caos na capital. Marcinho VP, considerado um dos líderes da facção, permanece incomunicável na Penitenciária Federal de Campo Grande. Sua defesa nega que ele tenha ordenado mudanças na cúpula do Comando Vermelho de dentro da prisão. Recentemente, ele teria mediado um acordo com o PCC para encerrar conflitos entre facções. A situação no Rio de Janeiro continua tensa, com restrições e toques de recolher em várias áreas.
Nesta terça, operação para conter o avanço do CV deixou pelo menos 64 mortos (60 suspeitos e quatro policiais) no Rio e impressiona não só pelo tamanho do massacre. Durante os confrontos nos complexos do Alemão, área que Marcinho VP comandou presencialmente até 1996, e da Penha, traficantes chegaram a usar drones com explosivos contra as forças de segurança.
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A ação policial mais letal da história superou em mais que o dobro os 28 óbitos registrados em Jacarezinho, em 2021, e provocou completo caos na capital carioca, com toque de recolher, fechamento do comércio e de instituições, além da escassez de ônibus – sequestrados e usados por traficantes para bloquear vias.

Em MS – Enquanto isso, VP permanece “incomunicável” na Capital, segundo seus defensores, embora, no ano passado, ele tenha encontrado maneira de negar ser o mandante de suposta troca na chefia da organização nas ruas do Rio de Janeiro, horas depois de pisar na Capital.
No dia 12 de janeiro do ano passado, a pedido de familiares de VP, a advogada Paloma Gurgel Bandeira, uma das integrantes da defesa do carioca, fez contato com a reportagem para rebater informação divulgada pelo portal UOL, que, segundo a defensora, repercutiu muito no Rio.
No dia 24 de dezembro de 2023, o jornal on-line publicou matéria revelando que, de dentro da unidade federal de segurança máxima, Marcinho VP havia ordenado que Wilton Carlos Rabello Quintanilha, conhecido como “Abelha”, fosse substituído por Luciano Martiniano da Silva, o “Pezão”, na chefia das ações da facção nas ruas da capital do Rio de Janeiro. Depois, o comando teria sido dado a Luis Cláudio Machado, o Marreta, outro líder do CV que esteve preso com VP na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, onde estava antes de ser trazido para Campo Grande.
Marcinho VP estaria descontente com decisões de Abelha, chamado de “general” em conversas de WhatsApp, às quais a Polícia Civil do RJ teve acesso, porque teria determinado “caçada” a rivais após aliança inédita com a milícia, que resultou em onda de violência sem precedentes, com mais de 50 assassinatos só em 2023.
Já a advogada de Marcinho afirmou ao Campo Grande News que o cliente não cometeu falta disciplinar em Catanduvas e que não responde a processo que o acusa de interferir no comando da facção de dentro da penitenciária.
Sobre a internação no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), Paloma Gurgel afirmou à época que o cliente não mantém contato com o mundo exterior. “Márcio não tem como mandar qualquer tipo de ordem para mudança de cúpula, pois os atendimentos [nos presídios federais] são monitorados por câmera e o vidro é blindado”.
Também em solo sul-mato-grossense, VP foi o responsável, conforme outra apuração do UOL, por selar acordo com o PCC (Primeiro Comando da Capital) para pôr fim ao conflito sangrento entre integrantes das facções em Sonora, no interior.
Em março deste ano, o carioca recebeu a visita do filho, o rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido como Oruam, de 25 anos. Foi o músico quem compartilhou a visita em suas redes sociais com a legenda: “Partiu visitar meu pai [emoji de coração]”.

Sem alterações – Nesta terça-feira, o advogado Luiz Henrique Baldissera, que também integra a bancada de defesa de VP, informou à reportagem que não teve notícias do cliente. “Está tudo normal. Não fiquei sabendo de nenhuma restrição nova”, disse sobre o possível enrijecimento nas regras de permanência do detento em Mato Grosso do Sul diante da crise na segurança do RJ.
A Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) informou ao Campo Grande News que “não houve qualquer alteração na rotina da Penitenciária Federal em Campo Grande em razão dos acontecimentos no Rio de Janeiro”. “As unidades do Sistema Penitenciário Federal mantêm regime de isolamento absoluto entre os presos e comunicação rigorosamente controlada, o que impede qualquer tipo de influência ou articulação externa. Por esse motivo, não há necessidade de adoção de medidas adicionais; a segurança e o controle já são mantidos em nível máximo e permanente”, completou a nota.
A reportagem ouviu duas fontes do sistema penitenciário estadual que informaram não haver alterações entre os presos, por enquanto. Embora o sistema penitenciário estadual abrigue internos identificados como integrantes do Comando Vermelho, o domínio no Estado é sabidamente do PCC.

Rodízio – Nepomuceno chegou a Campo Grande, junto com outros oito detentos, horas depois da saída de outro nome conhecido do crime organizado, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que foi levado para a Penitenciária Federal de Mossoró (RN) naquele 11 de janeiro.
Ambos são apontados como lideranças importantes do Comando Vermelho, facção criminosa que surgiu nos presídios do Rio de Janeiro, e já estiveram juntos no Presídio Federal de Porto Velho (RO).
No início do ano passado, policiais penais federais trabalharam na Operação Próta para o rodízio de presos que acontece, em geral, a cada dois anos. A ação de inteligência é pensada para atrapalhar a atuação desses presos que, sabidamente, continuam no comando de facções mesmo tendo contato restrito com o mundo externo.
O sigilo é mantido até o término das operações para evitar tentativas de resgate dessas lideranças durante a movimentação dos internos. O nome da operação fazia referência ao primeiro preso custodiado no sistema penitenciário federal, Beira-Mar. Em grego, o termo significa “primeiro”.
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