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Cidades

Esquema de empresários, juízes e desembargadores envolveu milhões, aponta PF

Relatório serviu de base para STF prorrogar afastamento de desembargadores do TJMS

Por Ângela Kempfer | 02/05/2025 09:35
Esquema de empresários, juízes e desembargadores envolveu milhões, aponta PF
Fachada do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (Foto: Arquivo))

Investigação revela que empresários, advogados, magistrados e servidores públicos atuaram para manipular decisões no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Entre os beneficiados, estão parentes de desembargadores e um conselheiro do Tribunal de Contas.

RESUMO

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Relatório da Polícia Federal revela esquema de compra e venda de decisões judiciais no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Empresários teriam pago propina a juízes e desembargadores para obter decisões favoráveis em disputas de terras, movimentando mais de R$ 5 milhões. O esquema envolve familiares de desembargadores, um conselheiro do Tribunal de Contas e advogados que intermediavam os pagamentos. A investigação aponta para a atuação de um núcleo empresarial, liderado por Diego Moya Jeronymo e Percival Henrique de Souza Fernandes, interessados na posse da Fazenda Paulicéia. O núcleo político, representado por Osmar Domingues Jeronymo, conselheiro do TCE-MS, exercia influência institucional. O núcleo operacional, composto por servidores do TJMS e advogados, intermediava as propinas e manipulava informações. Magistrados, incluindo desembargadores, completavam o esquema, proferindo decisões favoráveis ao grupo. Um esquema paralelo de liberação irregular de valores também foi identificado, envolvendo a advogada Emmanuelle Alves Ferreira da Silva, esposa de um juiz estadual.

Relatório da Polícia Federal, divulgado no Superior Tribunal de Justiça, revela a existência de um sofisticado esquema de compra e venda de decisões judiciais no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS).

Segundo a investigação, empresários interessados em manter a posse de terras obtinham decisões favoráveis mediante o pagamento de propina a juízes e desembargadores. Só em parte com robustas provas, o esquema movimentou mais de R$ 5 milhões em pagamentos e liberações judiciais suspeitas. Parte desse valor teria sido repassada a magistrados ou intermediários, disfarçada por escritórios de advocacia e contas de familiares.

A seguir, a divisão dos envolvidos por núcleos e o detalhamento das ações atribuídas a cada um deles.

Núcleo Empresarial: Articulação de interesses econômicos

Diego Moya Jeronymo

  • Empresário rural.

  • Sobrinho do conselheiro do TCE-MS, Osmar Domingues Jeronymo.

  • Concedeu empréstimo de R$ 2,45 milhões à produtora rural Marta Martins de Albuquerque.

  • Quando Marta tentou pagar a dívida e reaver a Fazenda Paulicéia, articulou, junto a outros, a manutenção irregular da posse.

  • Agiu para coagir Gerson Pieri, comprador posterior da fazenda, ameaçando-o para desistir de ações judiciais.

  • Contratou o advogado Félix Jayme Nunes da Cunha para intermediar propinas.

Percival Henrique de Souza Fernandes

  • Empresário credor de Marta.

  • Concedeu empréstimo de R$ 1,45 milhão a Marta.

  • Registrou a posse da Fazenda Paulicéia por escritura considerada falsificada.

  • Favorecido por decisões judiciais que bloquearam tentativas de Marta de anular a escritura.

Núcleo Político: Apoio e influência institucional

Osmar Domingues Jeronymo

  • Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS).

  • Tio de Diego.

  • Utilizou sua influência política e institucional para favorecer o grupo nas instâncias judiciais.

  • Facilitava interlocuções com magistrados.

Núcleo Operacional: Execução das fraudes e intermediação

Danillo Moya Jeronymo

  • Servidor do TJMS.

  • Primo de Diego.

  • Extraía informações sigilosas e orientava a atuação do grupo.

  • Atuava como elo direto entre o núcleo empresarial e o jurídico.

Félix Jayme Nunes da Cunha

  • Advogado contratado por Diego e Percival.

  • Responsável pela articulação jurídica e operacional.

  • Intermediava pagamentos de propina para compra de decisões judiciais.

  • Representava o grupo em processos, formalizando recursos e peças que subsidiavam a fraude.

Núcleo Jurídico: Magistrados e advogados favorecendo o esquema

Vladimir Abreu da Silva (Desembargador)

  • Relator do agravo interno que manteve a posse da fazenda em favor de Diego e Percival.

  • Negou a produção de provas para verificar a falsidade da escritura.

Júlio Roberto Siqueira Cardoso (Desembargador)

  • Acompanhou o relator no voto.

  • Posteriormente, liberou mais de R$ 5 milhões para a advogada Emmanuelle Alves Ferreira da Silva, esposa do juiz Aldo Ferreira da Silva Júnior, mesmo com indícios de fraude.

  • Ignorou alertas sobre a irregularidade de títulos apresentados.

Alexandre Aguiar Bastos (Desembargador)

  • Proferiu votos alinhados para impedir a reabertura de provas na disputa da fazenda.

Sideni Soncini Pimentel (Desembargador)

  • Rejeitou recursos especiais de Marta.

  • Apontado como responsável por barrar tentativas de anulação da escritura.

Esquema milionário paralelo: Liberação irregular de valores

Além da disputa da Fazenda Paulicéia, o relatório aponta outro esquema envolvendo liberação milionária de recursos judiciais.

Emmanuelle Alves Ferreira da Silva

  • Advogada.

  • Esposa do juiz Aldo Ferreira da Silva Júnior.

  • Obteve judicialmente a liberação de R$ 5.065.003,46.

  • Valores foram desbloqueados com base em documentos considerados falsificados.

Aldo Ferreira da Silva Júnior (Juiz Estadual)

  • Apontado como interessado direto na liberação dos valores à esposa.

Paulo Afonso de Oliveira (Desembargador)

  • Atuou junto a Júlio Cardoso para autorizar a liberação milionária.

Familiares de magistrados como beneficiários

Fábio Castro Leandro

  • Advogado.

  • Filho do desembargador Paschoal Carmello Leandro.

  • Recebeu transferências suspeitas relacionadas ao esquema.

Rodrigo Gonçalves Pimentel

  • Advogado.

  • Filho do desembargador Sideni Soncini Pimentel.

  • Também beneficiado com repasses financeiros ligados ao esquema.

Outros envolvidos

Natacha Neves de Jonas Bastos

  • Ex-assessora do desembargador Júlio Cardoso.

  • Envolvida em tratativas para venda de decisões judiciais.

Kelly Gaspar Duarte da Rosa

  • Juíza estadual.

  • Citada em diálogos sobre favorecimento de sentenças.

A PF concluiu que o esquema no TJMS era estruturado e contínuo, envolvendo compra e venda de decisões judiciais, fraudes patrimoniais, liberação indevida de valores milionários, interferência política e institucional, ocultação de recursos por meio de terceiros.

O relatório recomenda a responsabilização criminal dos envolvidos, uebras de sigilo bancário e adoção de medidas cautelares para impedir a continuidade dos crimes.

O STJ deverá decidir nos próximos meses sobre o aprofundamento da investigação contra os magistrados e empresários citados. Há pedidos de afastamento de funções, bloqueio de bens e abertura de novos inquéritos para apurar os repasses financeiros a terceiros ligados aos desembargadores e juízes.

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