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Cidades

Influência na polícia rendeu até escolta "digna de Trump", aponta investigação

Interceptações telefônicas evidenciaram a estreita relação da família com delegados da Polícia Civil da Capital e interior

Silvia Frias e Angela Kempfer | 04/10/2019 11:12
Jamil Name Filho, o Jamilzinho, levado para o Centro de Triagem, no dia 27 de setembro (Foto/Arquivo: Paulo Francis)
Jamil Name Filho, o Jamilzinho, levado para o Centro de Triagem, no dia 27 de setembro (Foto/Arquivo: Paulo Francis)

As interceptações telefônicas feitas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) na Operação Omertà evidenciariam estreita relação entre os investigados e integrantes da Polícia Civil em Mato Grosso do Sul.

Não faltam citações nominais a delegados e até relato de escolta concedida a Jamil Name Filho, como “aquela lá do Presidente dos Estados Unidos”, diz um dos investigados em trecho de interceptação telefônica.

Antes da prisão, as boas relações da família Name com integrantes da Polícia Civil eram de conhecimento público: em pesquisa na internet, é possível ver fotos de pelo menos dois delegados na festa de aniversário de 80 anos do patriarca, Jamil Name, nascido em abril, mas que comemorou com grande festa em maio deste ano.

Já na investigação, há indícios que a relação vai além do trato social. O Gaeco interceptou conversas do policial civil Márcio Cavalcanti da Silva, da DERF (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos).

Ele foi preso na operação, acusado de ser integrante do núcleo de apoio do grupo de milicianos que seria comandado por Jamil Name e Jamil Name Filho, o Jamilzinho, segundo apuração do Gaeco.

“(...) não passa desapercebido que Márcio Cavalcanti usa do bom trânsito que ostenta entre vários delegados da Polícia Civil, inclusive alguns pertencentes ao alto escalão, em benefício da família Name (...)”

No inquérito, consta a citação de conversa de Cavalcanti com um delegado aposentado, ocorrida em junho deste ano. No diálogo, Cavalcanti diz a um dos membros da família Name que “iria falar com o Gordinho”. Segundo o Gaeco, possivelmente o apelido de outro delegado, para pedir auxílio.

Policial Márcio Cavalcanti, preso na operação p(Foto/Arquivo: Paulo Francis)
Policial Márcio Cavalcanti, preso na operação p(Foto/Arquivo: Paulo Francis)

Em outro trecho, uma brincadeira feita por Cavalcanti poderia estremecer a relação de um delegado com membros da família. Consta que ele pagou R$ 300 para garota de programa passar trote para um dos policiais de alto escalão da DGPC (Delegacia Geral de Polícia Civil).

Em conversa com um homem não identificado, Cavalcanti pede que o amigo interceda por ele. O problema na desavença é que "complica ir à DGPC", pois um integrante da família Name, sempre precisa de “alguns serviços dele” e, por isso, devem distinguir a parte profissional da pessoal. Pede para o homem falar com o “cabeçudo”.

General da América – Em outro trecho, o treinador de cavalos Luiz Fernando da Fonseca, o Ligeirinho, funcionário de Jamil Name há 35 anos, faz várias citações sobre as relações da família com a Polícia Civil e contatos que permitiram o sobreaviso da ação da PM (Polícia Militar).

Em conversas interceptadas em junho deste ano, Ligeirinho mostra seu descontentamento com o comportamento de Jamilzinho – “não vale a boia que come” e “só pensa em fazer dinheiro e ruindade para as pessoas” - e o quanto isso estaria desagrado o patrão Jamil Name. A sorte de Jamilzinho, é que tem um pai “diferenciado”.

A prova dessa influência do pai é a recepção de policiais do 1º DP (Distrito Policial) de Ponta Porã dada a Jamilzinho, em data não especificada.

Segundo Ligeirinho, em conversa com homem não identificado, Jamilzinho foi recepcionado por policiais em um camburão do 1ºDP – “tudo puxa saco dele”. Depois, mais três viaturas teriam ficado de prontidão. “(...) parece que ia chegar General da América, que nem aquele lá do Presidente dos Estados Unidos, o Trump”, comparou.

O treinador de cavalos também conversa com uma mulher, não identificada, sobre ação da PM (Polícia Militar) na região das Moreninhas e que todos estariam de sobreaviso. A conversa não evidencia que atividades estariam sob vigilância da polícia, “(...) vão pegar todo mundo e não escapa ninguém da Moreninha”, pois há mandado de prisão. Ligeiro diz que há conhecido na PM que avisou para que tomem cuidado.

A assessoria da PM informou que, até este momento, não há qualquer integrante da corporação que esteja sendo investigado ou tenha sido alvo da Operação Omertà. A reportagem entrou em contato com a DGPC (Delegacia Geral de Polícia Civil) sobre as citações relacionadas aos delegados e aguarda retorno.

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