Maioria dos indígenas de MS é evangélica; católicos perdem espaço
Estado é o 3º em número de indígenas evangélicos, mas o 14º dos que têm práticas tradicionais religiosas

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta sexta-feira (6) resultados do Censo Demográfico 2022 sobre a religiosidade dos indígenas em Mato Grosso do Sul, indicando aumento de evangélicos, uma base católica não majoritária e um baixo número de pessoas que seguem tradições indígenas nas práticas religiosas.
RESUMO
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Censo 2022 revela crescimento evangélico e declínio católico entre indígenas de MS O Censo Demográfico 2022 do IBGE revelou mudanças significativas no cenário religioso dos indígenas em Mato Grosso do Sul. As igrejas evangélicas assumiram a liderança, representando 45,2% dos indígenas que declararam religião, com 42.444 adeptos. Este crescimento acompanha a tendência nacional de avanço das igrejas pentecostais e neopentecostais, especialmente em áreas urbanas. A Igreja Católica, historicamente dominante, ficou em segundo lugar com 27,5% (25.830 fiéis). Um dado relevante é o alto número de indígenas sem religião declarada (20,9%), superando a média nacional. As tradições indígenas, apesar da riqueza cultural de etnias como Guarani-Kaiowá, Terena e Kadiwéu, reúnem apenas 1.969 pessoas. O Censo 2022 aprimorou a coleta de dados sobre religiosidade indígena, buscando registrar as diversas expressões de espiritualidade, incluindo rituais e práticas específicas de cada etnia. A metodologia adaptada visa compreender a complexidade das crenças indígenas, indo além da simples afiliação religiosa.
No Estado, as denominações evangélicas lideram o cenário religioso, com 42.444 adeptos, representando cerca de 45,2% da população que declarou sua religião, em um universo de 93.879 pessoas indígenas.
A predominância é feminina, com 23.053 mulheres contra 19.391 homens. Esse crescimento acompanha uma tendência nacional, em que igrejas pentecostais e neopentecostais avançam especialmente em áreas urbanas, medida inclusive pelo IBGE.
Vale lembrar que no País, o catolicismo caiu de 65,1% em 2010 para 56,7% em 2022, enquanto evangélicos subiram de 21,6% para 26,9% no mesmo período.
Em 2023, o Campo Grande News reportou a atuação da ONG (Organização Não Governamental) evangélica Missão Caiuá, ligada à Igreja Presbiteriana, e com sede em Dourados (a 251 km de Campo Grande).
Base católica — A Igreja Católica Apostólica Romana aparece em segundo lugar no Estado, com 25.830 fiéis indígenas, ou 27,5% do total de declarantes. A distribuição por gênero é equilibrada, com 12.841 homens e 12.989 mulheres.
No ranking nacional de filiação religiosa, Mato Grosso do Sul ocupa a sétima posição entre os estados com maior número de católicos, ficando atrás de Amazonas, Bahia, Pernambuco, Ceará, Roraima e Pará.
Por outro lado, no segmento evangélico, MS é o terceiro estado com maior número de seguidores no País, atrás apenas de Amazonas e Bahia — que têm mais indígenas no geral.
A alta proporção de evangélicos em relação à população total do Estado (45,2%) supera inclusive a média nacional.
Apesar da histórica influência do catolicismo no Brasil, marcada desde a colonização e pela catequização — muitas vezes forçada — de indígenas, o Estado tem apresentado uma retração relativa dessa religião, fenômeno que também é observado em outras regiões.
Outro dado relevante é o alto número de indígenas que se declararam sem religião: 19.639, o que representa 20,9% do total em Mato Grosso do Sul, índice acima da média nacional. Entre elas, há predominância masculina (10.367 homens contra 9.272 mulheres).
As minorias religiosas também aparecem nas estatísticas, embora em números menores. O espiritismo conta com 507 adeptos, distribuídos de forma quase equilibrada entre homens (258) e mulheres (249).
Já as religiões afro-brasileiras, Umbanda e Candomblé, somam 603 seguidores, com maioria feminina (363 mulheres).
Tradições indígenas — As tradições indígenas reúnem 1.969 pessoas, com leve predominância feminina (1.000 mulheres).
Nesse aspecto, Mato Grosso do Sul ocupa a 14ª posição no país, com 1.969 pessoas que se declaram adeptas dessas práticas. Esse número é menor do que em vários estados com populações indígenas inferiores.
Vale ressaltar que, conforme a própria pesquisa, o Estado abriga povos como os Guarani-Kaiowá, Terena e Kadiwéu, que preservam suas tradições espirituais.
Neste ano, o Censo 2022 aprimorou a forma de captar informações sobre a religiosidade nas Terras Indígenas e agrupamentos indígenas. Enquanto a pergunta geral era “Qual é sua religião ou culto?”, para as populações indígenas a questão foi adaptada para “Qual a sua crença, ritual indígena ou religião?”, buscando registrar melhor as diversas expressões da espiritualidade indígena, incluindo rituais, festas, danças e práticas específicas de cada etnia.
Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, explica que essa adaptação permite um registro mais aprofundado das crenças e rituais indígenas, contemplando práticas específicas, como o ritual Yrerua dos Uru Eu Wau Wau.
"As diversas expressões da religiosidade indígena foram reunidas em complexos rituais organizados por etnia ou povo praticante, permitindo assim um registro de crenças e rituais indígenas mais aprofundado", diz.
Por fim, os dados do Censo mostram ainda a existência de 87 indígenas que não declararam religião e 73 que afirmaram não saber sua religião, revelando algumas lacunas na pesquisa ou um desinteresse em se associar a instituições religiosas.
No Brasil, entre 2010 e 2022, o número de pessoas que se declararam sem religião aumentou de 7,9% para 9,3%.