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Cidades

Marcada por mortes, comunidade sente falta de quem não vai comemorar demarcação

Segundo uma moradora da comunidade, muitas famílias que perderam seus parentes se emocionaram com a notícia

Por Judson Marinho | 19/11/2025 18:34
Marcada por mortes, comunidade sente falta de quem não vai comemorar demarcação
Visita técnica do Tribunal de Justiça Federal da 3ª Região a terra indígena de Paranhos que ocorreu em junho (Foto: Divulgação / TRF)

Há anos lutando pela demarcação de suas terras, o povo Guarani Ñandeva, da cidade de Paranhos, comemorou o anúncio do MPI (Ministério dos Povos Indígenas), que oficializou a finalização do processo demarcatório, declarando a Terra Indígena Ypo’i/Triunfo.

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O povo Guarani Ñandeva, de Paranhos, celebrou a demarcação da Terra Indígena Ypo’i/Triunfo, anunciada pelo Ministério dos Povos Indígenas durante a COP30. A área, de 19.756 hectares, foi reivindicada há mais de 20 anos e abriga cerca de 869 indígenas. A comunidade enfrentou perdas e conflitos, incluindo assassinatos de líderes como Jenivaldo e Rolindo Vera, em 2009. A demarcação, embora um marco, ainda requer homologação e registro para garantir os direitos territoriais.

Professora na educação infantil da cidade de Paranhos, a indígena Ypo’i, Holanda Veiga, diz que a reação da comunidade foi de muita emoção. "Muitas famílias se emocionaram com a notícia, porque ao longo dos anos perderam seus parentes que agora não podem mais comemorar conosco essa maravilhosa notícia", descreve Holanda.

O anúncio ocorreu durante a realização da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), nesta segunda-feira (17), junto com o pacote de processos concluídos anunciado pelo MPI.

A área da TI (Terra Indígena) Ypo’i/Triunfo foi delimitada em 2016 e é reivindicada há mais de 20 anos. De acordo com informações da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), a Terra Indígena Ypo’i/Triunfo possui 19.756 hectares. Mesmo em condições adversas, cerca de 869 Guarani Ñandeva nunca deixaram de acessar a área.

A indígena da comunidade também relembrou a dor da perda com o assassinato de dois professores Guarani, Jenivaldo Vera e Rolindo Vera, que desapareceram em 2009 durante um conflito reivindicatório da terra indígena.

"Eles foram assassinados pelos pistoleiros da fazenda que sobrepunha o nosso tekoha, a partir daí, começou a luta dos Guarani Ñandeva do tekoha ypo’i/Triunfo, buscando justiça pelo assassinato dos professores e pela demarcação de nosso território".

Holanda relata que, ao longo dos anos, enquanto o processo demarcatório não era finalizado, muitos indígenas da comunidade perderam outros parentes por conta de disputa territorial.

"Desde a permanência em nosso tekoha, perdemos vários outros parentes, como Teodoro Ricarte, que foi assassinado enquanto se deslocava pelo caminho entre o Ypo’i e a fazenda. Quando fomos ameaçados por uma reintegração de posse, um jovem se enforcou porque não queria voltar para a reserva de onde saímos".

Marcada por mortes, comunidade sente falta de quem não vai comemorar demarcação
Casas da Comunidade indígena no território reivinidcado da TI Ypo’i-Triunfo (Foto: Divulgação / Justiça Federal da 3ª Região)

Um dos casos mais recentes relatados por Holanda aconteceu há dois anos: um jovem de 24 anos foi morto e deixou dois filhos pequenos. A comunidade suspeita que o acidente foi proposital e, até hoje, não se sabe quem foi o culpado.

Com todos esses acontecimentos, a notícia da declaração de posse chegou à comunidade de forma emocionante. Mesmo em comemoração, os Guarani Ñandeva também relembraram que foram tiradas as vidas de vários parentes para que a terra indígena e os direitos da comunidade fossem reconhecidos.

Nas redes sociais, a aldeia Pirajuy, localizada na região de Paranhos, também manifestou o mesmo sentimento pelo qual passa o povo da TI Ypo’i. "Genivaldo e Rolindo Vera vivem na memória e em cada pedaço desta terra. Foram professores, guerreiros e sementes de resistência. Eles não estão aqui para ver a vitória, mas a vitória é deles; seus nomes seguem vivos em nós."

"Continuaremos lutando e rezando junto com os nossos remadores e rezadoras para que o resto dos nossos direitos seja cumprido. A nossa luta ainda não acabou, ainda precisamos da demarcação física de nosso território, da homologação e do registro. Vamos lutar por isso", finalizou Holanda.