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Cidades

Dificuldade de prender chefões é "gargalo" do combate ao crime organizado

Eles alegam que as prisões ainda são dos chamados "mulas", sem chegar aos líderes dos grupos criminosos

Leonardo Rocha e Aline dos Santos | 20/04/2018 12:43
Evento está ocorrendo no Fórum da Justiça Federal em Campo Grande (Foto: Saul Schramm)
Evento está ocorrendo no Fórum da Justiça Federal em Campo Grande (Foto: Saul Schramm)

Os juízes e autoridades que falaram sobre o combate ao tráfico de drogas e armas na região de fronteira, durante o seminário organizado pela Justiça Federal, destacaram que estes crimes são os mais utilizados para lavagem de dinheiro e que as prisões ainda são dos chamadas “mulas” e não chegam aos comandantes dos grupos criminosos.

O juiz estadual José Henrique Kaster Franco ressaltou durante sua palestra, realizada nesta manhã (20), no auditório do Fórum da Justiça Federal em Campo Grande, que a matéria-prima da lavagem de dinheiro continua sendo o tráfico de drogas, armas e contrabando. Mato Grosso do Sul entra neste contexto pela fronteira com o Paraguai e Bolívia.

“Trabalho com o tráfico há muitos anos, infelizmente é como 'enxugar gelo', pois se coloca muitas pessoas na cadeia, mas o crime parece que aumenta cada vez mais. Quem acaba preso ainda são os 'mulas', que são os pequenos, a mão de obra barata do tráfico”, disse o magistrado.

Ele ainda destaca que chegando na prisão, os presos do tráfico acabam se aliando a facções criminosas, como o Comando Vermelho e PCC (Primeiro Comando da Capital). “Não se chega aos comandantes, quem manda no tráfico nunca vai para cadeia, eles estão em gabinetes de computadores, lavando o dinheiro no mundo todo”.

Franco ainda citou a “migração” do tráfico por países como Bolívia, Colômbia e México e que este crime já é a principal “renda” das facções criminosas. Também denunciou que no contrabando de cigarros, existe “facilitação” para entrada dos produtos. “Alguns policiais estão sendo pagos para deixar (cigarros) passar”.

Ex-superintendente da Polícia Federal, Edgar Marcon, também falou sobre tráfico de drogas (Foto: Saul Schramm)
Ex-superintendente da Polícia Federal, Edgar Marcon, também falou sobre tráfico de drogas (Foto: Saul Schramm)

Parceria – Já o ex-superintendente da Polícia Federal, Edgar Marcon, explicou que é preciso existir uma parceria entre os países vizinhos para combater e erradicar lavouras de produção de drogas. Ele citou que só com o Paraguai deveria existir cinco ações no ano neste sentido. “Ano passado foram duas (ações), uma em março e outra em outubro, mas esta última já não era mais a safra”.

Também revelou que o Paraguai tem dois helicópteros para fazer este monitoramento, mas que um está em manutenção e o outro caiu durante operação. “Eu tentei articular um acordo com as Forças Armadas do Brasil, mas por questões burocráticas não foi possível”.

Marcon defende que além dos investimentos em inteligência, deve focar na polícia ostensiva na região de fronteira. Ainda lembrou que no final da década de 80 se comemorava a apreensão de 20 kg de maconha e que sequer tinha de cocaína. “O principal era contrabando de café, soja e wisk”.

Também destacou que a expansão (tráfico) tem a influência das ações das facções como Comando Vermelho e depois PCC. “Tomaram controle da produção e transporte”.

Evento – O Seminário sobre Crimes de Fronteira e o Combate à Lavagem de Dinheiro começou ontem (19) e segue com palestras e discussões até o final da tarde desta sexta-feira (20). O evento é voltado para juízes, advogados, estudantes e demais interessados nestes temas.

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