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Cidades

Calor histórico faz população sentir na pele efeitos do desmatamento

Lidiane Kober | 17/10/2014 17:21
Prédios tomam conta de área verde e o resultado são temperaturas extremas (Foto: Marcos Ermínio)
Prédios tomam conta de área verde e o resultado são temperaturas extremas (Foto: Marcos Ermínio)

Os dias angustiantes de calor histórico e baixa umidade estão fazendo a população sentir na pele os efeitos da ação humana na natureza. Diante das temperaturas recordes e dos fenômenos climáticos, muitos céticos estão reavaliando valores e passando a acreditar em alertas de ambientalistas. Os dados superlativos até surpreendem meteorologistas, que cogitam estudos para esclarecer a onda de calor, sem chuva em pleno início da primavera.

“É uma situação atípica que precisará ser avaliada com mais cuidado”, disse o meteorologista Natálio Abrão Filho, do Centro Meteorológico da Uniderp/Anhanguera. Segundo ele, é comum registrar as temperaturas mais elevadas do ano em outubro, porém, não é normal uma quinzena de temperaturas recordes, associada à ausência de chuva por tão longo período.

“As chuvas de verão começam no início da primavera, mas esse ano não começou”, estranhou Natálio. “Nunca ficamos uma quinzena de outubro sem chuva, em 1999, tivemos 12 dias sem chuva, mas as altas temperaturas não foram seguidas”, emendou. Questionado se há um novo fenômeno climático em ação, o meteorologista reforçou que a situação é atípica e merece estudos.

De acordo com ele, uma massa de ar seco parou na região Centro-Oeste do País e impede a vinda de frentes frias ao Estado. “No Sul, que sofre influência das frentes frias da Argentina, está chovendo, mas quando elas chegam no Paraná, a massa de ar seco desvia para o oceano”, explicou. Ao mesmo tempo, o fluxo de vento, responsável por trazer umidade à região, está desviado para o Nordeste do país.

Para Natálio, os fenômenos climáticos são resultado da ação do homem na natureza. “Fatores, como o desmatamento, urbanização, poluição, queimadas, expansão de cidades, contribuem para gerar temperaturas extremas”, avaliou.

Nenos céticos - Diretor-presidente da Ecoa (Ecologia e Ação), André Luiz Siqueira frisa que a discussão da responsabilidade do homem com os fenômenos climáticos é antiga, porém, observa que apenas agora a população começou a deixar o ceticismo de lado, justamente por sentir na pele e “no bolso” os efeitos.

“Sempre houve essa discussão, mas as pessoas estão menos céticas, diante dos são fenômenos climáticos extremos”, comentou. “Antes, pensavam que o debate vinha dos 'eco-chatos', no entanto, os efeitos passaram a arder no bolso, com perdas de safras, e passaram a refletir mais sobre os efeitos da emissão de gases na camada de ozônio”, acrescentou.

Para ele, a prova de que o assunto virou discussão séria é a reação dos próprios poderes constituídos. “Os governos estão lançando programas para proteger o meio ambiente”, ressaltou o diretor-presidente da Ecoa.

Nossa culpa – Como exemplo simples da ação do homem na natureza e suas consequências, André Luiz cita a supressão vegetal. “Campo Grande poderia sofrer menos efeitos se tivesse mais planejamento, se áreas verdes fossem mais conservadas”, disse. “Para sentir o efeito disso, basta ir do Centro da Capital ao Parque dos Poderes para perceber a diferença de temperatura em áreas sem vegetação”, completou.

Ele enfatiza ainda que é válido o trabalho de “formiguinha”, com cada um fazendo a sua parte. “Temos que prestar atenção ao uso das áreas verdes, elas não podem se restringir só aos parques. É preciso conhecer nossas leis e cobrar a efetivação delas”, defendeu. “Também devemos respeitá-las e, por exemplo, não construir mais de 80% da área de nossa casa sem permeabilização e fazer a coleta seletiva do lixo acontecer”, finalizou.

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