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Cidades

Campanha ajuda indígenas a sobreviverem às chuvas que levaram "tudo" que tinham

Kurussu Ambá foi arrasada pelo temporal da última semana e ativistas de Dourados e Campo Grande tentam arrecadar lonas, telhado de amianto e alimentos em área que já foi reconhecida como tradicionalmente indígena

Izabela Sanchez | 23/10/2017 19:10
Kurussu Ambá (Divulgação/Cimi)
Kurussu Ambá (Divulgação/Cimi)

Arrasado pelo 'temporal' que atravessou o estado na última semana, o tekoha (lugar sagrado), Kurussu Ambá, em Coronel Sapucaia, a 400 km de Campo Grande, viveu piora na garantia dos direitos humanos. O território já foi reconhecido perante a Funai (Fundação Nacional do Índio) e MPF (Ministério Público Federal) como TI (Terra Indígena) dos Guaranis e Kaiowás e Guaranis Nhandevas, mas choca 'autoridades' do Brasil e do mundo pela situação degradante de fome. Agora, uma nova campanha de arrecadação tenta reverter esse cenário.

Ativistas de Dourados e da Capital pedem ajuda para levar lonas, telhado de amianto e alimentos à cerca de 30 famílias que perderam tudo depois que as chuvas e vendavais passaram pela região. A área indígena ainda não foi demarcada, mas é um dos territórios alvo de TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre a Funai e o MPF em 2007, e acumula anos de atraso na continuação do processo demarcatório.

Situação de emergência - Militante do movimento de mulheres em Dourados, Manuela Nicodemos explica que o tekoha é formado por três acampamentos. As chuvas, contou, levaram o pouco que os indígenas possuíam para permanecerem na terra ocupada. À reportagem, Manuela chamou a campanha de emergencial.

"Eles vivem em uma área de retomada [ocupação sem homologação da terra]. Está sem estrutura porque quando eles ocupam uma determinada terra fica mais suscetível à uma série de vulnerabilidades. No sábado (21) à noite teve um temporal, e recebi um ligação contando que precisavam de ajuda urgente, porque todas as casas ficaram destelhadas".

Os acampamentos atingidos foram o 2 e o 3, conforme explicou. O acampamento 1 e o 2 foram considerados de posse indígena plena, pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas 4 lideranças indígenas já foram assassinadas em ataques.

Um dos acampamentos em Kurussu Ambá (Divulgação/Coletivo Terra Vermelha)
Um dos acampamentos em Kurussu Ambá (Divulgação/Coletivo Terra Vermelha)

Movimentos organizados podem ajudar - Conforme explicou Manuela, a ajuda é pedida à população, mas também aos movimentos organizados. "Estamos precisando de ajuda e estamos buscando movimentos, sindicatos, Marcha Mundial das Mulheres e com o Coletivo Terra Vermelha. Aí elas estão dando uma força na divulgação da campanha", relatou.

As prioridades são lonas, telhados de amianto (também conhecidos como eternite), e alimentos como óleo, arroz, sal, macarrão e feijão, não perecíveis.

Militante de um coletivo que auxilia comunidades indígenas há anos, o Coletivo Terra Vermelha, a advogada e antropóloga Priscila Anzoategui, 35, comentou que o grupo já planejava ir até o local em novembro. Isso porque, relatou, a situação diária sempre pede auxílio.

"Na verdade a gente já estava programando uma viagem em novembro para levar roupas e alimentos, e a gente fez um dia de ação para tentar arrecadar material escolar para escolinha. A gente conseguiu pouca doação, e agora teve essa questão da tempestade", comentou.

Priscila, que já visitou o local, relata que a situação de perda total de direitos humanos convive com o sagrado da cultura indígena. No acampamento 2, por exemplo, os Guarani e Kaiowá mantêm viva a cultura tradicional com uma casa de reza, espaço improvisado, mas sagrado para a etnia.

"Eu fui em Kurussu Ambá 3, é a situação mais calamitosa, não tem onde pegar água, sempre estão passando fome, e é onde tem mais ataques de pistoleiros. O coletivo sempre ajuda o 3. A Emília Leal [artista e uma das integrantes do Coletivo] doou um quadro que chama 'Meus Parentes' para fazer uma rifa e arrecadar dinheiro para outras comunidades, a exemplo de Apikay [comunidade que vive às margens de uma rodovia em Dourados]".

A reportagem tentou contato com alguns dos moradores do território tradicional, mas a localidade dos acampamentos torna a comunicação ainda mais difícil. Até a conclusão da matéria, não foi possível conversar com os indígenas.

Como posso ajudar? - Os movimentos organizados também são formados pelos Guaranis e Kaiowás e Guaranis e Nhandevas, além de utilizarem dos próprios recursos para comprarem alimentos e estrutura necessária para levarem até o local onde serão reerguidas as moradias. Para ajudar você pode acionar os números (67) 9 8208-2693 ou (67) 9 9667-9160. Também é possível depositar quantias em dinheiro: Conta Corrente 11414-6 e Agência 0743-9, Banco do Brasil.

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