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Capital

Após 2 roubos em 4 dias, medo faz clientes e funcionários mudarem rotina

Nadyenka Castro e Paula Maciulevicius | 16/07/2011 11:11

Assaltos começaram a acontecer nos últimos 2 anos

Com medo, funcionários faltam e apresentam atestado médico. (Foto: João Garrigó)
Com medo, funcionários faltam e apresentam atestado médico. (Foto: João Garrigó)

“ E o medo que a gente passa? Assalto em supermercado está demais. A gente entrega o dinheiro, mas demora [para abrir a gaveta] por causa do nervosismo”, desabafa uma funcionária de um supermercado localizado no bairro Universitária, em Campo Grande, assaltado duas vezes em quatro dias, nesta semana.

Depois disso, todos no local estão com medo e houve mudanças na rotina, inclusive na de clientes.

O desabafo da jovem reflete o pânico que muitos trabalhadores passam quando se deparam, em meio ao ganha pão diário, com uma arma de fogo apontada para si. O medo é de ser atingido por um tiro.

Para eles, a única forma de preservar a própria vida é entregar o que o bandido pede sem qualquer reação. “Se a gente não reage eles já apontam a arma na nossa cabeça, imagina se reagir”, diz outro funcionário do mesmo comércio.

Ele estava no local nos dois assaltos ocorridos nesta semana. No primeiro, por volta das 19 horas de segunda-feira, um homem com capacete escondendo o rosto apontou revólver para a funcionária e a obrigou a entregar dinheiro, fugindo em seguida.

Já o roubo de quinta-feira, às 16h45min, foi muito mais violento. “Eles estavam tão nervosos que não viram que eu estava falando ao celular”, diz um dos reféns.

Os bandidos chegaram ao local em duas Hondas Titan. Antes disso, as imagens feitas pelas câmeras de segurança mostram que eles passaram em frente e observaram a posição dos equipamentos.

Os passageiros das motocicletas desceram e um deles rendeu o segurança, obrigando-o a deitar no chão e ainda desferiu diversos chutes. Em seguida, foram para os caixas e para o balcão onde estava o gerente, o qual falava ao celular e até pediu para a pessoa do outro lado da linha avisar a Polícia do crime.

Além de agredir o segurança, os assaltantes puxaram o cabelo de outra funcionária e colocaram o revólver no meio da testa do gerente, o qual não achava o crachá que abre as gavetas. Segundo a vítima, o autor dizia. “Você está brincando comigo, vou meter um tiro em você”.

Só depois que o gerente abriu as gavetas de outra maneira é que os marginais foram embora. Há suspeitas que um deles seja o mesmo que assaltou o local três dias antes.

Pânico- Após a ação que durou de quatro a cinco minutos, o mercado fechou as portas por alguns minutos porque as funcionárias estavam chorando, em pânico.

Depois disso, duas apresentaram atestado médico - uma de sete dias e outra de dois - e várias já faltaram ao serviço. “Ontem só abri dois caixas porque não tinha funcionário”, conta o responsável pelo estabelecimento, que pensou que fosse acontecer outro roubo nessa sexta-feira.

“Eu vi os suspeitos de moto e quando cheguei perto eles correram. Poderia ter sido o terceiro”.

E o medo de ser novamente vítima está estampado no rosto dos trabalhadores. Até mesmo daqueles que não presenciaram os roubos. Enquanto a reportagem do Campo Grande News conversava com eles, chegou um cliente em uma moto e todos ficaram apreensivos.

“A gente vê um movimento diferente e já fica apavorada”, conta outra trabalhadora.“Todo mundo trabalha com o coração na mão. Eu fico assim por mim e pelo pessoal da tarde”, diz a jovem que fez o desabafo, referindo-se ao fato de que os assaltos acontecem sempre entre a tarde e a noite.

E por medo de presenciar a violência, a massoterapeuta Rosângela Souza, 49 anos, agora, só vai as compras no período matutino. “Lógico que dá medo, principalmente para quem tem criança. Vai que uma é atingida [por tiro]”, declara.

Rosângela mudou a rotina das idas ao mercado. (Foto: João Garrigó)
Rosângela mudou a rotina das idas ao mercado. (Foto: João Garrigó)

Ela conta que, devido ao medo, faz as compras o mais rápido possível. A mudança na rotina de Rosangela é o exemplo do que aconteceu com outros clientes, conforme os funcionários.

Eles dizem que muitos passaram a ir pela manhã ao comércio, são rápidos e ao passarem pelo caixa os abençoam. “Eles fazem compra na pressa e falam fica com Deus; boa sorte para vocês”.

Para os trabalhadores e moradores do bairro, falta mais policiamento por lá. “A gente só vê polícia quando acontece alguma coisa”, disse uma deles.

Criminalidade - “ Hoje eles [marginais] roubam R$ 4 mil e pagam R$ 1 mil e já estão solto. A gente que é decente é quem está preso”, indigna-se outra jovem que trabalha no mercado.

A declaração da mulher reflete a realidade. Muitos saem da prisão e voltam a praticar crimes. O gerente do mercado conta que em sete anos trabalhando no comércio, em cinco não houve nenhum roubo, entretanto, nos últimos dois anos, foram vários.

Entre eles, um em abril de 2010. O mercado foi assaltado pela mesma quadrilha que invadiu o Fort Atacadista, na avenida Norte-Sul. Um dos autores era namorado de uma funcionária.

Imagens- O flagrante dos roubos feito pelas câmeras de segurança não foram disponibilizados para a reportagem. As vítimas temem que outros bandidos possam assistir ao vídeo e com isso ‘aprender’ mais sobre roubos e descobrir o posicionamento dos equipamentos.

Mais segurança- Nessa sexta-feira, comerciantes se reuniram com o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Wantuir Jacini, para tentar traçar uma estratégia de segurança para evitar mais assaltos.

Nos últimos dias vários mercados foram alvo da ação de ladrões. Em um deles, no Taveirópolis, um policial militar em folga viu a o crime e atirou. Ele matou o bandido e o gerente do local. O adolescente infrator foi apreendido.

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