Após perder irmã e mãe com covid, Dalva implora por UTI para pai intubado em UPA
Família perdeu ação judicial, recorreu e espera conseguir vaga a tempo para idoso de 72 anos
Sem conseguir viver o luto da irmã e da mãe, a assistente de departamento pessoal Dalvanice Rocha Amorim, de 43 anos, corre contra o tempo para transferir o pai intubado na UPA Universitário para uma UTI de hospital. Até na Justiça a filha já entrou e teve a negativa do juiz que disse que assim como ela, outras tantas famílias estão na fila à espera de um leito para tratamento da covid-19.
No vídeo acima, Dalvanice contextualiza em 2 minutos e 15 segundos o que tem passado na última semana. A primeira despedida foi a da irmã, Zeene Rocha Amorim, enterrada na quarta-feira, dia 31. No sábado, a mãe Daurea Rocha Amorim também partiu, levada pela covid. Desde então, as forças dela se concentraram em encontrar para o pai uma vaga em hospital, para que seu Eduardo, o paraibano de bom coração, tenha todo o suporte necessário.
Todos que moravam na casa de Eduardo e Daurea pegaram covid. Dalva, como assim se apresenta a filha que conversa com a imprensa, diz que não sabe como o vírus chegou, já que estavam tomando todos os cuidados possíveis. Ela mesmo chegou a fazer o exame duas vezes, e, por "sorte", deu negativo.

A história de seu Eduardo com a covid começa no domingo, dia 28 de março, quando ele foi encaminhado pela família para a UPA do Tiradentes, passou dois dias, até ser intubado e transferido para a UPA do Universitário, onde está até hoje.
"Lá o médico pediu transferência para poder verificar se já pode fazer o desmame dos remédios que está prejudicando os rins dele. Ele também precisa fazer ressonância e tomografia, e ali, naquele posto, não tem como fazer", conta.
No último boletim médico, já veio a informação de que seu Eduardo vai precisar de hemodiálise, recurso que também não é feito na UPA.
A família entrou na Justiça, via Defensoria Pública, para tentar uma vaga. "O juiz disse para aguardar na fila de regulação que tem muita gente necessitando no mesmo caso e tem poucas vagas nos hospitais", repete o que leu.
Motorista a vida toda, Eduardo é daqueles que a gente imagina ter o sotaque nordestino arrastado, e que a família não vê a hora de trazê-lo para casa vivo, e não num caixão sem despedida.
"Eu quero um tratamento digno para ele voltar pra casa, pelo menos ele, já que minha mãe e irmã não tiveram a mesma sorte", implora a filha. "Meu pai tem 72 anos, trabalhou mais de 50 pagando impostos e quando mais necessita, vão esperar ele morrer para que façam alguma coisa?" questiona.
Se pudesse falar, a filha acredita que Eduardo Nunes de Amorim se apresentaria assim "motorista de carreta que depois trocou para caminhão e carregou muita areia para construir prédios em Campo Grande, inclusive o do Shopping Campo Grande, que ele tem orgulho de dizer que ajudou a construir".
Mesmo aposentado, seu Eduardo continuava a fazer pequenos fretes para agregar a renda da família, intercalando com a rocinha onde planta mandioca, além de usar o tempo que tinha para caminhar, correr e pedalar.
"Quando ele aposentou, comprou uma caminhonete antiga, mas vive mais fazendo fiado do que cobrando, porque tem coração bom".
O Campo Grande News entrou em contato com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) que informou que "o paciente encontra-se em processo de regulação e assim que houver disponibilidade de vagas ele será transferido". A Secretaria lembra que as unidades de pronto atendimento foram equipadas para atender com segurança os pacientes com covid.