Após suicídio de dois estudantes, IFMS terá reunião de emergência
Casos ocorreram num intervalo de pouco mais de um mês; houve protesto entre um e outro
Dois adolescentes que estudavam no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande, tiraram a própria vida este ano. O primeiro caso ocorreu em 19 de setembro e o segundo ocorreu na terça-feira (4), um intervalo de apenas 46 dias.
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O IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) convocou reunião de emergência após o suicídio de dois estudantes em um intervalo de 46 dias. A instituição decretou luto oficial de três dias e planeja elaborar um protocolo de atendimento qualificado aos alunos, com foco em prevenção e acolhimento. Os estudantes já haviam protestado por mais ações relacionadas à saúde mental na instituição. Atualmente, o campus conta com apenas uma psicóloga para atendimento inicial, sendo os casos posteriormente encaminhados para profissionais externos. Especialistas apontam que pressões acadêmicas, familiares e sociais podem contribuir para o sofrimento mental dos adolescentes.
As mortes precoces não só assustam e causam tristeza, mas também revoltam, já que os estudantes chegaram a protestar por mais ações relacionadas à saúde mental na instituição. Dezenas usaram cartazes para pedir escuta e mais estrutura para acompanhamento psicológico em 10 de outubro deste ano.
A unidade decretou luto oficial de três dias devido ao último caso e reabrirá na segunda-feira (10). Segundo a assessoria de imprensa do IFMS, uma reunião de emergência foi convocada para esta quinta-feira (6) com o objetivo de discutir cuidados para os estudantes e criar um plano.
"Diante desse cenário, a Reitoria e a gestão do Campus Campo Grande iniciaram a elaboração conjunta de um plano institucional de saúde mental dos estudantes e de um protocolo de atendimento qualificado aos estudantes, com foco na prevenção, no acolhimento e no encaminhamento adequado aos serviços especializados da rede pública de saúde. Para tratar do tema, foi convocada reunião de emergência para esta quinta-feira, 6 de novembro, com a participação de diferentes setores da instituição", diz em nota.
Psicólogos - Nesta manhã, a reportagem encontrou um estudante do 2º ano surpreso com a suspensão das aulas, já na portaria do IFMS. Ele sabia do suicídio mais recente porque recebeu uma nota de pesar por mensagem de WhatsApp, mas não olhou o aviso sobre o luto oficial que chegou no e-mail.
O adolescente comentou sobre o atendimento psicológico disponível atualmente. "Tem uma psicóloga para quem nos encaminham quando fazemos 'coisa errada', geralmente. Ela só faz o primeiro atendimento e depois encaminham para outro psicólogo, por fora", diz.
Na mesma nota em que cita a reunião, o IFMS confirma que "atualmente, o atendimento aos estudantes ocorre a partir de um fluxo de acolhimento inicial e encaminhamento para atendimento especializado quando necessário".
A expectativa é por melhorias. "Esse fluxo será revisto e aprimorado para garantir maior efetividade, articulação e clareza de procedimentos, sempre pautado pelo sigilo, pelo respeito ao estudante e pela integração com serviços adequados à complexidade das demandas", acrescenta.
Redes sociais - Estudantes têm postado no Instagram textos de pesar e indignação. Nos stories, falam da idade de ingresso na instituição e citam o despreparo de alguns profissionais que trabalham no campus.
Pai de uma aluna que conversou com o Campo Grande News, mas preferiu não se identificar, desabafou sobre o caso e tentou se colocar no lugar de quem vive a adolescência e a expectativa de entrar numa faculdade. "Imagina você com 13, 14 anos, com a pressão de uma universidade federal", falou.
Assuntos delicados: adolescência e suicídio - Psicóloga especialista em atendimento a crianças e adolescentes, que faz atendimento social em Campo Grande, Beatriz Helena de Oliveira Gonçalves percebe que não só a pressão de fazer um curso universitário, mas também a de outros lados geram sofrimento e desencadeiam fins trágicos em alguns casos.
"Pressão da família, pressão do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio, de dentro da escola... São múltiplos fatores. O bullying e a comparação com as vidas que vemos na internet são outros muito importantes", começa.
Com tudo acontecendo muito rápido no mundo de hoje, os adolescentes sentem ainda a pressão do imediatismo. "Tendem a se comparar muito nessa fase, ainda mais estando nas redes sociais. Gostariam que as coisas acontecessem da noite para o dia e têm pressa de poder fazer isso e aquilo. Mas não é assim que funciona. Daí é que surgem as tentativas", ressalta.
Quais são os sinais de alerta na adolescência? Segundo Beatriz, os principais são isolamento social, passar muito tempo no celular ou computador e mudanças de comportamento que vão desde grosseria nas conversas com a família e amigos até passar a usar roupas longas quando está muito quente, por exemplo.
A psicóloga defende a presença de mais profissionais da área nas escolas e a formação de todos os funcionários, para que tenham uma visão mais apurada dos sinais de alerta. “Precisamos de mais psicólogos para a escuta e que todos os profissionais treinem um olhar clínico para notá-los”, diz.
Quanto à família e aos amigos que sentem a perda de pessoas queridas, a atenção também é merecida. “Neste momento, é importante que participem de grupos de estudo, de terapia em grupo e de atendimento profissional, para acolhimento e para reforçar que não é culpa deles. É uma dor que não será compreendida e não vai passar imediatamente. O luto terá de ser vivido”, finaliza Beatriz.
Estatísticas - Segundo o painel Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul), o número de suicídios registrados entre janeiro e outubro deste ano, apenas em Campo Grande, somam 65. A reportagem pediu à assessoria de imprensa detalhes sobre a faixa etária e gênero das vítimas, mas não houve retorno até a publicação desta matéria.
Dados do Atlas da Violência, publicação do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que a quantidade registrada em todo o Estado entre 2013 e 2023 vem oscilando. A maior variação ocorreu entre 2022 e 2023, e é de 7%.
Mato Grosso do Sul encerrou 2023 com a segunda maior taxa de suicídio a cada 100 mil habitantes nessa faixa etária. O Amapá ficou na frente.
"É crucial, portanto, implementar políticas públicas que adentrem nos domicílios para orientar as famílias, além de promover intervenções educacionais, com ampliação dos espaços de diálogo. É fundamental ainda reforçar políticas de igualdade e respeito para garantir a saúde física e mental de nossas crianças", recomenda artigo do Atlas da Violência.
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