Borracheiro que se acorrentou a obra queria ampliar renda para quitar dívida
Ele acabou preso ontem, em área que pertence à prefeitura

O borracheiro Renato Cavali Callegaro, 33 anos, que por duas vezes se acorrentou para impedir a demolição da obra levantada na calçada, em frente à casa dele, pretendia aumentar a renda da família com a venda de espetinho no lugar. Com isso, afirma, pretendia quitar a dívida de aluguel atrasado, no valor de R$ 4 mil.
A área, pertencente à prefeitura, fica no cruzamento das avenidas Nasri Siufi a General Carlos Mendonça, no Bairro São Conrado, em Campo Grande. Renato vive com a esposa, de 27 anos, e duas filhas, de 3 e 7 anos. Ele contou que mora no local há 2 anos e 7 meses e para sobreviver montou borracharia, mas de uns tempos para cá, por causa de uma obra na região e interdição da rua, o movimento diminuiu muito. Situação que deixou a família com as contas atrasadas.
Herdado - Segundo o borracheiro, o espaço era usado pelo tio, com uma garaparia montada em 2011, mas desistiu do negócio em outubro do ano passado ao ser roubado. O homem tinha um requerimento junto à prefeitura para usar o espaço e quando saiu da área deixou o documento com o sobrinho.
Depois que a situação financeira começou a apertar, Renato teve a ideia de levantar ali peça de alvenaria para a esposa vender espetinho à noite e ajudar nas despesas.
Aos poucos, ele foi fazendo o cômodo, já havia feito as paredes e colocado as janelas, até que a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) fez a primeira batida e o notificou para deixar o espaço.
Em abril, Renato recebeu a segunda notificação e no outro dia, as equipes foram para demolir a obra. Desesperado, o borracheiro se acorrentou e conseguiu salvar a peça. Mas ontem, numa nova batida da secretária, dessa vez acompanhada pela GCM (Guarda Civil Metropolitana), ele se acorrentou novamente, mas não conseguiu salvar a obra, que foi demolida.
Queria apenas aumentar a renda da família. O dono já pediu a casa. Não tenho para onde ir, minha família mora em bodoquena”, lamentou Renato.
Segundo ele, a Semadur só foi ao local depois de várias denúncias do vizinho, que tem uma loja de material de construção na região. Renato foi levado à delegacia, prestou esclarecimento e foi liberado horas depois.
Nervosa com a situação, a mulher de Renato chegou a entrar na loja do vizinho e quebrar coisas. Ela também foi levada para a delegacia e liberada na sequência.
Conforme Renato, a mulher só fez isso porque quando ela estava sendo preso, a filha do vizinho, dono do depósito de material de construção, debochava da situação. A reportagem tentou falar com o comerciante, mas não conseguiu contato.
Ontem, por meio de nota, a Semadur disse que a área se trata de calçamento público “onde foi constatada a invasão por parte de particular”. Por isso, a pasta abriu um procedimento administrativo para que Renato fosse notificado com prazo para saída do local. Como não houve a saída mesmo com a notificação, “foram tomadas as providências cabíveis ao caso para a resolutividade do mesmo”.