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Capital

Caos na saúde obriga família a comprar até sonda para paciente intubada em UPA

“Só não posso orar para alguém morrer”, diz a filha da paciente, à espera de leito para tratar a doença

Alana Portela | 02/06/2021 18:23
Maria das Dores de Araújo à esquerda ao lado da filha Edilaine Nery de Araújo. (Foto: Arquivo pessoal)
Maria das Dores de Araújo à esquerda ao lado da filha Edilaine Nery de Araújo. (Foto: Arquivo pessoal)

O colapso na rede de saúde em Mato Grosso do Sul fica mais evidente em cada relato das famílias que chega pelo canal Direto das Ruas, do Campo Grande News. As histórias são de desespero, como o que toma conta de Edilaine Nery de Araújo, 40 anos, que já comprou até sonda para a mãe, Maria das Dores de Araújo, 57 anos, intubada com suspeita de covid-19 na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Santa Mônica de Campo Grande.

“Ontem [1° de junho] o médico disse que se não for para um hospital, ela não vai aguentar”, diz Edilaine, aos prantos. Pior do que ouvir que o estado de saúde da mãe é grave, foi ter que lidar com o comentário curto e direto de um dos profissionais da saúde do local.

“Disseram que para surgir uma vaga, alguém tem que morrer. Ouvi isso e chorei, não sei até que ponto ela vai aguentar. Os médicos dizem que não podem fazer nada, só quero uma vaga para que tenha uma chance de tentar sobreviver”.

Sem conseguir conter o choro, a filha relata que a vida da família virou de ponta-cabeça três dias após a mãe tomar a primeira dose da vacina contra covid. “Foi vacinada, estava ansiosa, mas três dias depois apareceram os primeiros sintomas, dor de garganta e coriza, sinais de gripe”.

Dias de agonia - Após três dias de sintoma, dona Maria buscou atendimento na UPA Santa Mônica onde foram receitados anticoagulante e antibiótico. “Comprei uma cartela com dez comprimidos do anticoagulante e dez ampolas para injeção do antibiótico. Na semana passada, ela foi todos os dias na unidade, mas mandavam retornar para casa”, lembra.

No sábado, a mãe de Edilene foi internada. “Estava com saturação baixa. Já de domingo para segunda, quando fomos trocar de acompanhante a entubaram sem avisar. Soube através de um acompanhante de outro paciente”.

Mesmo com a mãe internada no UPA, foi a filha quem levou os medicamentos necessários e afirma que chegou a comprar sondas para uso no aparelho urinário a pedido médico.

“Disseram para levar, comprei duas e entreguei. Depois comprei mais remédios porque o dela estava acabando”, conta a filha.

Edilaine segurando o filho Emanoel ao lado da mãe Maria. (Foto: Arquivo pessoal)
Edilaine segurando o filho Emanoel ao lado da mãe Maria. (Foto: Arquivo pessoal)

Na segunda-feira (31), Edilene conta que a mãe fez teste de covid, mas até agora não teve acesso ao resultado. “Mas, soubemos ontem que o exame de PCR [Proteina C Reativa] está em 390, apontando uma infecção. Preciso ir o posto todos os dias para ter notícias dela”.

A filha relata ainda que dona Maria tem outros problemas de saúde que a colocam quem risco. “Ela é diabética, hipertensa e já teve três AVCs [Acidente Vascular Cerebral] em dez anos”.

Contra o tempo – Na tentativa de conseguir vaga em leito de hospital de Campo Grande, a família recorreu ao Ministério Público e ontem a Justiça concedeu ontem (1º) liminar para transferência. “Acionamos no começo da semana e o juiz determinou que arrumasse uma vaga com extrema urgência devido ao risco de morte, mas até agora nada”.

Resposta- A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que a paciente está sendo atendida com todos os recursos possíveis na rede pública e que está sendo providenciada a vaga em hospital. Segundo a assessoria de imprensa, não faltam materiais básicos na unidade de saúde.

Sobre o medicamento que a família diz ter comprado, a informação prestada é que se trata de medicamento de uso hospitalar, não disponível nas unidades da rede mantida pela prefeitura.

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