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Capital

Com espera de até 14 horas, postos esticam horário e terão equipe móvel

Flávia Lima | 07/01/2016 10:51
Recepção da UPA Vila Almeida estava lotada na manhã desta quarta-feira. (Foto:Fernando Antunes)
Recepção da UPA Vila Almeida estava lotada na manhã desta quarta-feira. (Foto:Fernando Antunes)

A falta de médicos na rede municipal de saúde, agravada entre os meses de dezembro e janeiro, período em que muitos profissionais tiram férias, tem levado a população a esperar até cinco horas por atendimento nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) da Capital. Diante de casos em que a espera por atendimento chega a 14 horas, a Prefeitura promete ampliar o horário em postos e reativar uma equipe móvel.

Na manhã de quarta-feira (6), a equipe do Campo Grande News encontrou a mãe de uma criança de nove meses que chegou a dormir na UPA do Universitário. A mulher esperou 14 horas por um pediatra para a filha, com suspeita de dengue.

Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informa que ampliará o atendimento em seis UBS (Unidade Básica de Saúde), localizadas em regiões que registram maior movimento, como o Tiradentes, Coronel Antonino e Vila Manoel Taveira, que abrange os bairros Santo Amaro, Panamá, Coophatrabalho e Santa Carmélia.

De acordo com a Sesau, os novos horários entram em vigor na próxima segunda-feira (11) e a intenção é manter equipes médicas até às 21 horas nesses postos. Outra medida, que será lançada na sexta-feira (8), é a reativação da unidade móvel de atendimento, que contará com médicos para desafogar o atendimento nas unidades que apresentarem superlotação.

A unidade já foi utilizada na terça-feira (5) em caráter experimental, na UPA da Vila Almeida e na UBS do Bairro Guanandi, que devido a demanda e falta de médicos, receberam o apoio de quatro profissionais.

No entanto, o cenário de caos e longas esperas constatados na rede municipal de saúde deixa a população desconfiada quanto a eficácia das medidas devido ao número escasso de profissionais nas unidades. Ou seja, falta médico na cidade inteira e, pelo menos em tése, algumas horas a mais de plantão e uma equipe volante para a cidade toda seria insuficiente.

Demora e reclamação – A equipe do Campo Grande News verificou nesta semana demora no atendimento e a falta de médicos na UPA da Vila Almeida. Situação que revoltou a dona de casa Maria Balione Arnaldo, que buscava atendimento para o sobrinho de dois anos, que apresentava quadro de vômito e febre.

Moradora no Coophamat, Maria conta que ligou nos postos próximos de sua casa e foi informada que só havia pediatra na Vila Almeida, Universitário 2 e Coronel Antonino. "Isso é um descaso com a população, ter que procurar um posto quiômetros de sua casa", reclama.

A espera de quatro horas também deixou indignada a atendente Ivani Santana, que há dois dias tem ido até a unidade realizar exames para acompanhar o nível de plaquetas no sangue, já que está com suspeita dengue. Nesta quarta-feira ela havia chegado às 7 horas na UPA Vila Almeida e até às 11 horas ainda não tinha passado pelo médico. "Disseram que tem quatro médicos, mas só dois estão chamando. Sem falar que cedo só tinha um", disse.

Também na fila estava a desempregada Andressa Silva e a operadora de caixa Karen Alvarenga, que diz ter ficado sete horas nesta segunda-feira (4) esperando o médico. "O exame não constatou dengue, mas acho que estou com zika porque apareceram muitas manchas no meu corpo e uma coceira forte", afirma Karen.

Sintomas parecidos também apresentava Andressa, que havia chegado às 10h30, mas não esperava ser atendida antes do meio-dia devido ao tamanho da fila. A mãe de Andressa, Jociane Dia da Silva, temia o diagnóstico de zika, já que uma das filhas está grávida. "Quem garante que a outra também não foi picada pelo mosquito", ressalta.

Na UPA do Bairro Universitário, o problema na manhã de quarta-feira era a falta de pediatras. Segundo pais ouvidos pelo Campo Grande News, funcionários da recepção avisaram que à tarde não haveria profissionais para atender as crianças e que eles deveriam retornar à noite, caso não fosse atendidos até às 13 horas.

Entre as mães que aguardavam atendimento para os filhos, estava a autônoma Regiane Alves Medeiros, que pela quinta vez retornava a UPA na tentativa de descobrir a doença da filha de nove meses. Ela conta que a menina começou a passar mal no dia 2 e fez quatro coletas de sangue, porém, como as plaquetas não estão baixas, os médicos ainda tentam descobrir o que aflige a menina.

Devido a falta de pediatras, no sábado ela precisou dormir na UPA com a filha. Moradora no Bairro São Jorge da Lagoa, Regiane diz que chegou à unidade às 19 horas, mas foi atendida apenas às 9h30 de domingo (3). "Meu marido teve que vir cedo trazer mamadeira, senão ela ia ficar com fome", disse.

Também indignada estava a dona de casa Sirlene Rodrigues, que chegou à UPA às 8 horas e até o meio-dia ainda esperava pediatra para o neto Lorenzo, de 1 ano.

Vim domingo e não tinha médico nenhum, tanto que mandaram a gente embora. Agora hoje nem sei que horas vou sair daqui", afirma.

Conforme a assessoria da Sesau, a prefeitura chegou a perder 320 médicos na gestão anterior, do ex-prefeito Gilmar Olarte, quando a categoria deflagrou greve, o que acarretou em uma série de pedidos de exoneração. No entanto, apenas 106 médicos foram contratados no período de 26 de agosto a 20 de dezembro, em caráter emergencial.

Ainda segundo a assessoria, a prefeitura fez um acordo com a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e com a Uniderp (Universidade Para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal) para aproveitar formandos em Medicina que já passaram por residência, para atuar na rede.

Outro fator que contribui com a falta de médicos nesse período do ano, são as férias de alguns profissionais, que acabam defasando o quadro de funcionários das unidades de saúde.

Tendas - Já as tendas do Exército, destinadas a hidratação de pacientes com dengue, estão funcionando normalmente nas UPAs do Universitária 2 e Vila Almeida. Segundo uma enfermeira da Vila Almeida, esta semana apenas uma tenda foi aberta, já que o fluxo de pacientes não está grande. 

No entanto, devido a falta de profissionais, ela disse que, caso o fluxo de pacientes aumente nas tendas, não haverá enfermeiro para cuidar dos pacientes da segunda tenda. 

Como os pacientes só podem ser designados para a tenda após passar pelo médico, as barracas chegam a registrar baixo movimento em alguns momentos do dia, já que o número de médicos na UPA é insuficiente, ocasionando demora no atendimento.

Nas duas tendas do Universitária 2 o atendimento na manhã desta quarta-feira também era tranquilo. Três pessoas tomavam soro no momento em que a equipe do Campo Grande News foi ao local, mas a enfermeira que atendia no local disse que o movimento tem sido grande e chegou a registrar média de 30 atendimentos em apenas uma barraca nesta terça-feira.  

Regiane Alves conta que dormiu na UPA do Universitário e foi atendida apenas depois de 14 horas. (Foto:Fernando Antunes)
Regiane Alves conta que dormiu na UPA do Universitário e foi atendida apenas depois de 14 horas. (Foto:Fernando Antunes)
Sirlene Rodrigues esperava pediatra para o neto de 1 ano, na UPA do Universitário. (Foto:Fernando Antunes).
Sirlene Rodrigues esperava pediatra para o neto de 1 ano, na UPA do Universitário. (Foto:Fernando Antunes).
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