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Capital

Com impeachment e eleição, pichar vira ato de "protesto", mas desagrada

Luana Rodrigues | 05/10/2016 09:49
Pichações também tem cunho local. (Foto: Fernando Antunes)
Pichações também tem cunho local. (Foto: Fernando Antunes)
Obra do Aquário do Pantanal é considerada "Marco  da corrupção" por parte de pichadores. (Foto: Fernando Antunes)
Obra do Aquário do Pantanal é considerada "Marco da corrupção" por parte de pichadores. (Foto: Fernando Antunes)
Pichação pertinente no tapume da obra (Foto: Fernando Antunes)
Pichação pertinente no tapume da obra (Foto: Fernando Antunes)

“Fora, Dilma”, “fora, Temer”, “fora, Cunha”, “fora, corrupção”. As frases que viraram ícones nos últimos tempos, além de contarem um pouco da história do Brasil, também estampam muros, monumentos e fachadas em Campo Grande.

Com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e as eleições 2016, pichações como essas, com mensagens mais políticas, se tornaram comuns nas paredes da cidade.

Uma diferença das "pichações políticas" são os locais onde são pintadas. Os pichadores "profissionais" normalmente escrevem em lugares mais altos, como no topo de prédios, para dificultar que as letras sejam apagadas. Já os “politizados”, escrevem em lugares realmente visíveis, para escancarar a mensagem.

No pontilhão da Avenida Costa e Silva, em frente a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a mensagem de “Fora Temer” podia ser vista de longe até na semana passada, mas a pichação foi encoberta. E os manifestos não são apenas de cunho nacional, também há protestos contra política local como “Quem é o Bernal no jogo do bixo”.

Já nos tapumes do Aquário do Pantanal, que nunca fica pronto - com orçamento inflado em pelo menos R$ 150 milhões desde seu lançamento, em 2011 - o texto é sobre “marco da corrupção”. E nem os portões de algumas residências ficam livres de “protestos”.

E nem os portões de algumas residências ficam livres de “protestos” (Foto: Fernando Antunes)
E nem os portões de algumas residências ficam livres de “protestos” (Foto: Fernando Antunes)

Membro de um grupo de pichadores, um jovem de 23 anos, que pediu para não ser identificado, disse ao Campo Grande News que os “pichadores políticos” são realmente distintos dos demais. “Eles são muito anônimos, um pessoal sistemático mesmo. A maioria é acadêmico, não são maloqueiros como a maioria de nós, que picha por brincadeira. São politizados, entendedores da política”, explicou.

Para o cientista político Tito Machado, a manifestação a partir de pichações, apesar de agressiva e dispensável, não deixa de ser um ato político, mostra que temos uma democracia frágil.

“As manifestações políticas de qualquer natureza são instrumentos da democracia, e o seu tamanho e sua conduta terminam ditando os conceitos e a legitimidade do processo democrático existente. Ou seja, quão mais organizada se constituir as manifestações e menor se apresentar as formas repressivas, mais legitimo e consistente é o processo democrático presente. Assim como o contrário legitima a fragilidade da democracia”, considera.

Mesmo “diferentes” e “politizados”, os responsáveis pelas pichações sabem que o que fazem é crime, já que é considerada vandalismo e crime ambiental, nos termos do artigo 65 da Lei 9.605/98, que estipula pena de detenção de três meses a um ano, e multa, para quem pichar, grafitar ou por qualquer meio conspurcar edificação ou monumento urbano.

“Por isso eles não aparecem, é difícil até pra gente que tem grupos saber quem eles são. Para eles qualquer um que não seja do bando deles é uma ameaça. Rola um medo, porque se a polícia pegar eles não vai ver como protesto, acha que é vandalismo, coisa de vagabundo, o que não é verdade”, considera o pichador.

Para o comerciante Miguel Aparecido, 36 anos, independente de protesto ou não, as pichações são crime e as penas deveriam ser mais fortes. "Eles sujam a cidade e nem ficam presos, é considerado crime de menor potencial ofensivo. Acho que deveriam ser obrigados a reparar o que fizeram e ainda ficarem detidos", considera.

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