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Capital

“Conheci o crack e aí foi decadência total”, diz pastor que morou na rua

Miltão chegou à rodoviária da Capital em 4 de setembro de 1990, sem saber que a pior “viagem” estava por vir

Aline dos Santos | 17/07/2022 08:54
“Meu pai do coração foi quem me ajudou, me aconselhou , brigou", conta Milton. (Foto: Marcos Maluf)
“Meu pai do coração foi quem me ajudou, me aconselhou , brigou", conta Milton. (Foto: Marcos Maluf)

“Sou um ex-dependente químico. Há 25 anos, fui um dos moradores de ruas de Campo Grande”. Com essa breve introdução, Milton César Montanheri Marques, o pastor Miltão, explica porque há 15 anos lidera projetos para acolher usuários de drogas. A igreja Ministério Pentecostal Tabernáculo da Glória mantém duas chácaras nos arredores da área urbana.

O contato com a droga veio ainda adolescente, quando morava no interior de São Paulo. Ao desembarcar em Campo Grande, no dia 4 de setembro de 1990, já conhecia a maconha e o álcool. Mas, quando se viu em meio ao zum-zum-zum da rodoviária, ainda no Centro da cidade, não sabia que a pior “viagem” ainda estava por começar.

O começo da estadia em Campo Grande, onde se encantou com o desfile do dia 7 de Setembro, foi promissor. Logo estava empregado como servente de pedreiro no escritório do advogado Berto Luiz Curvo (já falecido), a quem chama de pai. Depois, se viu feliz com a primeira CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Por conselho de Curvo, Milton voltou a estudar, mas, na escola, aceitou os convites para fumar baseado.

“Aí, tudo aflora novamente. A gente chama de crack, mas é pasta-base. Não muda muita coisa, dá na cabeça e na cabeça dá. Fui conhecer o crack e aí foi a decadência total”, conta.

A droga também é conhecida como zuca, diminutivo de bazuca, e age rápido no organismo, que passa a exigir mais e mais. Quando morador de rua, vivia no entorno da Barão do Rio Branco, reduto dos vendedores ambulantes antes do Camelódromo.

Nos fundos da igreja, depedentes químicos em recuperação embalam sacos de lixo. (Foto: Marcos Maluf)
Nos fundos da igreja, depedentes químicos em recuperação embalam sacos de lixo. (Foto: Marcos Maluf)

“Meu pai do coração foi quem me ajudou, me aconselhou , brigou. Até que um dia fui para uma casa de recuperação em Marília. Eu fui para tomar uma vacina, mas no meio do caminho descobri que não tinha vacina. Mas falei, ah tudo bem, vou ficar por aqui”.

Após o tratamento, novo reencontro com a rodoviária de Campo Grande, mas no ano de 1996. “Aí, foram mais de dois anos de reconquista. Para ganhar novamente a confiança da família, retomar os estudos. Fui fazer Direito. Na sequência, casei. Enfim, fui trabalhando. Terminado tudo, abro mão de tudo para ser apenas um pastor”.

Atrás de sua mesa, no escritório, a parede é tomada por diplomas e homenagens. Aos fundos do templo, a uma porta de distância da sala, cerca de dez pessoas em tratamento embalam sacos de lixo para venda.


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