Preferência em programas sociais pesa para mulher trocar acolhida por droga
“Um grande problema é a distribuição aleatória de cartões sociais”, diz pastor
Na manhã de segunda-feira (dia 11), enquanto conversa com a equipe do Campo Grande News, o pastor Milton César Montanheri Marques recebe no celular o vídeo de mais uma desistência na chácara que acolhe mulheres dependentes químicas, projeto custeado pela igreja Ministério Pentecostal Tabernáculo da Glória.
Na imagem, surge a jovem que tinha batido à porta do templo no sábado, levando nos braços um bebê e temerosa de perder a guarda do filho. Menos de 48 horas depois, no vídeo, conta que quer voltar para a casa. Ela afirma que ficará longe das drogas. Do outro lado do celular, o pastor, mais conhecido como Miltão e que já foi morador de rua, ouve com descrédito.
Segundo ele, a igreja mantém duas chácaras que acolhem homens e mulheres, mas o índice de desistência é maior entre elas. No cálculo do motivo, além da abstinência, o pastor aponta a expansão dos programas sociais, onde mulheres com filhos têm preferência.
“Um grande problema que a gente está encontrando hoje é a distribuição aleatória de cartões sociais, porque os critérios são burláveis. Se tem R$ 400 todo mês para uma dependente química, como você vai combater isso. E agora, fala-se em R$ 600. Tem cartão que é apenas para alimento, mas uma maquininha dessa, qualquer menino de esquina tem. Não é uma solução que está muito fácil de ser encontrada, mas ao mesmo tempo precisa ser encontrada”, afirma o pastor.

A prostituição também ajuda a conseguir dinheiro para compra da pasta-base, também conhecida como zuca e crack caipira. “As meninas apresentam um grau de dificuldade muito maior para aceitação, para sair do mundo das drogas. Primeiro, porque tem o corpo, enquanto te condições, faz prostituição. Essa prostituição fomenta o uso da droga e faz com que elas se arrebentem”.
Criada há oito anos, a chácara também abriga os filhos das dependentes químicas. “Mas todas que estão aqui é de livre e espontânea vontade. É zero de medicação, não trabalhamos com nenhum principio fármaco para a dependência química. Temos duas psicólogas que fazem atendimento, laborterapia”.
O pastor nega que os locais são comunidades terapêuticas. “Nós somos uma igreja, com serviço de assistencialismo social”, diz. Sobre o número de atendidos, fornece um dado, mas recua, puxando para menos. A chácara masculina existe há 15 anos e nunca foi unanimidade. Há uma década, a Clínica da Alma teve que crescer às pressas, com lonas para abrigar a demanda crescente de dependentes químicos.
O pastor Miltão já foi denunciado de impor a fé a trabalho escravo. Segundo ele, todas arquivadas.