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Capital

Crise no HU agrava problemas e cancela cirurgia aguardada há 4 anos

Zana Zaidan | 07/05/2014 11:00
Depois de esperar quatro anos até conseguir uma vaga, a cirurgia de Severino foi cancelada (Foto: Marcos Ermínio)
Depois de esperar quatro anos até conseguir uma vaga, a cirurgia de Severino foi cancelada (Foto: Marcos Ermínio)

Referência em Mato Grosso do Sul para diversas especialidades cirúrgicas, a falta de anestesistas e a redução de leitos no Hospital Universitário de Campo Grande faz pacientes com cirurgia marcada voltarem para casa sem fazer o procedimento.

Foram quatro anos de espera para que o pedreiro Severino Trindade dos Santos, 50 anos, conseguisse agendar para 30 de abril a cirurgia de varizes. Oito dias antes, conta, veio a notícia de que a data seria adiada.

“Dói. Não só as pernas, porque ardem igual pimenta, mas me fazerem acreditar que finalmente o tormento acabaria, para depois você descobrir que não”, lamenta.

Severino mora em Aquidauana e, a cada três meses, embarca em uma van da prefeitura que traz pacientes à Capital. Enquanto não faz a cirurgia, trata o problema diagnosticado como alergia à cimento com medicamentos que consomem R$ 350 dos R$ 1,2 mil que ganha como pedreiro.

Uma técnica de laboratório que preferiu não se identificar afirma que histórias como a de Severino têm se repetido com frequência há pelo menos dois meses. “O paciente está com a cirurgia marcada e, dez dias, uma semana antes, é avisado que será cancelada, sem nova data definida”, avisa a funcionária do HU há mais de 30 anos.

Uma das causa da crise no HU está no impasse com a Servan, que presta o serviço de anestesiologia para o hospital. O contrato com a empresa foi suspenso no dia 25 de novembro do ano passado e, desde então, os profissionais trabalham sem receber.

“Eles chegam para o paciente, no leito, e dizem ‘Estou aqui te fazendo um favor’, fazem questão de dizer que estão ali como voluntários”, acrescenta a técnica. Sem pagamento, a Servan reduziu o quadro de anestesiologistas para cinco.

Dolores esperava um anestesista para que a neta pudesse retirar um cateter (Foto: Marcos Ermínio)
Dolores esperava um anestesista para que a neta pudesse retirar um cateter (Foto: Marcos Ermínio)
Na faixada, a indignação dos técnicos que criticam a condução do HU (Foto: Marcos Ermínio)
Na faixada, a indignação dos técnicos que criticam a condução do HU (Foto: Marcos Ermínio)

Sem leitos - Outro fator é a redução de leitos – são 40 a menos, conforme a direção do Hospital, que alega “falta de funcionários”. Quartos e aparelhos estão sem uso. A funcionária conta que a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), que há quatro meses administra o HU, suspendeu o pagamento de plantões.

“Antes, eu entrava às 6 e saía ao meio-dia, voltava à tarde, às vezes à noite. Depois que mudou a administração, nunca mais voltei, assim como a maioria dos enfermeiros e médicos por aqui”.

O resultado da crise é a redução de 60% das cirurgias eletivas (as que não são consideradas de emergência). A aposentada Suzana Dolores Orando, 63 anos, aguardava desde às 7 horas a internação da neta de oito, que precisa passar retirar um cateter, procedimento que exige anestesia.

“Para colocar, no dia 29, ela passou seis dias internada até vir o anestesista. Isso porque a pediatra já tinha avisado que ela estava com cálculo renal, e que a infecção era grave e poderia espalhar. Hoje, viemos prontas para a internação, mas não sei quando ela vai tirar”, acrescenta a mãe, Mara Rubia Inácio, 36 anos.

O HU alega que terá concurso para 770 vagas, além de passar por reformas que devem ampliar o número de leitos de 236 para 273. São obras em cinco setores: pediatria, clínica médica, UTI Neonatal, centro cirúrgico e centro de material esterilizado, que começaram em abril e vão durar seis meses.

Por ano, a unidade atende 100 mil pacientes, realiza 300 mil exames laboratoriais e cinco mil cirurgias.

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