Depois de 30 homens, mulher assume direção do Fórum de Campo Grande

Na foto com 30 rostos masculinos na parede, a juíza Denize de Barros Dodero faz história: é a 1ª diretora do Fórum de Campo Grande que completa 110 anos este ano. A nomeação histórica foi publicada no Diário da Justiça da segunda-feira (25), em substituição do juiz Flávio Saad Peron.

Juiza de direito da 1ª Vara Bancária da Capital, Denize é a 31ª a ocupar o posto desde a instalação da comarca em Campo Grande, no entanto nenhuma gestão até agora havia sido comandada por uma mulher.

Com isso, Denize terá sob seus cuidados agora um quadro funcional com 621 pessoas, sendo 50 magistrados, 300 servidores, além de 90 estagiários, 93 mirins, 79 terceirizados, 5 reeducandas e 4 colaboradores por meio de convênio com a Associação Pestalozzi.

Para a nova diretora, a designação é motivo de muita gratidão e esperança e ela vê a escolha como igualdade de oportunidade e uma conquista coletiva.

“É uma conquista coletiva, que em muito ultrapassa minha individualidade. Tenho ciência de que essa oportunidade é fruto de muitas em mim. E que seja motivo de inspiração e realização de infinitas possibilidades para as mulheres, notadamente de carreiras jurídicas. Uma honra assumir essa função em representatividade de todas as juízas de nosso Estado. Orgulho e agradecimento imenso pela confiança.”, disse Denize.

Em entrevista ao TJMS, Denize destacou ainda que o machismo no ambiente de trabalho é reprodução das relações sociais e somente educação e diálogo podem desconstruir o fenômeno e que acredita no poder da representatividade e da sororidade além da teoria, bem como constante qualificação.

São muitos anos de identidades pressupostas e culturalmente limitadas, estereótipos impregnados no inconsciente coletivo. A conscientização de que a dinâmica nas relações sociais envolve muito além da identidade biológica, mas uma totalidade de intelectos, emoções, valores e individualidades, reflete em todas as nossas relações, inclusive de trabalho, com a atual tendência de preponderância do humano em contraste ao masculino ou feminino.”, completou.

Denize contou ainda que estar na atual função, exigiu equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, mas que isso nunca foi estático e precisou fazer muitas renúncias também que por vezes comprometeram sua saúde física, emocional, mental e espiritual, mas que a resiliência e a força de conquistar espaços nunca a deixaram desistir.

“Uma vontade de alma de uma vida com mais significado. O profundo desejo de colaborar, somar, construir. De deixar um legado e viver um propósito. Essa lealdade aos nossos princípios, a essência de quem somos, de nossos valores e a fé na possibilidade do justo são motivações realmente irrenunciáveis. Então, minha mensagem para outras mulheres é: Não desistam. E, se preciso, recomecem. Sempre!”, finaliza a nova diretora.