Morto no Lageado, “Neguinho” era do PCC e tinha passagens desde os 13 anos

Everson Pereira de Melo, de 20 anos, conhecido no Parque do Lageado por “Neguinho”, acumulava um histórico criminal que teve início aos 13 anos e se estendeu por atos infracionais, prisões por tráfico, denúncia por ligação ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e até uma tentativa de homicídio sofrida no ano passado. A vida dele cruzou com a polícia desde a adolescência e continuou marcada por flagrantes e investigações até poucos meses antes de ser executado com quatro tiros em frente à namorada, na madrugada deste domingo (23).

Os primeiros registros aparecem em 2018, quando Everson foi apreendido por tráfico ainda na infância. No ano seguinte, respondeu por receptação qualificada e por roubo majorado, chegando a cumprir medida socioeducativa por dois meses. A passagem pela Vara da Infância foi apenas o início de um histórico que avançou sem interrupção para a fase adulta.

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Em junho de 2023, aos 18 anos, ele foi preso em flagrante no Parque do Lageado com 27 papelotes de pasta-base de cocaína e acabou denunciado pelo Ministério Público por tráfico. No ano seguinte, em 16 de junho de 2024, Everson sobreviveu a um atentado em frente a uma conveniência no Dom Antônio Barbosa. O passageiro de uma motocicleta preta desceu atirando e acertou o jovem com quatro disparos, atingindo peito, braço, cotovelo e coxa. Mesmo ferido, ele conseguiu correr até um evento de pagode, onde testemunhas chamaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Menos de três semanas depois desse atentado, Everson voltou a ser preso, desta vez durante operação da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico) em Terenos. No imóvel alvo da ação policial, foram apreendidas porções de maconha, crack e uma balança de precisão. Segundo o delegado responsável pelo flagrante, Everson e os demais detidos admitiram participação em uma organização criminosa ligada ao PCC, informação que ficou registrada no inquérito policial. Em juízo, todos negaram o envolvimento, e a Justiça entendeu não haver elementos suficientes de permanência e estrutura para sustentar a denúncia por organização. Ainda assim, ele foi formalmente denunciado por tráfico, associação para o tráfico e organização criminosa, chegando a ser recolhido ao Presídio Jair Ferreira de Carvalho.

A última prisão antes da morte ocorreu em maio deste ano, quando Everson foi preso por dano qualificado e ameaça após mostrar um simulacro de arma durante discussão com uma ex-namorada. Ele recebeu liberdade provisória, mas documentos do processo indicam que não vinha cumprindo as medidas impostas pela Justiça.

A morte - Foi após essa sequência de episódios que veio a madrugada deste domingo (23). Everson saiu de casa com a namorada para comprar bebida e caminhava pela Rua Manoel Macedo Falcão quando dois homens encapuzados se aproximaram por trás. Segundo o depoimento da jovem, os criminosos tentaram atirar assim que chegaram, mas a arma falhou. Ao ouvir o clique do disparo que não saiu, Everson correu tentando escapar. Os autores perseguiram o rapaz e dispararam várias vezes durante a fuga.

A perícia constatou que ele foi atingido por quatro tiros, sendo dois na cabeça, um nas costas e um no ombro. O jovem caiu no asfalto e morreu antes de receber socorro. Moradores saíram de casa ao ouvir os disparos e cobriram o corpo com um lençol. Como não há câmeras de segurança na rua, a investigação segue com base em testemunhos, dinâmica do crime e no próprio histórico da vítima.

Uma vizinha de 64 anos, que viu a movimentação logo após os disparos, diz que acompanha a trajetória do jovem desde que ele era pequeno. “Conheço-o desde criança. Mas desde os nove anos ele já estava nessa vida das coisas ruins. A família é trabalhadora, gente boa, nunca fez mal a ninguém. Ele que foi por outro caminho”, lamentou. Ela contou que estava assistindo ao jogo do Flamengo quando ouviu os tiros. “Escutei cinco, mas falaram que foram onze. A gente se escondeu. Quando saí, já estava todo mundo em volta.”

Equipes do GOI (Grupo de Operações e Investigações) e do Batalhão de Choque fizeram buscas pelo bairro, mas nenhum suspeito foi localizado. A Polícia Civil trabalha agora para identificar os atiradores e esclarecer se a execução tem relação com o passado criminal de “Neguinho”, com o atentado sofrido em 2024 ou com disputas recentes na região.

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