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Capital

Dor da perda vira angústia para quem espera enterro digno de familiares

Famílias de vítimas do 'Caso Nando' ainda aguardam liberação dos corpos para sepultar parentes com mínimo de dignidade

Luana Rodrigues e Adriano Fernandes | 28/01/2017 08:57
Kátia Dayne Santos, 34 anos, vizinha que ajuda filhos de Ana Claudia, prefere não mostrar o rosto. (Foto: Marcos Ermínio)
Kátia Dayne Santos, 34 anos, vizinha que ajuda filhos de Ana Claudia, prefere não mostrar o rosto. (Foto: Marcos Ermínio)
Um dos seis filhos de Ana Claudia, que ainda espera poder enterrar  a mãe. (Foto: Marcos Ermínio)
Um dos seis filhos de Ana Claudia, que ainda espera poder enterrar a mãe. (Foto: Marcos Ermínio)

Angústia e sofrimento que parecem intermináveis. Quase três meses depois de a Polícia Civil trazer a tona o ‘Caso Nando’, familiares de vítimas do grupo de extermínio de Luiz Alves Martins Filho, 49 anos, ainda vivem um tormento: o de não poder enterrar os restos mortais dos parentes, assassinados de maneira cruel.

“É como uma tortura angustiante, que não tem fim. Choro todos os dias, porque eu queria poder velar meu filho, enterrar, mesmo que fosse em uma cerimônia simples, mas não posso porque eles não liberam”, lamenta a dona de casa, um Lucíla Waldonado de Souza, 46 anos, mãe de Lessandro Waldonado de Souza de 13 anos.

Lessandro foi morto em agosto do ano passado, porque viu a cunhada, membro do grupo de Nando, traindo o irmão dele com outro homem e ameaçou falar sobre a traição. Segundo a polícia, a ossada do adolescente está entre as 10 encontradas durante as escavações policiais, que ainda estão no IMOL (Instituto Médico Odontológico Legal), aguardando liberação.

Antes de descobrir que o filho havia sido assassinado, Lucíla precisou conviver com a dor da incerteza, já que Lessandro era considerado desaparecido.

Situação semelhante vive a família de Ana Claúdia Marques, 37 anos, outra vítima de Nando. A mulher, morta por ser traficante, segundo o que apurou a polícia, deixou seis filhos, que hoje sobrevivem de doações, e além de enterrar a mãe de maneira digna, querem a liberação do corpo porque precisam do atestado de óbito para tentar uma renda.

“Eles não tem nada. As vezes nem o que comer. Tenho tentado ajudar, mas acho que deveriam receber ao menos uma pensão, ou cuidados do governo, por conta da forma como a mãe morreu”, conta a fisioterapeuta Kátia Dayne Santos, 34 anos, que é vizinha das crianças.

Kátia diz que a filha mais velha de Ana Claudia, que tem 22 anos, quer a guarda das crianças e está disposta a buscar o que é de direito dela e dos irmãos, mas não consegue solicitar oficialmente, porque ainda não tem o atestado de óbito da mãe.

"A gente acaba ficando de mãos atadas, enquanto as crianças crescem sem assistência, algumas até jogadas por ai", diz.

Para saber o porque da demora na liberação dos corpos, o Campo Grande News entrou em contato com a Coordenadoria Geral de Perícias, que informou por meio de assessoria de imprensa, que 'os trabalhos de identificação estão sendo realizados, mas devido o estado de decomposição dos corpos, as análises exigem um pouco mais de tempo, para que as informações sejam repassadas com precisão.'

Enquanto não há liberação dos corpos, Kátia mobiliza todo o bairro Danúbio Azul, em busca de doações para os filhos de Ana, que tem idade entre 1 e 19 anos.

“Disponibilizei meu telefone, minha academia, qualquer lugar para que as pessoas levem as doações, porque eles precisam muito”, conta.

Interessados em ajudar os filhos de Ana podem encaminhar doações na academia Kaddas Fitness, localizada na rua Manduba, numeral 349, no bairro Taquaral Bosque, região do Danúbio Azul. Ou, entrar em contato pelo telefone: (67) 9 9351-4737 para falar com Kátia.

Nando, "o justiceiro" - Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, 49 anos, era morador conhecido Danúbio Azul, região norte de Campo Grande. Pessoa simples, de conversa fácil e boa vontade. Companheiro de todas as horas, de dar carona à grávida ao hospital, até para buscar compras no mercado para os idosos, segundo vizinhos.

Isso até o dia 10 de novembro de 2016, quando a polícia descobriu que ele era uma espécie de “justiceiro” no bairro, responsável pela morte de 17 pessoas.

Durante as investigações, foi detectado que essas vítimas faziam parte do esquema que agia na região, sob o comando de Nando. Para ele, quem colocava em risco à “segurança” da comunidade deveria ser punido com a morte.

O bando aliciava adolescentes e jovens dependentes químicos para vender droga e se prostituir a troco de pasta base de cocaína. As vítimas desapareciam quando se desentendiam com algum integrante.

Depois de preso, Nando acabou confessando todos os crimes pelos quais é acusado. As investigações continuam e a polícia acredita que pode localizar mais vítimas, mesmo que estas já estejam 'perdidas'.

 

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