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Capital

Em memória às vítimas de trânsito, famílias se reúnem no Parque

Liana Feitosa | 16/11/2014 13:10
Foram fincadas 116 bandeirinhas para representar cada vítima fatal do trânsito em Campo Grande no ano passado. (Foto: Divulgação)
Foram fincadas 116 bandeirinhas para representar cada vítima fatal do trânsito em Campo Grande no ano passado. (Foto: Divulgação)

Vítimas que sobreviveram e famílias de quem morreu no trânsito fizeram neste domingo um culto ecumênico no Parque das Nações indígenas, para marcar o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Trânsito.

Agentes da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), do Corpo de Bombeiros, Detran (Departamento de Trânsito) e Bbtran (Batalhão de Trânsito) participaram do evento que teve a parceria do Gabinete de Gestão Integrada de Trânsito.

Houve um minuto de silêncio para lembrar as vidas que foram perdidas em decorrência da imprudência ao volante, consumo de álcool ou direção perigosa. Para demonstrar a proporção dessa tragédia em Campo Grande, foram fincadas 116 bandeirinhas no gramado, representando cada morte no trânsito da Capital em 2013. Neste ano, de acordo com o Batalhão de Trânsito, 82 pessoas já morreram.

Virgínia perdeu o esposo e o filho. (Foto: arquivo)
Virgínia perdeu o esposo e o filho. (Foto: arquivo)

Uma das organizadoras do encontro é Maria de Fátima da Silva, doméstica, que perdeu o sobrinho de 31 anos no ano passado, o policial militar Gilliard Félix da Silva. Ele estava na região norte da cidade, na saída para Cuiabá, quando foi atingido de frente por um veículo desgovernado que invadiu a contramão. O condutor estava bêbado.

Gilliard deixou uma filha de menos de 2 anos de idade e, segundo Maria de Fátima, o responsável está solto, até hoje não foi punido.

Luta - O objetivo do evento foi reunir famílias para buscar mudanças na lei que regulamenta o trânsito brasileiro. "A gente precisa de leis mais rígidas, mais severas, para punir essas pessoas irresponsáveis. A lei não vai trazer de volta quem nós perdemos, mas vai ajudar a evitar que outras tantas pessoas não passem por esse trauma e sofrimento que passamos", conta Fátima.

Na avaliação dela, hoje o culpado tem mais suporte que a vítima. "Se eles têm um defensor para intervir a favor da pessoa que cometeu um crime de trânsito, precisamos de alguém para intervir em favor da família dessa vítima", defende. "A gente perde um filho, um pai, uma mãe, mas no Brasil não existe uma lei que realmente nos ampare", completa.

A família só ficou completa no porta-retrato. A mãe foi a única sobrevivente. (Foto: arquivo pessoal)
A família só ficou completa no porta-retrato. A mãe foi a única sobrevivente. (Foto: arquivo pessoal)

Para ela, mudanças na lei e na forma de punição contra infratores devem vir com mudanças na postura do poder público. "Se as autoridades não abrirem o olho, a tendência dos acidentes é só aumentar porque, com a tarifa de ônibus ficando alta e o serviço continuando ruim, a população vai cada vez mais optar por comprar carro ou moto", analisa.

A lógica é simples, argumenta. "Assim, as ruas só vão ficar mais cheias e o trânsito só vai piorar, aumentando também os acidentes. Aí não temos uma lei para punir quem fizer infrações, então será ainda mais gente lotando os hospitais, mais gente nos cemitérios mais gente chorando a morte de alguém."

A dor uniu quem sofre com a mesma sensação de impunidade. "Nós (famílias de vítimas) estamos nos apegando. Mas quero fazer um apelo para que as famílias se conscientizem e se unam a nós. Muitas vezes, temos mais pessoas que não são vítimas do que pessoas que perderam familiares", garante.

Dois anos de saudade - Virgínia Ramires, de 42 anos, também participou da reunião junto com a família. Ela perdeu o esposo e o filho em maio de 2012, ambos foram atropelados por um carro guiado por motorista sem Habilitação e que, para piora, ainda admitiu que não sabia dirigir. O veículo invadiu a ciclovia onde Virgínia estava com a família, matando o esposo e o filho.

A sobrinha dela, a auxiliar comercial Mayele Robles, de 22 anos, explica a importância da ação. "A gente está lutando pela causa, a gente veio para pedir justiça porque continuamos em busca de justiça, o motorista que atropelou meu tio e meu primo não foi preso", conta.

"Espero que a lei mude porque as pessoas precisam ter mais responsabilidade. Enquanto isso não acontece, fica a saudade, a dor. Só quem já perdeu alguém conhece essa dor. Mas eu ainda tenho esperança no Senhor de que vou ver a vitória", finaliza.

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