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Capital

Adolescentes que extorquiam colega contam que agressão acontecia dentro de sala de aula

Paula Maciulevicius | 03/06/2011 17:54

Cinco adolescentes envolvidos dizem “todo mundo tirava dinheiro dele. Ele apanhava direto, até dentro da sala de aula”

Outros cinco adolescentes acusados de extorsão contra garoto de 13 anos em escola pública de Campo Grande confessam que as ameaças ocorriam dentro de sala e sugerem que professores e até a mãe de um deles sabia do caso e nada fizeram. Eles forçavam o colega a entregar dinheiro, lanches e fazer compras para o grupo.

Em depoimento prestado à Polícia, um deles, de 14 anos, afirmou que a vítima até apanhava dentro da sala de aula e que alguns professores presenciaram, mas não impediram.

“Ele apanhava direto, até dentro da sala, professores viram e não tomaram providência”, disse à Polícia um dos envolvidos.

Outro menino comentou que o colega extorquido pagou várias vezes lanche para ele e que o troco ficava sempre com o agressor e que a mãe tinha conhecimento.

“Chegava em casa e já falava para minha mãe de onde era o dinheiro, ela sempre me falava que isso não está certo, um dia vai cair e você vai ver”, mesmo com o aviso dos pais, ele continuava recebendo o dinheiro do lanche. “Continuei, porque não via nada de errado nisso”, declara.

A diretora do colégio em que o caso de bullying começou foi chamada novamente e disse que não chegou ao conhecimento da direção a violência sofrida dentro da sala. Ela citou que a única ocorrência envolvendo a vítima e o primeiro agressor, foi a de que ele era obrigado a fazer tarefas dos outros, o que de imediato foi resolvido.

As demais agressões, segundo a diretora, não chegaram ao conhecimento da administração. “Um chuta o outro, mas quando chamam, eles dizem que é brincadeira. Agora quando extrapola a gente sempre chama, só que no caso deles, nunca extrapolou”, explica a direção.

O garoto de 14 anos comentou ter visto várias vezes a vítima dar dinheiro aos outros colegas e que pegou apenas uma vez. Segundo ele, foi tanto dinheiro dado aos outros, que nem dá para saber a quantia. Só ao primeiro agressor, foram dadas notas de R$ 100 reais “inteirinhas”, comentou.

Em relação às agressões, o adolescente disse que a vítima apanhou tanto do primeiro agressor, que chegou a ficar até manco. “Às vezes ele falava que não ia dar mais dinheiro para esses guris não, daí eles falavam se você não trazer, eu vou te bater”, conta.

O outro colega, de 14 anos, fala que pegou dinheiro da vítima, em 2010. A forma como eles contam os fatos passa a impressão de que a ação não era vista como crime.

“Todo mundo tirava dinheiro dele, eu fiz isso, mas só ano passado. A gente dizia que ia bater nele, e que ele tinha que levar dinheiro para a gente, daí ele pagava lanche para todo mundo”, falou.

O mesmo adolescente conta que o primeiro agressor pedia dinheiro quase todo dia. “Tinha vez que ele fazia ele [vítima] ir ao shopping, para comprar coisas”, o mesmo ocorria em supermercados e no camelódromo. Os meninos o obrigavam a comprar cigarros e bebidas para o grupo, segundo os depoimentos.

A vítima, que começou sofrendo bullying e passou a ser extorquido no intervalo de um ano, confirmou o envolvimento dos outros cinco garotos.

O estudante de 13 anos que é citado pela vítima como um dos que mais agredia, convive com garotos mais velhos na escola, segundo os outros meninos. “Ele fica andando com caras do 2° ano que são maiores e usa os amigos mais velhos para amedrontar os colegas”, diz um dos envolvidos.

O garoto disse ao Campo Grande News, que está sendo acusado de uma coisa que não fez. “Os guris que faziam isso, eles pediam dinheiro, se ele não desse, começavam a ameaçar, dizendo que ia bater nele”, conta.

Emprestado - Ele conta que os meninos pularam o muro da escola, depois que alguns repetiram de ano e não estudam mais no colégio, para levar a vítima para o shopping. “Eu pedi R$ 5 reais para ele, daí no outro dia eu já devolvi, era só para comprar o lanche”, justifica.

“Colocaram meu nome aí, mas eu não extorquia não. Só foi R$ 5 reais e emprestado”, completa.

O menino conta que a vítima tinha mais medo do fulano e não do agressor já disciplinado “ele era maior e mais forte do que o colega”, explica.

Caso – A história é digna de um filme americano, o caso clássico de bullying, onde a vítima “pagava” para não apanhar. O agressor, ao contrário dos personagens retratados nos filmes, não era “valentão” e tão pouco parecia capaz de ameaçar um colega por mais de um ano.

O caso só foi descoberto depois que uma pessoa próxima contou a família da vítima. O caso foi registrado na Deaij (Delegacia de Atendimento a Infância e Juventude). O garoto que sofria a extorsão foi levado a marcar encontro no terminal de ônibus para fazer o pagamento. A equipe da Deaij esperou junto com a vítima pela chegada do agressor e flagrou a entrega do dinheiro.

Depois que iniciaram as investigações, outros cinco adolescentes foram apontados como envolvidos. O primeiro agressor identificado já está cumprindo a medida de ação educativa, proposta pelo MPE (Ministério Público Estadual), através da 27ª Vara da Infância e da Adolescência. O promotor Sérgio Harfouche, determinou que o adolescente cumpra as tarefas de manutenção da escola em que o caso começou, no contra-turno da aula.

As práticas de ação educativa seguem por três meses. A família do garoto se comprometeu a ressarcir a vítima em R$ 500 reais.

Na próxima semana, o MPE vai ouvir os cinco envolvidos, em audiência.

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