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Capital

Greve expõe falência do modelo de transporte urbano, dizem especialistas

CPI defende mudanças na operação do sistema de Campo Grande

Por Anahi Zurutuza | 15/12/2025 15:08
Greve expõe falência do modelo de transporte urbano, dizem especialistas
Ponto de parada de ônibus no Centro completamete vazio nesta segunda-feira (15) (Foto: Henrique Kawaminami)

Não é de hoje que transporte coletivo de Campo Grande respira por aparelhos e a greve dos motoristas, que tirou todos os ônibus de circulação nesta segunda-feira (15), só escancara modelo falido de gestão da mobilidade urbana na Capital, avaliam especialistas.

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A greve dos motoristas de ônibus em Campo Grande expõe a fragilidade do sistema de transporte coletivo da cidade. O serviço, operado há décadas por empresas pertencentes à família Constantino, apresenta problemas de conforto, eficiência e superlotação, mesmo recebendo R$ 38 milhões anuais dos cofres municipais. Especialistas apontam falhas na gestão municipal e destacam que a falta de competição entre as empresas do Consórcio Guaicurus compromete a qualidade do serviço. A situação levou vereadores a defenderem o rompimento da concessão, que se encerra em 2025, devido aos constantes atrasos nos pagamentos de funcionários e deficiências estruturais.

Para a engenheira civil mestre em Engenharia de Transportes e Gestão Territorial, Lúcia Maria Mendonça Santos, falta “gestão do governo municipal”. Convidada para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito do Transporte Coletivo em julho deste ano, a especialista analisou documentação enviada pela Ouvidoria da CPI sobre o sistema na Capital. “O serviço de ônibus em Campo Grande é ruim. Como vai aumentar a arrecadação se os usuários não tem como confiar no sistema? Cada um acaba arranjando outra forma de locomoção, compra moto ou vai de carro complicando todo o trânsito”.

Dentre as reclamações dos usuários do transporte estão a superlotação, a falta de variedade nos horários das linhas e de conforto, como veículos equipados com ar-condicionado, por exemplo.

Também em julho, durante depoimento para a CPI, o professor sênior da Unicamp, Jurandir Fernandes, especialista em transporte público, destacou que o problema da queda no número de passageiros e consequente queda na receita das empresas não afeta só Campo Grande, mas diversas cidades do país. Ele apontou causas como o aumento do home office, ensino à distância, aplicativos de transporte, maior número de veículos particulares e a descentralização dos serviços.

A engenheira afirma, contudo, que se o gestor municipal for capaz de exigir um serviço melhor das empresas que operam o transporte, a chance de o Consórcio Guaicurus aumentar a arrecadação e sair da alegada crise financeira é maior. “O transporte público precisa de conforto para ser competitivo, para competir com o carro de aplicativo, com a moto e arrecadar mais. Quando o transporte oferecido é de qualidade, as pessoas o procuram”.

A especialista afirma ainda que apesar do argumento das empresas de que o transporte coletivo na Capital tem dado prejuízo e não lucro, é a administração municipal a responsável por solucionar a questão.

A Prefeitura de Campo Grande repassa cerca de R$ 3 milhões mensais ao Consórcio Guaicurus para o custeio das gratuidades e, em coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira (15), o diretor-executivo da Agereg (Agência Municipal de Regulação), Otávio Figueiró, reforçou que não há qualquer débito do município com o grupo empresarial, que, na opinião da administração municipal, falhou no planejamento financeiro por não programar o valor para a cobertura da folha de pagamento dos funcionários e 13º salário.

“Se a prefeitura alega isso, por que não rompe o contrato? Se você contrata um prestador de serviço e ele não atende às suas exigências, você dispensa. E o consórcio se diz que está em crise que mostre as contas, abra as contas. Que subsídio é esse? O subsídio não pode ser o valor total das despesas das empresas”, comentou Lúcia Maria Mendonça em entrevista ao Campo Grande News.

Greve expõe falência do modelo de transporte urbano, dizem especialistas
Passageira entre em carro de aplicativo em dia de greve (Foto: Marcos Maluf)

Monopólio – Formado por empresas que já atuavam no transporte coletivo de Campo Grande (MS), o Consórcio Guaicurus venceu a licitação para explorar o serviço por 20 anos em Campo Grande, em outubro de 2012. A previsão de faturamento ao longo dos anos era de R$ 3,4 bilhões, com receita anual de R$ 172 milhões.

A disputa era entre o Consórcio Guaicurus e a empresa Auto Viação Redentor, com sede em Curitiba (Paraná). O consórcio é composto pela Viação Cidade Morena (empresa líder), Viação São Francisco, Jaguar Transportes Urbanos e Viação Campo Grande, que já formavam a Assetur (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano), em operação na Capital desde 2000.

Todas as viações pertencem à família Constantino, uma das mais proeminentes no setor de transportes no Brasil, conhecida também por fundar a Gol Linha Aéreas. Nos CNPJs (Cadastros Nacionais de Pessoa Jurídica) que operam na Capital, Paulo Constantino de Carvalho aparece sempre como sócio majoritário.

No entendimento da engenheira, a concessão não é o problema, mas ou a prefeitura fiscaliza e cobra que as empresas prestem melhor serviço, ou assume o transporte e implanta a tarifa zero, movimento que tem acontecido em outras cidades brasileiras.

A greve geral dos motoristas do transporte coletivo de Campo Grande reacendeu o debate sobre a continuidade do contrato entre a prefeitura e o Consórcio Guaicurus. Vereadores que integraram a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte defendem o rompimento da concessão, que completa 13 anos em 2025, diante de atrasos recorrentes no pagamento de salários e benefícios aos trabalhadores, além de falhas estruturais no serviço.

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