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Capital

Hospital acirra crise e deflagra “guerra” entre pediatras na Capital

Aliny Mary Dias | 14/10/2014 10:54
Na UPA do bairro Coronel Antonino, mães esperam horas por atendimento para filhos (Foto: Marcos Ermínio)
Na UPA do bairro Coronel Antonino, mães esperam horas por atendimento para filhos (Foto: Marcos Ermínio)

Desde que o Centro Municipal Pediátrico, o Hospital da Criança do SUS, começou a operar, no domingo (12), a insatisfação entre médicos e profissionais que atuam nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e em postos de saúde aumentou em razão do salário, até três vezes maior, recebido por quem atua na nova unidade da Capital. Quem não tem nada a ver com o conflito, os pais e crianças, são os mais prejudicados.

A discussão é antiga e foi motivo do veto da inauguração do hospital por parte do Conselho Municipal de Saúde, que teve a decisão ignorada pela prefeitura. O decreto 12.447, de 16 de setembro de 2014, estabelece adicionais aos funcionários do centro pediátrico, situação que revoltou servidores que atuam na rede da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).

O “conflito”, como é considerada a situação por alguns servidores, teve um novo episódio na tarde de ontem (13), quando centenas de pais e mães foram buscar atendimento no Hospital da Criança. De acordo com a diretora da unidade, Renata Guedes, a grande procura em tão pouco tempo foi resultado de um boicote.

“Em duas horas nós fizemos 275 atendimentos. De manhã foi bem tranquilo, mas nós percebemos que funcionários das UPAs falaram para os pais procurarem o hospital sendo que havia pediatra nas unidades. Avaliamos a situação como um boicote, mas conseguimos atender todo mundo”, diz.

Diretora do Centro Municipal Pediátrico acredita em boicote (Foto: Marcos Ermínio)
Diretora do Centro Municipal Pediátrico acredita em boicote (Foto: Marcos Ermínio)

Segundo a diretora, durante toda a segunda-feira foram feitos 380 atendimentos e desse total, apenas 31 crianças precisaram ficar em observação. “Isso mostra que a maioria dessas crianças poderia ter sido atendida no próprio bairro, muitas eram só uma dor de cabeça ou probleminha no nariz por causa do tempo seco”.

A situação foi tão complicada durante a tarde de ontem que o prefeito Gilmar Olarte (PP) e o chefe da Sesau, Jamal Salém, foram até o Hospital ver de perto a situação. O secretário de saúde, segundo a diretora, chegou a atender pacientes diante da grande demanda.

Ao todo, o Hospital da Criança do SUS possui 171 funcionários, 28 são médicos pediatras. Em cada turno, desde que começou a operar, a unidade conta com seis profissionais. “Nós orientamos que as mães e pais liguem para o 192 e vejam onde tem pediatra, nós estamos abertos para atender, mas às vezes algumas famílias se deslocam de longe e vem para a unidade sem necessidade”, explica Renata.

Sobre a revolta dos servidores das UPAs, a diretora do centro pediátrico afirma que todos precisam trabalhar em conjunto. “Nós somos uma só rede, precisamos trabalhar juntos”, completa.

O Campo Grande News esteve na UPA do bairro Coronel Antonino na manhã desta terça-feira e a situação beirava o caos. Dezenas de pais e crianças aguardavam atendimento na unidade.

Segundo apurado pela reportagem, na escala da manhã de hoje, apenas 3 pediatras estão atendendo contra os 5 profissionais que habitualmente atuam na unidade. No período da tarde e à noite, 4 profissionais devem atender.

Funcionários da UPA conversaram com a reportagem e o sentimento é de indignação com a diferença do salário recebido em relação ao que é pago para funcionários do Hospital da Criança do SUS. Ninguém quis se identificar, mas o descontentamento e as críticas são severas. “Lá eles pagam três vezes mais, quem vai querer trabalhar na UPA? Eles ainda tiraram médicos das unidades para mandar pro hospital”, questiona uma das servidoras.

Centro começou a operar no domingo e só nesta segunda foram 380 atendimento (Foto: Marcos Ermínio)
Centro começou a operar no domingo e só nesta segunda foram 380 atendimento (Foto: Marcos Ermínio)

Caos previsto – Um dos membros do Conselho Municipal de Saúde, Sebastião Júnior Arinos, afirma que o conflito entre as UPAs, postos e o centro pediátrico já era previsto desde que o decreto foi publicado.

“Nós pedimos a revogação desse decreto porque não pode haver diferenciação no salário. Já sabíamos que haveria esse descontentamento, é uma diferença exorbitante e os trabalhadores estão revoltados”, diz o membro.

Sesau – O chefe da Secretaria de Saúde, Jamal Salém, afirma que nenhum médico foi retirado das escalas de UPAs e postos para trabalhar no centro pediátrico. O que aconteceu, segundo o secretário, foram problemas de pessoal.

“Nós tínhamos um pediatra que atendia todo dia na UPA e ele se aposentou na segunda-feira. Já vinha se falando que tínhamos dificuldade de contratar pediatras para unidades 24 horas, mas conseguimos mandar dois para a Vila Almeida, mesmo assim estamos buscando alternativas”, diz.

Sobre o descontentamento salarial, Jamal diz que o plano de cargos e carreiras dos profissionais da saúde está sendo alvo de estudos da prefeitura e que deve ser a saída para “equiparar o salário”, completa.

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