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Capital

Jogo do bicho pode estar envolvido na morte de delegado, crê promotor

Bruno Chaves e Viviane Oliveira | 21/11/2013 14:00
Guarda municipal e segurança são acusados de participar da execução de Paulo Magalhães (Foto: Marcos Ermínio)
Guarda municipal e segurança são acusados de participar da execução de Paulo Magalhães (Foto: Marcos Ermínio)

Durante a primeira das três audiências sobre a morte do delegado aposentado Paulo Magalhães, realizada nesta quinta-feira (21), o promotor de Justiça Humberto Lapa Ferri levantou a hipótese de o crime estar envolvido com o jogo do bicho. O policial foi assassinado a tiros no dia 25 de junho em frente à escola onde a filha estudava, na Rua Alagoas, no Jardim dos Estados, em Campo Grande.

De acordo com o promotor, “o crime é extremamente complexo e tem uma organização criminosa por trás dele, que pode ter relação com o jogo do bicho”. Para Humberto, agora, é necessário saber quem foi o mandante do assassinato.

Humberto ainda afirmou que a maioria das pessoas banaliza o jogo do bicho e sabe que a prática pode estar envolvida com vários tipos de crimes. “Alguém tem que puxar o gatilho. Eles (mandantes) só vão renovando os pistoleiros”, diz em relação aos idealizadores dos assassinatos.

Audiência – Aconteceu, nesta quinta-feira, a primeira audiência que escuta os envolvidos na morte de Paulo Magalhães. O guarda municipal José Moreira Freires, 40 anos, e o segurança Antônio Benites Cristaldo, 37, são acusados de participar do assassinato, sendo que Freires é apontado pela polícia como o pistoleiro.

Ao todo, 20 pessoas devem prestar depoimentos no Fórum de Campo Grande. Só na manhã, 11 testemunhas de acusação disseram o que sabiam na frente dos réus, de advogados, do promotor de Justiça e do juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Aluizio Pereira dos Santos. Nesta tarde, outras seis serão ouvidas. Três faltaram e podem ser reconvocadas.

No próximo dia 12 serão ouvidos os depoimentos de testemunhas de defesa de Benites. Já no dia 18, testemunhas de Freires prestarão depoimentos.

Os depoentes na manhã de hoje eram, em sua maioria, policiais e pessoas que tinham envolvimento com a moto utilizada no crime, uma Honda CB 300 vermelha e um guarda municipal que morava com Freires em uma estância na região da Avenida Três Barras.

As primeiras testemunhas a prestarem depoimentos tiveram envolvimento com a moto. Uma senhora moradora da Vila Popular comprou o veículo para a filha, que engravidou e, junto com o marido, decidiu vender a moto.

De acordo com as afirmações, a motocicleta foi passando de mão em mão, sem trocar a documentação, já que estava atrasada. Ao todo, foram três negociações de compra e venda até o veículo chegar às mãos de Antônio.

Depois de comprar o veículo e usá-los por alguns dias, Antônio pediu sigilo sobre a negociação. Ele falou que o veículo estava envolvido em um boletim de ocorrências. As testemunhas também disseram que o segurança era temido no bairro, além de ser conhecido por trabalhar para o dono do jogo do bicho.

Encontro ao acaso – Durante o depoimento de testemunhas foi relatado o encontro ao acaso que policiais da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) tiveram com acusados Freires e Rafael Leonardo dos Santos, 29. Este último foi encontrado morto próximo ao lixão, carbonizado, sem a cabeça, os pés e os braços, dias após o assassinato de Magalhães.

Uma viatura descaracterizada da Derf seguia para o Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), um dia após o assassinato de Magalhães, quando um Fiat Pálio com placas de outro estado chamou a atenção dos policiais por que estava em alta velocidade e tinha os vidros escuros.

Após abordagens, os policiais liberaram os dois ocupantes do veículo, já que a documentação estava correta e eles não apresentaram nervosismo. Dentro do carro estavam Freires e Rafael. O primeiro se apresentou como guarda municipal e o segundo como trabalhador autônomo.

Quando chegaram ao Garras, os policiais da Derf comentaram sobre a abordagem do veículo. Imediatamente, os policiais do Garras perceberam que o Pálio abordado tinha semelhanças ao carro que dava cobertura para a moto CB 300 no dia do assassinato do delegado.

Os policiais das duas delegacias foram ao local da parada e pegaram imagens de segurança de um comércio. Após análises, eles verificaram que o veículo era semelhante ao utilizado na cobertura da moto no dia do crime.

As investigações do assassinato foram conduzidas pelo Garras, pela 1ª Delegacia de Polícia e pela DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) conforme denuncias iam surgindo, além de informações que eram repassadas pelo setor de inteligência da Polícia Civil.

Posições – O advogado de defesa de Freires, Renê Siufi, afirma que os depoimentos das testemunhas foram contraditórios e que a polícia não avançou nas investigações. "A polícia usou uma linha de investigação e insistiu nessa linha", avalia.

O magistrado evitou falar sobre o assunto. "Tudo ainda está em fase de apuração", afirmou Aluizio Pereira dos Santos. Ele também lembrou que o advogado entrou com pedido de HabeasCorpus, que ainda será julgado pelo Tribunal de Justiça.

Freires já teve um pedido liberdade provisória negado por Santos, que justificou a decisão, na época, pela repercussão do caso e pelos indícios de autoria.

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