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Capital

Juiz reserva 3 dias para levar acusados de matar Sophia à “sabatina popular”

Para magistrado, há indícios suficientes contra os réus e jurados decidirão se os 2 são culpados ou inocentes

Por Anahi Zurutuza | 07/12/2023 16:01
Christian e Stephanie sentados no banco dos réus, durante audiência em setembro (Foto: Juliano Almeida/Arquivo)
Christian e Stephanie sentados no banco dos réus, durante audiência em setembro (Foto: Juliano Almeida/Arquivo)

Quase 11 meses depois da morte da menina Sophia, de 2 anos e 7 meses, e após a conclusão do inquérito policial, o juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, entendeu que há indícios suficientes para levar o padrasto da garotinha, Christian Campoçano Leitheim, 26, e a mãe dela, Stephanie de Jesus de Jesus da Silva, 25, a júri popular. Ambos são acusados de matar a criança.

Ao longo deste ano, 19 testemunhas foram ouvidas, celulares dos réus foram periciados e as conversas dos dois no aplicativo WhatsApp foram analisadas, laudos e mais laudos foram anexados aos autos que nesta quinta-feira (7) completou 2.164 páginas. Para Pereira dos Santos, “a materialidade é questão incontroversa” e “os indícios de autoria e/ou participação [de Christian e Stephanie] estão presentes e suficientes”.

No dia 12 de março, sete pessoas, homens e mulheres que representarão a sociedade campo-grandense, vão decidir se o casal foi ou não responsável pela morte da criança. De acordo com a investigação, concluída sob o comando da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente] e a acusação, feita por quatro promotores do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) - Lívia Carla Guadanhim Bariani, Douglas Eduardo Cavalheiro dos Santos, José Arturo Iunes Bobadilha Garcia e Luciana do Amaral Rabelo –, Christian espancou a enteada até a morte e Stephanie não impediu e nem socorreu a filha a tempo.

As defesas tentaram anular as acusações. Os advogados da mãe alegaram que evidências coletadas durante busca e apreensão na residência do casal são nulas e o acesso ao celular de Stephanie foi feito de maneira ilegal porque a Polícia Civil não apresentou mandado judicial. Já os defensores de Christian argumentaram que o cliente teve o direito à defesa cerceado porque a data do interrogatório foi marcada para antes da conclusão da perícia no celular dele. Os dois, contudo, foram ouvidos em juízo anteontem e trocaram acusações.

Sophia morreu com 2 anos e 7 meses, no dia 26 de janeiro de 2023 (Foto: Arquivo de família)
Sophia morreu com 2 anos e 7 meses, no dia 26 de janeiro de 2023 (Foto: Arquivo de família)

Mas o juiz não viu ilegalidade no andamento do inquérito e nem da instrução processual e até ponderou que “sereno como um padre franciscano no sacerdócio sempre esteve à disposição dos fiéis para ouvi-los”, “como de fato foram ouvidos, quebraram o silêncio, de tal arte que fica sepultada definitivamente a sagaz pretensão das defesas de nulificar o feito”.

Pereira dos Santos fez anotação ainda sobre as versões dos réus. “Verifica-se que houve racha de posições dos acusados nas suas versões, onde um acusa enfaticamente o outro com riqueza detalhes, havendo, portanto, conflito ou atrito nas suas versões, o que constituem, por si, indícios suficientes de autoria de ambos”.

O magistrado também registrou que apesar de negarem serem os autores do assassinato, “as negativas dos acusados nos interrogatórios em juízo não condizem com o conteúdo das mensagens, não se harmonizam com os depoimentos das testemunhas, não convergem também com as provas periciais principalmente ao negarem que a vítima estava morta quando foi levada ao UPA e por fim nem também com os depoimentos das testemunhas”.

Para o juiz, como “no caso, em exame, ninguém presenciou os crimes, também não há câmeras de filmagens até porque, em tese, em regra são praticados no reduto do lar sem, portanto, provas oculares”, “os indícios de autoria ou participação dos acusados decorrem de vários laudos periciais, depoimentos das testemunhas, dos conflitos de versões (um acusa o outro) e, sobretudo, de suas aparentes contradições”.

Pereira dos Santos pediu que o plenário do Tribunal do Júri fique reservado para os dias 13 e 14 de março, já que jurados podem levar dias para decidir que rumo tomar em um caso tão rumoroso. “Esses dados fáticos devem ser avaliados pelos jurados razão pela qual justifica-se a pronúncia para que sejam levados à sabatina popular, cabendo aos jurados analisar com profundidade as questões de mérito”.

O padrasto será julgado por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel e praticado contra menor de 14 anos. Ainda responderá por estupro de vulnerável. Já a mãe será julgada por homicídio doloso por omissão.

Pereira dos Santos trouxe na pronúncia trecho do depoimento do perito Fabrício Sampaio Morais de Paiva para grifar a crueldade aplicada contra a vítima. Veja:

Imagem: Reprodução dos autos do processo.
Imagem: Reprodução dos autos do processo.

Enquanto não são submetidos ao júri, Christian e Stephanie permanecem presos, também decidiu Pereira dos Santos.

A acusação – Na tarde do dia 26 de janeiro deste ano, a menina deu entrada na UPA do Bairro Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, Stephanie, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica encontrou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes da chegada ao local.

O atestado de óbito apontou que a menininha morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que sofreu violência sexual.

Para a investigação policial e o MP, a criança foi espancada até a morte pelo padrasto, depois de uma vida recebendo “castigos” físicos.

Versão do casal - Stephanie alega que não viu Christian batendo em Sophia, mas atribui a morte da filha ao ex-companheiro. “Quando eu saí, ele já estava com ela no colo, desacordada. Ele deitou ela no colchão e fez massagem cardíaca, respiração boca a boca nela. Mas, eu estava tão desesperada que eu não sabia o que fazer, que eu não me toquei na hora o que estava acontecendo”, relatou no dia 5 de dezembro.

Já Christian alega que dormiu o dia todo sob efeito de drogas e álcool. Disse que foi despertado pela mulher. “Quem me acordou foi a Stephanie falando que a Sophia não estava bem. Quando eu vi, ela já estava com a boca roxa e convulsionando”.

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