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Capital

Líder de quadrilha de traficante levava vida de luxo em MS

Droga era adquirida no Paraguai, depois era levada para um depósito na Capital e de lá, para outros estados

Geisy Garnes | 17/12/2021 06:40
Líder de quadrilha de traficante levava vida de luxo em MS
Lancha Focker 205 comprada por Heitor. (Foto: Retirado do processo)

Apontado como líder da quadrilha investigada pela Operação Aqueus, realizada pela Polícia Federal na terça-feira (14), Heitor Ferreira Gomes, conhecido como “Heitorzinho” ou “Gordinho”, acumulava bens e vivia uma vida de ostentação com o dinheiro do tráfico de drogas.

O grupo criminoso é investigado desde 2019, mas ao longo da apuração, os policiais encontraram indícios de viagens frequentes de Heitor na “rota do tráfico” muito antes disso. Ele sempre estava na companhia de Alexando da Silva Paixão, o “Monstrão”, hoje, apontado como seu sócio no esquema de tráfico.

A ligação dos dois começou a ser “rastreada” em 2013. Por várias vezes, foram abordados nas rodovias do estado, que ligam o Brasil ao Paraguai. Foram investigados também por roubo e até por perturbação em um rancho que pertence a Heitor, às margens de um rio.

Todas as ocorrências envolvendo os dois levam a polícia a acreditar que o esquema liderado por ele “sobrevive” há muitos anos em Mato Grosso do Sul. A prova, aponta a investigação, é a vida de luxo que ambos viviam, mesmo sem qualquer emprego fixo ou renda comprovada.

A maior parte das “riquezas” está concentrada na mão de Heitor. Desde 2019, as investigações da Polícia Federal já revelavam vários terrenos e casas pertencentes supostamente ao traficante. Os documentos, no entanto, sempre eram registrados em nomes de outras pessoas. A maioria, parentes dele.

A principal “laranja” do esquema, que consta no processo, é a mulher de Heitor, Jaqueline dos Santos Duarte. É em nome dela que parte dos imóveis da família estão. Oficialmente dona de uma loja de roupas, com renda média de R$ 2 mil mensal, a mulher ostentava um padrão de vida muito mais alto do que podia “bancar”.

Em poucos meses de apuração, a polícia encontrou vínculo financeiro de Jaqueline com 48 pessoas físicas e 16 pessoas jurídicas, a grande maioria com passagens pela polícia por crimes como contrabando, descaminho, documentos falsos, tráfico de drogas. Entre os nomes, havia ainda pilotos de aeronaves e empresários.

Mais de uma vez, os policiais foram à loja de Jaqueline, mas sempre encontraram as portas fechadas, mesmo em horário comercial. Ainda assim, durante as apurações, ela dirigia um Honda HRV. O marido, que também não tinha renda comprovada, revezava entre uma caminhonete Dodge Ram e uma S-10.

O investigado também era proprietário de um rancho, usado frequentemente pela família e pelos amigos – entre eles, a irmã e o cunhado, que moravam em uma das casas que verdadeiramente pertenciam a Heitor, mas assim como várias outras, estavam em nome de terceiros.

A propriedade às margens do rio, além de uma construção luxuosa, tinha até uma lancha Focker 205. Para a polícia, toda a família de “Gordinho” sabia sobre os “negócios ilícitos”, aproveitavam a vida de ostentação do parente e ajudavam a “pulverizar” o dinheiro do tráfico cedendo suas contas e nomes para disfarçar os bens comprados com o dinheiro da droga.

Líder de quadrilha de traficante levava vida de luxo em MS
Arma apreendida com Heitor na terça-feira. (Foto: PF)

Além de terrenos, barracões e veículos, os policiais descobriram que Heitor chegou a pagar o valor integral de uma fazenda na região de Água Clara em dinheiro. Apesar da grande movimentação financeira e o evidente poder aquisitivo, quando foi preso, o suspeito afirmou ganhar R$ 4 mil por mês, somado a comissões de vendas de gado que fazia para o patrão.

Na terça-feira (14), Heitor também foi preso em flagrante com uma espingarda, mas negou ser o dono da arma.

O esquema – Segundo as investigações, a droga era adquirida no Paraguai pelos líderes do grupo. Depois, a carga era levada para um depósito em Campo Grande, localizado no Bairro Chácara das Mansões.

Na Capital, a droga era recebida pelos caseiros do depósito, identificados como Francisco Amaro Gomes, conhecido pelos criminosos como Chico e a esposa dele, Ana Paula Pereira da Rocha, a Tia. Eles realizavam os pagamentos e organizavam a carga para novo transporte.

De Campo Grande, a droga era levada para Três Lagoas, cidade base do grupo criminoso, e de lá, para outros estados, principalmente interior e litoral paulista e Minas Gerais. Todas as negociações, segundo o relatório de investigação, eram feitas por WhatsApp, para evitar a interceptação da polícia.

Ainda conforme as investigações da Polícia Federal, para os pagamentos, os líderes da organização forneciam contas bancárias de “empresas fantasmas” para ocultar a origem do dinheiro. Para despistar o rastreamento dos valores, os depósitos eram feitos de forma fracionada, por várias pessoas diferentes.

Além disso, foi constatado que parte do dinheiro era enviado diretamente aos fornecedores da droga por meio dessas contas fantasmas e outra parte entregue aos líderes em espécie ou transferido para “laranjas”, que eram principalmente parentes próximos de Heitor. Nas apurações, esses familiares formam o núcleo familiar.

Outra parte do pagamento também era feita com veículos, que mais tarde, eram transferidos para nomes de terceiros e negociados em revendedoras de Três Lagoas ou da fronteira.

A Operação Aqueus, realizada na terça-feira, 14, cumpriu 63 mandados de busca e apreensão, 23 mandados de prisão preventiva e 7 mandados de prisão temporária. Entre os alvos, quatro policiais militares de Ponta Porã foram investigados por "entregar" fotos identificando agentes federais a traficantes.

Durante as investigações, houve ainda sequestro de 13 imóveis e o bloqueio judicial das contas bancárias de 33 pessoas, físicas e jurídicas.

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