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Capital

Mãe aguarda há 5 anos punição do responsável pela morte do filho

Adolescente tinha 15 anos quando morreu, depois de veículo ser atingido por carro que cruzou preferencial

Luciana Brazil | 19/02/2013 08:53
Mãe se desespera ao lembrar que a cabeça do filho foi decepada no acidente. (Fotos:Simão nogueira)
Mãe se desespera ao lembrar que a cabeça do filho foi decepada no acidente. (Fotos:Simão nogueira)

O desgosto de uma mãe ao perder o filho de 15 anos em um acidente de carro parece ser ainda mais doloroso diante da luta em punir o culpado pelo desastre. Kaique Gabriel Britto Sena morreu no dia 9 de agosto de 2008 no cruzamento da Via Parque com a Santa Barbara. A investigação apontou que Anastácio da Silva Yarzon Ortiz, à época com 18 anos, dirigindo um Pálio, cruzou a preferencial sem respeitar a sinalização, atingindo o veículo Gol onde estavam seis jovens.

Kaique morreu na hora e o jovem Dener Cesar Nunes de Araújo de 19 anos faleceu no hospital. Outros dois rapazes que estavam no Gol ficaram gravemente feridos.

A última decisão judicial sobre o acidente fez a mãe de Kaique, Marleide Moreira Britto, 47 anos, se sentir impotente e derrotada. “Sinto como se todos os dias eu tivesse enterrado meu filho. Nada vai fazer ele voltar. Mas quero que a justiça seja feita. Se ele (Anastácio) não for para o júri, pra mim não vai ter sido feito justiça”.

E continuou: “Me sinto derrotada e impotente”, disse cobrindo o rosto e secando as lágrimas.

O processo impetrado pelo MPE (Ministério Público Estadual) à época corria pela 1° Vara do Tribunal do Júri. Anastácio enfrentaria, assim, o júri popular. Porém, a decisão dos desembargadores do Tribunal de Justiça no último dia 28 de janeiro acatou o recurso da defesa do réu, que tornou a acusação menos grave, transformando o crime em homicídio culposo, que não vai a júri. A decisão do colegiado foi de dois votos contra um.

“Isso é um absurdo. Não posso aceitar uma coisa dessas. O rapaz mata duas pessoas, uma delas meu filho, e depois de beber, ainda não tinha habilitação e dizem que ele não tinha intenção de matar?”, questionou revoltada.

No dia vestígios do acidente estavam espalhados pela Via Parque.  (Foto: Arquivo)
No dia vestígios do acidente estavam espalhados pela Via Parque. (Foto: Arquivo)
Peritos coletavam informações no local do acidente, no dia seguinte a tragédia.
Peritos coletavam informações no local do acidente, no dia seguinte a tragédia.

Em 2011, Anastácio confirmou ter bebido cerveja antes do acidente. O teste do bafômetro acusou presença de 0,93 milímetros de álcool por litro de sangue. Ele foi preso, mas solto sete dias depois por um habeas corpus.

Segundo Marleide, consta nos autos do processo que o Palio conduzido por Anastácio estava a 120 Km/h. “Estouro os órgãos do meu filho por dentro. Decepou a cabeça do meu filho. Estou me sentindo derrotada. Até agora o Anastácio não foi punido de nada. Matou duas pessoas e não sofreu. Está vivendo tranquilamente”.

De acordo com a promotoria que acompanha o caso, o MPE ainda não foi intimado sobre a decisão do TJ. Ao tomar conhecimento, e não concordando com a decisão do Tribunal de Justiça, o MPE deverá recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Se houver parecer favorável ao Ministério Público, o réu pode recorrer ainda ao STF (Supremo Tribunal Federal). Porém, se a decisão do STJ for positiva para o réu, quem apela ao Supremo Federal é o MPE.

“Não entendo como pode agora alguém ler o inquérito e dizer que não houve intenção de matar. O outro menino que morreu era irmão do melhor amigo do Kaique. A mãe dele está acabada”.

Convivendo diariamente com a dor, Marleide evita passar por lugares onde o filho costumava ficar. “Não passo na frente da praça que fica perto da minha casa. É só olhar para o lá que eu me lembro de alguma coisa”.

Marleide mostra orgulhosa as fotos do filho na rede social.
Marleide mostra orgulhosa as fotos do filho na rede social.
Foto de Kaique tirada dias antes do acidente está estampada no perfil do Facebook de Marleide.
Foto de Kaique tirada dias antes do acidente está estampada no perfil do Facebook de Marleide.

Todos os dias Kaique declarava seu amor e fazia questão de repetir que jamais ia viver longe da mãe. “Ele dizia todo dia que nunca ia se separar de mim. Ele brincava que se arranjasse uma namorada que não gostasse de mim, ele ficaria solteiro. Ele era carinhoso demais”.

Marleide conta que precisa se manter firme, apesar da dor. Os outros dois filhos cobram, de alguma forma, que a mãe esteja firme.

Um ano antes do acidente, Marleide havia se separado do marido e os filhos estavam morando com a avó materna. “Nós estávamos nos preparando para morarmos todos juntos. No dia do acidente passei o dia inteiro com ele”, se recorda. “Agora quero justiça. Que ele vá a júri popular”.

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