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Para impedir pulverização de veneno, indígenas voltam a ocupar fazenda em MS

Ato iniciado pela comunidade neste domingo (21) reivindica a presença da Funai e da Força Nacional

Por Mylena Fraiha | 21/09/2025 18:29
Para impedir pulverização de veneno, indígenas voltam a ocupar fazenda em MS
Indígenas levam faixa para reivindicar a demarcação da TI Guyraroká, em Caarapó (Foto: Aty Guasu/Divulgação).

Sob a alegação de impedir o uso de agrotóxicos, indígenas guarani-kaiowá da TI (Terra Indígena) fecharam a porteira e ocuparam a Fazenda Ipuitã, em Caarapó, a 274 km de Campo Grande, neste domingo (21). Desde 2019, a comunidade denuncia casos de intoxicação pelo uso de agrotóxicos próximo à área ocupada.

RESUMO

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Indígenas Guarani-Kaiowá ocuparam a Fazenda Ipuitã, em Caarapó (MS), no domingo (21), para impedir a pulverização de agrotóxicos. A comunidade denuncia intoxicações desde 2109 e afirma que mulheres, crianças e idosos são os mais afetados. A TI Guyraroká, onde vivem cerca de 90 indígenas em 50 hectares, é cercada por monoculturas e sofre com a contaminação.A ocupação busca pressionar pela demarcação da terra indígena, declarada de posse tradicional em 2009. O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) alerta para o risco de violência e pede a mediação da Funai e o apoio da Força Nacional. O MPF já ajuizou ações contra o uso irregular de agrotóxicos na região. Em 2019, seis crianças e adolescentes foram intoxicados. Recentemente, quatro toneladas de sementes da comunidade foram perdidas devido à contaminação.

A informação foi divulgada pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário). Em nota, a entidade afirmou que equipes da Polícia Civil, da Polícia Militar e do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) estiveram no local alegando a existência de reféns, o que foi negado pelos indígenas. Até o momento, não há registro de confronto ou agressões entre fazendeiros e ocupantes.

O delegado titular do DOF, Guilherme Scucuglia, disse ao Campo Grande News que a corporação “monitora a situação”, mas não confirmou o envio de policiais à área.

De acordo com Matias Rempel, coordenador do Cimi, a comunidade relatou vários episódios de pulverização neste ano. Ele destacou que mulheres, crianças e anciãos compõem a maioria da retomada e que os indígenas pedem a mediação da Funai, acompanhada da Força Nacional.

“Na verdade, tem dois motivos para a retomada. Há uma situação objetiva, que é a violação: os agrotóxicos despejados contra a comunidade envenenam as pessoas e destroem qualquer possibilidade mínima de soberania alimentar, trazendo fome. O próprio veneno fere a produção e, ao mesmo tempo, transforma o lugar em um paraíso para insetos que fogem da pulverização e encontram ali uma ilha de alimentos”, explica Matias.

Ele acrescenta que, em mais de uma ocasião, aulas foram interrompidas na escola indígena devido à contaminação. “É uma violação a mais que, junto com as ameaças e a vida violada, fez a comunidade perder a paciência. Então, no final, eles avançam para garantir mais um pedaço da área enquanto a demarcação é negligenciada”.

Segundo Matias, o estopim da ocupação foi justamente a intensificação das pulverizações. “A grande pauta é a demarcação porque garante que as violações sejam tratadas estruturalmente. Porém, nesse caso concreto, o estopim da retomada foi a situação dos agrotóxicos.”

Em nota, o Cimi alerta para o risco de novos episódios de violência, sobretudo à noite. “A própria TI Guyraroká sofreu, na história recente, um conjunto de violências decorrente da disputa fundiária, registrando remoções forçadas, ameaças, agressões e atropelamentos”, diz a entidade.

Além disso, segundo Matias, até as 16h deste domingo, a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) não havia comparecido à retomada, e a chegada da Força Nacional ainda era aguardada pelos indígenas.

A reportagem entrou em contato com a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) para saber qual foi a atuação do DOF e dos demais policiais na ocorrência e se de fato havia reféns no local. O espaço segue aberto para manifestação da pasta.

Denúncias recorrentes - Conforme noticiado em outubro do ano passado, indígenas registraram em vídeo um avião pulverizando agrotóxicos sobre a Terra Indígena Guyraroká. A “chuva tóxica” atingiu casas, a escola e áreas de circulação. Desde 2018, fazendeiros no entorno do território vêm sendo acusados de despejar produtos químicos sobre as aldeias.

A comunidade, composta por cerca de 90 indígenas, ocupa pouco mais de 50 hectares cercados por monoculturas e perdeu recentemente quatro toneladas de sementes devido ao avanço de insetos e micro-organismos atraídos pela degradação ambiental causada pelos venenos, segundo o Cimi.

É importante mencionar que a Terra Indígena Guyraroká foi declarada de posse tradicional dos guarani-kaiowá em 2009 pelo Ministério da Justiça.

Para impedir pulverização de veneno, indígenas voltam a ocupar fazenda em MS
Em registro feito em outubro, é possível ver aviões de fazendeiros instalados em área dos guarani-kaiowá, em Guyraroká, lançando agrotóxicos sobre as plantações (Foto: Comunidade Guyraroká/Cimi).

O MPF (Ministério Público Federal) já ajuizou ações civis públicas para conter o uso irregular de agrotóxicos em Caarapó. Em 2019, quatro crianças e dois adolescentes precisaram de atendimento médico após intoxicação causada por produtos aplicados em uma fazenda vizinha, localizada a apenas 50 metros da escola indígena.

Em julho deste ano, operação conjunta do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), da Força Nacional e das polícias resultou na apreensão de 202 quilos de agrotóxicos contrabandeados do Paraguai em depósitos clandestinos dentro de uma fazenda situada em área declarada como Terra Indígena Guyraroká.

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