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Capital

"Matou meu filho": mãe de guarda morto é retirada de júri após acusar réu

Ex-guarda civil Marcelo Rios prestava depoimento quando Terezinha Brandão levantou e passou a gritar

Por Ana Paula Chuva e Dayene Paz | 17/09/2024 17:05

Acompanhando o segundo júri da Operação Omertà da planteia, a dona de casa Terezinha Brandão, 63 anos, mãe do guarda municipal Fred Brandão dos Reis, acabou se alterando e precisou ser retirada do plenário ao chamar o ex-guarda municipal Marcelo Rios de mentiroso. O réu prestava depoimento e respondia as perguntas da defesa na tarde desta terça-feira (17).

Marcelo falava sobre o período em que passou na sede da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) quando Terezinha se levantou e foi em direção ao réu gritando: “Para de ser mentiroso, Marcelo! Deixa de ser mentiroso. Você matou meu filho. Você matou meu Fred, desgraçado. Você deu um tiro na boca do meu filho, seu desgraçado”.

Rapidamente, policiais militares que acompanham as sessões do júri retiraram a mulher e o juiz Aluízio Pereira dos Santos determinou que não a deixassem mais entrar na sala. A situação foi registrada em vídeo acima. Após sair, ela continuou gritando no saguão e foi levada para outra sala.

Aluízio dizia para o advogado Marcio de Campos Widal, que atua na defesa do ex-guarda, para que ele continuasse com as perguntas, enquanto Marcelo comentou que não entendeu o que aconteceu. O defensor então pediu que o cliente tomasse água e respirasse. “Eu não tenho nenhum processo doutor”, disse o ex-guarda.

Widal então pede a anulação do julgamento. “Excelência, por dever do ofício, eu quero registrar em ata o acontecimento do auditório e gostaria de consignar o pedido de nulidade do julgamento pelo fato poder influenciar na imparcialidade e isenção dos jurados”, pontuou o defensor.

Os promotores do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) se opuseram por entenderem que o fato em nada prejudicaria, já que existem outros acusados sendo também julgados no processo e que os jurados têm capacidade de fazer julgamento justo.

“Esse julgamento é extremamente técnico. Feito com base em prova feita pela acusação e pela defesa. Um fato isolado como esse jamais macularia o julgamento. Até porque os jurados são suficientemente idôneos e inteligentes para separar esse fato que não tem nada a ver com o que está sendo julgado e que vá os contaminar”, declarou Moisés Casarotto, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado).

Por fim, o juiz Aluízio alertou que as acusações feitas por Terezinha não tinha relação com o processo e que o júri é um ato público, não podendo ser feito de portas fechadas. Além disso, afirmou não ser a primeira vez que uma situação como esta acontece e há uma estrutura preparada para resolver.

“Eu não vejo motivo nenhum para dissolver o Conselho de Sentença, supondo que eles serão influenciados por uma palavra de uma pessoa. Um destempero de versão apresentada pelo acusado e isso pode ser melhorado com os debates, então podemos prosseguir normalmente com os debates”, finalizou o magistrado consultando os jurados e dando uma pausa no julgamento.

Caso - Fred Brandão dos Reis morreu com tiro na boca no dia 20 de abril de 2019. Naquela madrugada, por volta das 5h, as polícias Militar e Civil foram acionadas para ir a endereço no Jardim Alto São Francisco, em Campo Grande, onde um guarda municipal supostamente havia se suicidado.

Conforme relatado à polícia, o servidor teria tirado a própria vida após estuprar uma menina de 12 anos com quem tinha grau de parentesco, crime que não foi confirmado depois, ao longo das investigações.

O caso chegou a ir para as mãos dos promotores da Operação Omertà, por conta da ligação com Marcelo Rios e as inconsistências na versão de suicídio, como a inexistência de vestígios de chumbo nas mãos dele. O resíduo deveria ter ficado na pele da pessoa que atira.

A investigação foi realizada por meses, mas esbarrou em provas mais consistentes da participação de envolvidos na Omertà. O caso foi arquivado, mas com a ressalva de reabertura com novos indícios.

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