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Capital

Médicos furam plantão mais uma vez e deixam crianças sem atendimento

Na Vila Almeida, falta de pediatra faz pacientes infantis voltarem para casa sem consulta

Anahi Gurgel | 22/03/2017 17:46
Dona de casa com seus filhos em frente à UPA Vila Almeida. "Não tem pediatra hoje". (Foto: Anahi Gurgel)
Dona de casa com seus filhos em frente à UPA Vila Almeida. "Não tem pediatra hoje". (Foto: Anahi Gurgel)

Crianças sem atendimento, jovens, idosos e até gestantes passando mal e esperando por mais de 4 horas para fazer consulta com um médico. Foi essa a situação flagrada pelo Campo Grande News na tarde desta quarta-feira (22) na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vila Almeida, onde a escala médica não estava sendo cumprida na sua totalidade.

Logo na entrada da unidade de saúde, duas mães estavam voltando para casa com seus filhos doentes sem conseguir consulta com o único pediatra escalado para o período da tarde. O médico não cumpriu o plantão.

O problema, em um setor já conhecido por ter o caos na rotina, tem sido recorrente. O próprio prefeito, Marquinhos Trad (PSDB), vem cobrando providências da classe médica desde que assumiu a gestão municipal, sem descartar a possibilidade de exonerar quem não cumpre o plantão. 

“Meu filho de 5 anos está com alergia forte, reclamando muito. Ontem, liguei no Samu para saber se aqui estava tendo pediatra e me informaram que não. Hoje, liguei de novo e disseram que teria medico, mas cheguei aqui e nada. Foi viagem perdida e meu filho continua mal”, conta a dona de casa Michelle Nunes Pereira, 23.

Depois de não encontrar pediatra na UPA da Vila Leblon na noite passada, Eliane Maria da Silva, 42, procurou a unidade da Vila Almeida com o filho de 6 anos, com suspeita de caxumba.

Eliane e o filho de 6 anos, com suspeita de cachumba, indo embora de unidade de saúde sem consulta com pediatra. (Foto: Anahi Gurgel)
Eliane e o filho de 6 anos, com suspeita de cachumba, indo embora de unidade de saúde sem consulta com pediatra. (Foto: Anahi Gurgel)

“Vim até aqui e me informaram que não tem pediatra. Já tinha levado ele e o irmão gêmeo no Leblon ontem à noite, mas não tinha médico nem remédio para febre. Tive que me virar para comprar dipirona. Um deles melhorou e esse está febril e mole. Não sei o que vou fazer agora”, disse Eliane, que está desempregada.

No interior da UPA, a fila à espera por atendimento médico estava enorme. Pelo menos 50 pessoas de todas as idades, reclamando dos mais variados problemas, aguardavam ansiosas pela sua vez.

“Estou aqui há quase 4 horas. Estou com muita dor no abdômen. Estou tossindo muito e sinto que está forçando meu corpo. Não me atendem. Vão esperar eu perder meu filho?”, questiona, expondo sua indignação, Jéssica Bonrrusque dos Santos, 22.

Em uma cadeira de rodas, sentindo muita dor no joelho, a aposentada Neuza Maria da Conceição, de 69 anos. “Tenho que esperar, né? Não vou embora porque preciso de remédio”, disse.

Os casos de pessoas que passaram pelo posto eram muitos. Alguns registrados pelo Campo Grande News. Luis Maurício, de 16, estava ardendo em febre; dona Olcair de Oliveira, de 69, que levou uma mordida de cachorro e foi embora porque não tinha vacina antirrábica; e até da Nadir Evangelista, que “cercou” um dos médicos que já havia terminado o plantão para atender a filha de 20 anos, que sofre de Síndrome de Borderline e bipolaridade.

Pela tabela divulgada nesta quarta no site da Prefeitura, a unidade deveria ter 4 médicos plantonistas na tarde de hoje, com plantão das 13h às 19h. De acordo com informações do gerente da UPA Vila Almeida, Bruno Henrique Rodrigues, apenas 3 especialistas cumpriam a escala no momento.

“Um profissional está responsável pelo atendimento geral, outro específico para a área vermelha, o terceiro fica cuidando dos pacientes em observação, mais o pediatra, que não compareceu ao trabalho por problemas pessoais”, explicou.

“Nesse período, entre janeiro e abril, muitos profissionais pedem exoneração para fazer residência médica em outros estados. É uma exigência da classe trabalhista deles”, observa.

Gestante de 5 meses, Jéssica aguardava atendimento médico na tarde desta quarta (22), na Vila Almeida. (Foto: Anahi Gurgel)
Gestante de 5 meses, Jéssica aguardava atendimento médico na tarde desta quarta (22), na Vila Almeida. (Foto: Anahi Gurgel)
Jovem aguarda atendimento em posto de saúde 24 horas na Vila Almeida. (Foto: Anahi Gurgel)
Jovem aguarda atendimento em posto de saúde 24 horas na Vila Almeida. (Foto: Anahi Gurgel)
Pacientes aguardam atendimento em unidade de saúde 24 horas da Vila Almeida. (Foto: Anahi Gurgel)
Pacientes aguardam atendimento em unidade de saúde 24 horas da Vila Almeida. (Foto: Anahi Gurgel)
Neuza Aparecida, 69 anos, na fila de espera por mais de 3 horas. (Foto: Anahi Gurgel)
Neuza Aparecida, 69 anos, na fila de espera por mais de 3 horas. (Foto: Anahi Gurgel)

Mais demora – Na UPA do Coronel Antonino, atendentes confirmaram que todos os 12 médicos escalados para plantão na tarde desta quarta-feira (22) estavam cumprindo a escala. Do total, 6 eram pediatras. 

Ainda assim, dezenas de pacientes esperavam atendimento. 

"Cheguei às 8h20 e só fui atendido quase 4 horas depois ", relatou o desenhista industrial Wellington Silva Bastos, 25. Já passava das 14h e ele ainda aguardava aplicação de soro para melhorar das dores no corpo e combate a febre. 

"Venho bastante aqui e muitas vezes não tem médico, porque eles faltam. A procura aqui é muito grande e quando isso acontece muita gente vai embora sem atendimento, ou desiste, por causa da demora", conta.  

Nesta manhã, o prefeito, chegou a afirmar que a classe médica não aceita fiscalização e não tem espírito coletivo, se referindo à nota de repúdio divulgada ontem (21) pelo SindMed-MS (Sindicato dos Médicos do Estado).

"Eles não admitem que eu chegue no posto por volta das 23h, como estou fazendo, para saber se o médico chegou em horário certo. Aí começam as retaliações", disse.

A nota publicada pelo SindMed denuncia falta de remédios nas unidades, precariedade nas estruturas dos postos e ausência de pelo menos 500 médicos para compor a escala, entre outros problemas. 

Marquinhos destacou que alguns médicos cumprem o plantão normalmente, mas outros apenas assinam a folha de presença e não atendem os pacientes. Foi exatamente o que mostrou o Campo Grande News no último domingo (19), nas UPAs Universitário e Moreninhas, quando pacientes estavam sendo dispensados pela falta de profissionais. 

Para amanhã (23), está agendada reunião entre a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e médicos pediatras para tentar organizar as escalas. A proposta é ter profissionais pelo menos em 4 unidades com atendimento 24 horas.

Wellington Silva na UPA Coronel Antonino; quase 4 horas de espera por atendimento. (Foto: André Bittar)
Wellington Silva na UPA Coronel Antonino; quase 4 horas de espera por atendimento. (Foto: André Bittar)
Sala de espera da UPA Coronel Antonino na tarde desta quarta-feira (22). (Foto: André Bittar)
Sala de espera da UPA Coronel Antonino na tarde desta quarta-feira (22). (Foto: André Bittar)
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