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Capital

Na Cidade de Deus, pobreza faz até os adultos esperarem pelo Papai Noel

Paula Maciulevicius | 14/12/2011 10:30
Sem árvore e presentes, o espírito natalino está ali, no sorriso das crianças, que fazem dos animais os brinquedos de Natal. (Foto: Simão Nogueira)
Sem árvore e presentes, o espírito natalino está ali, no sorriso das crianças, que fazem dos animais os brinquedos de Natal. (Foto: Simão Nogueira)

Na Cidade de Deus, no bairro Dom Antônio Barbosa, são elas que acreditam em Papai Noel. A fantasia de criança não se perdeu com o passar dos anos, parece ter se fortalecido com as tristes experiências da vida dessas mulheres.

Entre a pobreza e esperança de conseguir um lar, as mães da comunidade próxima ao Lixão da saída para Sidrolândia têm dentro de si a crença no “bom velhinho” até mais forte do que os próprios pequenos. No coração, carregam o desejo de que a chuva presenteie o Natal com ausência.

"Eu só estou pedindo a Deus para que não chova. É terrível, as crianças entram em desespero". O relato é de Andriela Rocha Gregório, 24 anos. Este será o primeiro Natal dela e dos filhos, Gilson e Yasmin, em um barraco.

Depois de perder o emprego e ser despejada da casa onde morava, o que a deixa mais desolada não é nem tanto o dia 25, mas a pergunta de Yasmin. "Mãe, eu vou ganhar alguma coisa? Mãe, eu vou?"

Os olhos se enchem de água. Sem ter o que falar Andriela nem responde à menina. No rosto da mãe o desespero de não poder se quer dar um bolo de aniversário à filha que hoje completa 6 anos.

Os brinquedos das crianças se resumem à caixinha. Apenas dois carrinhos, uma moto e uma boneca. (Foto: Simão Nogueira)
Os brinquedos das crianças se resumem à caixinha. Apenas dois carrinhos, uma moto e uma boneca. (Foto: Simão Nogueira)

"Ele tem mais consciência do que ela, por ser grandinho. Às vezes ele pede alguma coisa e eu não tenho como comprar e falo que agora não da, quando tiver dinheiro, a mãe compra, mas ela não. Faz tempo que ela esta falando que é o aniversário dela, que quer bolo, que quer festa, é criança".

Nas condições mais precárias, em meio a galhos secos, terra e sem ter como fugir da fumaça do lixão, na imaginação das crianças, o cenário é outro. Sem presentes debaixo de uma árvore de Natal, a diversão são os bichinhos, Brutus e Serafina. Cachorro e gata que, na mão deles, viram brinquedos.

Dentro da casa de apenas um cômodo, Gilson pega a caixa onde guarda os brinquedos. Aos 7 anos, tudo se resume ao que tem nas mãos. Dois carrinhos, uma moto e uma boneca quebrada, de Yasmin.

Corintiano e santista, o menino sonha em ser jogador de futebol. "Eu sou Corinthians, o Santos é porque é o Neymar", tenta explicar. De Natal, ele não quer presente caro, nem eletrônico, apenas uma bola de futebol. E responde "não quero mais nada não". Para ele, sonhar de ser Neymar já esta bom.

A menina, aniversariante do dia responde toda sorridente, depois de acabar de passar batom para sair na foto, que quer uma boneca. "Daquela que fala, que chora, que tem chupeta. Eu vi na tv".

Para eles, Papai Noel existe em todas as idades. (Foto: Simão Nogueira)
Para eles, Papai Noel existe em todas as idades. (Foto: Simão Nogueira)

Aos 6, 7 e até 24 anos se acredita em Papai Noel nesta casa. A história do saco de presentes, de um trenó e brinquedos debaixo da árvore permanecem. "Nunca pode perder a esperança e depois de adulto, volta a acreditar sim na esperança né? Que nossos pedidos vão se realizar. Se eu não acreditasse em Papai Noel, não ia aguentar viver em um barraco".

Na Cidade de Deus não é só o espírito natalino que reúne a vizinhança. Mesmo com poucos barracos, é só dedicar um pouco de tempo ali que histórias e sonhos vem surgindo das casas. A solidariedade entre as mães já exemplifica por si só o que deve ser o Natal.

"Aqui a gente se ajuda, eu venho Dri você tem alguma coisa? E ela me dá, ou se ela não tem a gente se junta. Quem tem água dá para a outra", conta a menina mulher Juliana de Almeida Silva, 18 anos e com uma bebê nos braços.

Acreditar em Papai Noel não se resume a um bom velhinho apenas. "Sempre tive a fantasia e quando cresci, Papai Noel virou aquelas pessoas que ajudam. Quando eu tinha 10, 11 anos eu escrevi uma cartinha pedindo uma bicicleta. Eu ganhei, era verdinha. Eu nunca vou esquecer, por causa disso que eu acredito", fala Juliana.

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