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Capital

Para construir via, município quer acabar com área invadida ha 2 anos

Zana Zaidan | 14/05/2014 16:28
À esquerda do poste, uma faixa da Marechal Mallet, à direita, a parte "abandonada", que hoje é ocupada por 60 famílias (Foto: Cleber Gellio)
À esquerda do poste, uma faixa da Marechal Mallet, à direita, a parte "abandonada", que hoje é ocupada por 60 famílias (Foto: Cleber Gellio)

Com ordem de despejo em mãos, 60 famílias que ocupam uma área pública no Bairro Leon Denizard de Conti, em Campo Grande, estão prestes a ficar sem ter onde morar. No local onde foram levantados os barracos há pelo menos dois anos, deveria passar uma faixa da avenida Marechal Mallet, mas, sem asfalto ou capina da via, as pessoas foram se instalando e construindo as casas, contam os demais moradores da região. 

No dia 28, parte das famílias foi notificada pela prefeitura, que deu cinco dias para que deixassem a área. O prazo venceria no dia 2, mas, desde a visita dos fiscais, os moradores não tiveram notícias sobre a possibilidade de despejo.

Por ali, as histórias se cruzam e se transformam em uma só: todos esperam há anos por uma casa popular, que nunca veio, e, sem condições de pagar aluguel, vivem na irregularidade. “Não queria ter que passar por isso, não saber como será o dia de amanhã. Mas era o aluguel ou comprar comida para os meus filhos”, conta Shirley Merida, 33 anos, que mantém a casa com ajuda dos filhos mais velhos.

Raquel foi a primeira a ser notificada, e aguarda uma casa popular há dez anos (Foto: Cleber Gellio)
Raquel foi a primeira a ser notificada, e aguarda uma casa popular há dez anos (Foto: Cleber Gellio)
Shirley foi com os filhos, e depois levou o irmão, sobrinhos e o pai (Foto: Cleber Gellio)
Shirley foi com os filhos, e depois levou o irmão, sobrinhos e o pai (Foto: Cleber Gellio)

Inscrita há 14 anos na Ehma, ela pagava R$ 360 para morar em uma casa no Estrela Dalva com os quatro filhos, que têm entre 8 e 16 anos. Depois dela, o irmão, que têm dois filhos de 14 e 15, construiu um barraco vizinho, seguido do pai, que cuida da neta de 11 anos desde que a filha faleceu.

Primeira a ser notificada, Raquel Herculano, 39 anos, é uma das poucas a ter uma casa de alvenaria. Foram R$ 2 mil investidos, enquanto a casa popular não vem. “Vou perder tudo, mas fazer o quê? Só quero ter uma casinha que seja minha de verdade, nem que a gente receba outro lote e eu tenha que construir de novo”, afirma ela, que vive de diárias e dos ganhos que o filho de 21 anos obtém com serviços de pedreiro.

A dona de casa Tainá Hilário Gomes, 18 anos, chegou com o marido há dois. Apesar de não ter sido notificada, vive um clima de tensão. “Tenho medo de que eles cheguem aqui e eu seja próxima”, relata. Por isso, ela passou em cada um dos barracos, onde faz um levantamento de quantas pessoas vivem no local, e constatou que são 60 famílias. “Quero entregar para prefeitura e mostrar nome por nome. Quando perceberem quanta gente mora aqui, quantas crianças têm, espero que se sensibilizem e façam alguma coisa por nós”, prevê.

Famílias inteiras se instalaram na área pública (Foto: Cleber Gellio)
Famílias inteiras se instalaram na área pública (Foto: Cleber Gellio)
Mato e lixo tomam conta do lugar onde deveria passar uma avenida (Foto: Cleber Gellio)
Mato e lixo tomam conta do lugar onde deveria passar uma avenida (Foto: Cleber Gellio)

Do outro lado – Do outro lado da avenida, onde os imóveis são regularizados, os moradores acreditam que o abandono da área deu brecha para que as famílias se instalassem.

“Nunca vieram fazer uma capina nesse mato. As pessoas passam, jogam lixo, e nunca passou uma equipe de limpeza. É um descaso, quem mora aqui está abandonado”, conta a auxiliar de serviços gerais Meire Luiza Paula, que mora no bairro há sete anos.

Sem asfalto, a rua se transforma em um rio de lama, sempre que chove. “Bastam dez minutos. Qualquer chuvinha e os ônibus já não conseguem passar”, acrescenta.

Conforme a Semadur (Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), que emitiu o documento, seis famílias ocupam a área pública, entre as quadras 184 e 169 e, por isso, foram notificadas. As demais estão em terrenos particulares.

Sobre o prazo de cinco dias, a chefe de Fiscalização e Posturas da pasta, a engenheira Carla Batistoti, explica que se trata de uma formalização. “Entendemos que eles não sairão em cinco, mas notificamos com antecedência, para que fiquem cientes de que estão ocupando a via pública”.

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