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Capital

PM afirma que não acredita que tiro dado para cima matou enfermeiro

Paula Maciulevicius | 21/03/2013 19:20
Osni Ribeiro Lima, amigo do PM negou que tivesse uma faca no meio da briga, motivo alegado pelo policial para atirar. (Foto: Paula Maciulevicius)
Osni Ribeiro Lima, amigo do PM negou que tivesse uma faca no meio da briga, motivo alegado pelo policial para atirar. (Foto: Paula Maciulevicius)

Cinco meses depois de matar o enfermeiro Ike Cézar Gonçalves e atingir com um tiro de raspão, Max Bruno Souza Leite, o policial militar Bonifácio dos Santos Júnior disse, em audiência na Justiça hoje à tarde, que ainda não acredita que um dos três disparos dados para cima tenha atingido a cabeça da vítima.

Nesta tarde, Bonifácio e o amigo dele, que dirigia o carro na madrugada do crime, Osni Ribeiro de Lima, foram ouvidos na 2ª Vara do Tribunal de Júri, no Fórum de Campo Grande. Também foram ouvidos sete das 14 testemunhas arroladas pela defesa.

O fato - Os disparos foram dados na madrugada do dia 28 de outubro do ano passado, em frente à casa de show Santa Fé, na rua Brilhante. Ike foi morto com um tiro na testa e Max teve a perna atingida de raspão, quando tentava separar uma briga na saída da festa. O PM que estava com o amigo em um Peugeot atirou de dentro do carro e depois desceu efetuando os disparos. Ike estava tentando separar a briga quando, segundo testemunhas, perguntou ao policial porque ele estava atirando. Nesse momento Bonifácio disparou e atingiu a vítima na testa.

Depois do crime, Bonifácio e o amigo fugiram. Os dois foram presos nas respectivas casas e levados para a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do bairro Piratininga.

Na audiência, o PM falou que sempre anda armado até por recomendação para não responder por omissão de cautela e que tinha saído de casa naquela noite apenas para acompanhar Osni.

Ike Cézar Gonçalves foi enterrado no dia em que faria 30 anos. O enfermeiro foi morto em outubro de 2012, com um tiro na testa disparado pelo PM. (Foto: Arquivo/Rodrigo Pazinato)
Ike Cézar Gonçalves foi enterrado no dia em que faria 30 anos. O enfermeiro foi morto em outubro de 2012, com um tiro na testa disparado pelo PM. (Foto: Arquivo/Rodrigo Pazinato)

Bonifácio estava vestido com uma camiseta branca, calça jeans e um tênis. Enquanto as testemunhas eram ouvidas, ele manteve a cabeça baixa em alguns momentos e, em outros, acompanhou as falas, mas sem esboçar reação nenhuma. Estava escoltado e ao lado da mulher.

A esposa de Ike entrou para acompanhar o depoimento do acusado de matar o marido. Tatiana Virgínia Silva de Oliveira deixou a sala muito abalada logo no início. “A pessoa mata e fica aqui rindo? Eu não vou conseguir ficar aqui”, comentou.

O PM assumiu ter bebido dois copos de cerveja e que estava dentro do carro do amigo, já indo embora, quando os veículos à frente pararam. De lá ele deu dois disparos porque viu Osni levando uma gravata e um homem se aproximando com uma faca.

“Pus a mão pra fora e atirei pra cima, não foi na direção de ninguém. Eu desci e dei outro tiro só porque me senti acuado, eu me identifiquei como policial”, disse.

Perante a promotoria e o juiz do caso, Bonifácio disse que ainda hoje fala para o advogado que precisa ver o laudo necroscópico, por não acreditar que o tiro que alega ter dado pra cima, atingiu Ike.

“Como vai pegar e abrir como abriu a munição na cabeça dele. Não pode, eu dei o tiro pra cima. Foi um momento de tensão, de medo. Minha vontade era de atirar pra cima”, repetiu.

Bonifácio fala que se identificou como policial e que as pessoas que brigavam também partiram pra cima dele.
O PM alegou que só se deu conta de que tinha ferido alguém por volta das 5h40, quando militares da Cigcoe (Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais) chegaram até a casa dele para prendê-lo.

Questionado se não recebeu treinamento pela Companhia para enfrentar situações de crise, Bonifácio negou e disse que ficou apenas um mês e meio na Cigcoe, antes de entrar em férias e que não houve tempo de aprender.

O amigo e quem dirigia o carro, Osni Ribeiro de Lima, disse que largou o veículo ligado e no meio da via porque viu dois amigos, Gabriel e Alex, brigando. Ele desceu do carro para separar e também, segundo a versão dele, foi agredido. “Me pegaram de pau, de pancada, quando cheguei o Bonifácio não estava mais lá. Ele só falou vamos embora e depois me comunicou que tinha atirado para cima, eu não vi. Eu estava envolvido na briga”.

Osni nega ter visto que alguém estava com uma faca e que tinha a intenção de feri-lo e que ouviu os três disparos, mas não viu quem atirou. “Eu ouvi dois tiros e continuaram a me bater, no terceiro, eu também corri. Mas eu não vi, eu só ouvi dizer que tinha uma faca”.

A tia da Ike acompanhou toda a audiência. Célia Nascimento, 40 anos, disse que veio representando a irmã. A mãe da vítima está medicada e sob cuidados médicos, depois da morte do filho, ela não consegue mais trabalhar e nem dormir.
“Nem o amigo dele está defendendo o Bonifácio. Eles estavam juntos lá e ele diz que atirou para cima, mas o Ike era mais alto e o tiro pegou na testa. Não tem lógica”, comentou.

Bonifácio foi indiciado por tentativa e homicídio triplamente qualificado. Se condenado ele pode pegar mais de 30 anos de prisão, o PM continua preso no Presídio Militar. Já o amigo, Osni, responde o processo em liberdade.

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