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Capital

"Queria comprar panos e a motoca", diz jovem preso após dois roubos

Nadyenka Castro | 05/04/2012 10:49

Sem passagens pela Polícia, sem vícios e com família estruturada, rapaz foge do perfil dos criminosos, mas, queria consumir

Gabriel, sem vícios, com família estruturada, com emprego. Roubou e depois exibiu a arma no bairro. (Foto: Marlon Ganassin)
Gabriel, sem vícios, com família estruturada, com emprego. Roubou e depois exibiu a arma no bairro. (Foto: Marlon Ganassin)

“Ele perguntou se eu queria ganhar dinheiro fácil e quando eu vi já estava lá”, conta Gabriel Mendes de Souza, de 18 anos, preso após dois roubos, sobre como ‘foi parar’ no crime. “Eu queria comprar panos e a motoca”, revela o motivo, referindo-se a roupas de marca e a uma motocicleta.

Por causa do crime, Gabriel parou o trabalho como gesseiro, não ajuda mais a mãe e levou muitos puxões de orelha dela e das irmãs, todas trabalhadoras honestas, de acordo com ele e com a Polícia. “Eu tinha tudo e perdi tudo”, avalia o jovem que diz estar arrependido e querer voltar à rotina.

Segundo o delegado titular da Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes de Roubos e Furtos), Pedro Espíndola, Gabriel não se enquadra no perfil de assaltantes e foi para o crime motivado pelo consumismo. Motivo pelo qual, segundo a Polícia, tem feito cada vez mais jovens praticar roubos e furtos.

Além do consumismo, o vício em drogas e em álcool também leva pessoas mais novas a entrar para o crime. No caso de Gabriel, o desejo de conseguir dinheiro fácil para 'comprar e comprar' foi a única motivação. "Não sou usuário [de drogas], não bebo [alcóol]. Eu via os meninos com as roupas e pensava: também quero ter", desabafa.

De acordo com o delegado, há alguns anos, os assaltantes eram homens mais velhos, que roubavam para gastar o dinheiro com bebidas. Há também àqueles que roubam para pagar dívidas, para sustentar o vício e, entre os mais jovens, o desejo de consumir comanda.

Conforme Pedro Espíndola, normalmente os bandidos são reincidentes, começaram no crime na adolescência, são usuários de drogas, com família desestruturada, são evadidos ou estão em livramento condicional.

Para o delegado, como Gabriel não se encaixa no perfil, tem grandes chances de voltar a ser o garoto trabalhador e não se envolver mais em crimes. E é isso que o rapaz quer. "Se eu fiz eu tenho que pagar. Estou arrependido e quando sair vou voltar a trabalhar", afirma Gabriel, que um dia antes de fazer a prova para ter a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), em fevereiro, invadiu uma chácara e depois roubou o carro de um pastor.

Apesar de dizer estar arrependido, o jovem diz que gostou de portar arma de fogo e, conforme a Polícia, exibiu o objeto no bairro onde mora, no Aero Rancho, e ainda falou a várias pessoas sobre a pistola 9mm.

Sobre a punição pelo que fez, ele diz. "Liberdade é a melhor coisa que existe". Gabriel foi preso duas vezes. Na primeira por prisão temporária. Na segunda por prisão preventiva. Nesta última ela conta. "Quando os policiais chegaram lá em casa eu arrumei minhas coisinhas e fui. Não precisou nem algemar".

Os crimes - Em fevereiro deste ano, Gabriel, Juliano Silva dos Santos, o “Bijula”, de 29 anos, e Anderson Anselmo Vieira, o “Sorriso”, de 24 anos, invadiram uma chácara no bairro Novo Século e fizeram ao menos nove pessoas reféns, inclusive um bebê de 1 ano e duas crianças. As vítimas ficaram sob a mira dos bandidos por quase 3h.

Eles roubaram vários objetos, dois cães e um carro, que apresentou problema mecânico e foi abandonado. Para continuar a fuga, eles invadiram um culto evangélico para roubar o veículo de um pastor, um Fiat Palio preto. Horas depois o automóvel foi encontrado bairro Coophavila.

Gabriel era um dos bandidos que estava com arma de fogo e declarou não saber que o dinheiro fácil prometido pelo rapaz que conheceu jogando vídeo-game em um bar seria produto de roubo. "Nunca passou pela minha cabeça isso, mas, eu podia fazer o que quando cheguei lá. Os caras iam me matar".

Conforme o rapaz, os comparsas disseram que ele receberia R$ 1 mil. "Mas não tinha dinheiro lá. Não recebi nada e fui preso 48 horas depois". Questionado se continuaria a praticar assaltos se tivesse 'tido lucro', Gabriel ri, abaixa a cabeça e diz: "Não senhora".

Roubos - Segundo o delegado Pedro Espíndola, trabalho realizado pelas Polícias Civil e Militar têm reduzido o número de assaltos em Campo Grande. Conforme ele, a quantidade de roubo no mês de março e no início de abril deste ano é aproximadamente 20% menor em relação aos mesmos períodos do ano passado.

Trio preso pelo assalto na chácara. Os comparsas do Gabriel fizeram outros roubos. (Foto: Marlon Ganassin)
Trio preso pelo assalto na chácara. Os comparsas do Gabriel fizeram outros roubos. (Foto: Marlon Ganassin)
Cachorros também foram roubados na chácara e estavam na casa de Gabriel. (Foto: Marlon Ganassin)
Cachorros também foram roubados na chácara e estavam na casa de Gabriel. (Foto: Marlon Ganassin)
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