Rapaz que invadiu residência de PM morreu asfixiado, afirmam vizinhos
O relato de moradores do Jardim Antártica e familiares de Éder Antônio de Matos, de 25 anos, mostra uma versão bem diferente da que foi divulgada pela Polícia para a morte dele, ocorrida ontem à noite, depois que ele foi flagrado quando invadia a casa de um sargento da Polícia Militar.
Embora o clima seja de silêncio na região, o Campo Grande News colheu relatos que apontam que três pessoas, duas delas policiais, sufocaram Éder até a morte.
Um morador que pediu para não ser identificado contou o que viu, de uma fresta no muro. “A vítima foi imobilizada por uma chave de braço, enquanto um dos homens o segurava pelas pernas o outro em cima dele pressionava a cabeça contra o chão”, disse.
Para o morador, houve exagero na hora de render o rapaz. "Ele debatia muito, gritava, pedia pelo amor de Deus para ser solto", contou.
“Liguei para a Polícia, falei que estavam matando um cara em frente da minha casa, até então eu não sabia que eram policiais”, conta.
A Polícia, segundo o morador, demorou mais de 30 minutos para chegar ao local. Quando chegou, o rapaz já estava morto. A testemunha diz os moradores só saíram de casa quando não ouviram mais os gritos de Éder.
Família - O construtor Edson de Almeida Pinto, 47 anos, cunhado de Éder, mora na esquina onde ocorreu o crime. Ele conta que passava pelo local quando viu o rapaz caído e a movimentação dos policiais. “Deixei o carro em casa e fui ver o que estava acontecendo, quando cheguei vi meu cunhado morto”, lamenta.
A família conta que Éder era viciado em pasta-base de cocaína, mas que não roubava nada de ninguém. O rapaz trabalhava como pedreiro, e saia nas casas pedindo dinheiro para sustentar a dependência, admite a família.
A mãe cuida de um filho dele que tem 7 anos. No site do Poder Judiciário Estadual, não há processos contra Éder.
“Como batem em uma pessoa que pede pelo amor de Deus para o soltarem. Porque não chamaram a Polícia para prendê-lo. Descalço, de short e camiseta nem armado estava, isso é crueldade”, pergunta-se Edson.
A mãe de Éder, Maria Aparecida de Matos, 48 anos, estava bastante abalada esta manhã. “A revolta é muito grande, mas o que fazer?", afirma. "Não vão trazer o meu filho de volta”, resigna-se.
O caso foi registrado como morte a esclarecer na Polícia Civil e será investigado pelo 6º Distrito Policial.
O delegado que cuidou ontem do registro inicial, na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento à Comunidade) do bairro Piratiginga, João Belo Reis, colocou a investigação sob sigilo. Assessoria de imprensa da corporação disse que isso foi feito porque a autoridade policial considerou necessário na situação.
A assessoria de imprensa da Polícia Militar foi procurada para dar o posicionamento da Corporação a respeito do assunto e ficou de dar uma resposta à reportagem.
O site do Poder Judciário estadual não registra processos envolvendo a vítima como ré.