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Capital

Veto a álcool quer reduzir casos de queimadura, que lotam hospital

Luciana Brazil | 29/01/2013 16:39
Marcio teve medo de que o fogo atingisse as crianças que estavam na festa. (Fotos: Luciano Muta)
Marcio teve medo de que o fogo atingisse as crianças que estavam na festa. (Fotos: Luciano Muta)
"Não quero nunca mais ver bife na chapa", disse Anderson.
"Não quero nunca mais ver bife na chapa", disse Anderson.

A velha discussão sobre o uso do álcool líquido parece ter sido encerrada. Depois de centenas de acidentes, enfim a proibição. A medida da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que suspende a comercialização do álcool líquido a partir de hoje (29) em todo país, deverá diminuir o número de vítimas que lotam frequentemente o setor dos queimados na Santa Casa, em Campo Grande - hospital referência no Estado.

O conhecido bife na chapa é o responsável pela maior parte dos internados atualmente, segundo a assessoria do hospital. Os acidentes acontecem, geralmente, no momento em que o álcool é colocado no disco e explode, atingindo quem estiver perto.

Deitados lado a lado no setor de queimados da Santa Casa, o estudante Anderson Oliveira da Silva, 16 anos e o serviços gerais Marcio de Souza Pimentel, 29 anos, contam histórias bem semelhantes. Os dois precisaram fazer enxerto nos braços por causa das queimaduras de 3° grau.

“Íamos comemorar a oficina de carro que meu cunhado havia ganhado. Eu estava longe, quase três metros da chapa. Mas estava ventando muito e na hora que ele jogou o álcool, explodiu e o vento jogou tudo em mim”, lembrou Anderson.

O desespero e a dor fizeram Marcio correr sem rumo depois de ter o braço esquerdo e as costas inteiramente queimados. “Eu já sabia que era perigoso e eu estava longe também. Foi de repente. Explodiu e o fogo veio nas minhas costas. Comecei a correr na rua, gritando. Me disseram para eu deitar no chão e só assim que apagou. Tive muito medo porque tinha muitas crianças no local, inclusive minhas filhas”, contou.

O bebê Pedro Henrique do Carmo de um ano e meio e Thiago Jean Phillipe Teixeira de Souza, de nove anos, não tiveram a mesma sorte. Pedro morreu em fevereiro do ano passado, depois de um acidente em uma festa de aniversário na casa da família, na Vila Planalto.

Um amigo da mãe da criança tentou reacender o fogo da chapa utilizando álcool líquido e acabou provocando a explosão. As chamas atingiram o bebê, a mãe dele e a irmã. Pedro Henrique sofreu queimaduras por todo o corpo. Ele morreu em decorrência da gravidade dos ferimentos.

No mesmo ano, em abril, Thiago Jean Phillipe Teixeira de Souza, 9 anos, morreu também vítima de queimaduras. Ele teve 60% do corpo queimado. O acidente aconteceu quando ele brincava com álcool e fósforo na calçada de casa, no bairro Coophamat. A brincadeira quase queimou a irmã de 2 anos. Na tentativa de salva-la, Thiago entrou na frente da criança e acabou queimado.

De acordo com a assessoria da Santa Casa, 70% das crianças atendidas no hospital são vítimas de queimaduras com álcool.

Proibição: Em 2002, a comercialização do álcool líquido chegou a ser proibida, mas uma liminar autorizou o retorno do produto ao comércio.

No ano passado, a Justiça decidiu validar a resolução da Anvisa de 2002 que proibia a “fabricação, exposição à venda ou entrega ao consumo, do álcool etílico de alta graduação, ou seja, acima de 54° GL”. Após a decisão, foi dado 180 dias de prazo para que o setor produtivo se adequasse.

A proibição é referente ao líquido com teor alcoólico superior a 54°GL, podendo ser vendido apenas na forma de gel ou com embalagem de no máximo 50 ml. Os produtos comercializados para fins hospitalares e industriais continuam liberados.

A Vigilância Sanitária Estadual disse que como não houve manifestação da Abraspea (Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool) através da adequação dos estabelecimentos e fornecedores, vai aguardar as medidas da Anvisa para começar a fiscalização.

A Anvisa afirma que as empresas que não retirarem o produto de circulação estarão sujeitas à multas que podem variar de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão.

De acordo com a Abraspea, a proibição da venda está embargada e ainda segue em julgamento. A associação afirma que irá tomar medidas necessárias para resguardar “os direitos à livre comercialização do álcool líquido”.

Entidades tentam desde 2002 conscientizar o consumidor sobre os perigos do uso do álcool líquido. Associação de Consumidores, Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Paulista de Medicina (APM), Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) lançaram um folder para mostrar os riscos de queimadura, principalmente em crianças, com o uso do álcool com fins domésticos.

Associações realizaram também testes comparativos que comprovam o perigo tanto do álcool líquido como o do gel, e pedem urgência na votação do Projeto no Congresso Nacional para restringir o uso do produto em ambiente doméstico.

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