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Capital

Vício e falta de oportunidade, muitas vezes, é o que move a criminalidade

Mariana Lopes | 03/03/2014 16:22
Luis Carlos mora na rua há 25 anos e foi preso por furto (Foto: Mariana Lopes)
Luis Carlos mora na rua há 25 anos e foi preso por furto (Foto: Mariana Lopes)

Histórias de vida que se cruzam e se repetem pelas ruas de Campo Grande. Personagens do cotidiano da Capital que antes se escondiam apenas em becos e outros lugares praticamente imperceptíveis, hoje ocupam até os canteiros da principal avenida da Cidade Morena.

Mesmo entre passos apertados e olhares quase sempre desatentos dos campo-grandenses, não é difícil perceber o aumento da população dos moradores de rua, o que, de acordo com a Polícia Civil, reflete diretamente na criminalidade, principalmente no índice elevado de furtos.

O delegado titular da 1ª Delegacia, Wellington de Oliveira, aponta dois fatores cruciais que levam a maioria dos moradores de rua a praticar pequenos delitos: o vício e a falta de oportunidade.

De um modo geral, há dois perfis de pessoas que moram nas ruas. Um é aquela que foi consumida pelas drogas e acabou “optando” em viver a mendicância. O outro é o indivíduo que veio para Campo Grande em busca de melhores condições de vida, mas deu de cara com a frustração e a falta de oportunidades. Este segundo caso, muitas vezes, também gera dependentes químicos.

Para o delegado, a problemática é reflexo da “Teoria da Anomia”. “É quando a pessoa quer ter um padrão de vida igual ao de outras, mas não tem”, explica o titular da 1ª DP. A conseqüência disto, então, é furtar para alcançar o “status”.

Flanelinha – Viciado em pasta base há 25 anos, Luís Carlos Lopes, 38, trocou a casa da mãe pelas calçadas de Campo Grande. Logo que foi para as ruas, ele começou a “trabalhar” como flanelinha e há 8 anos fica no ponto da rua Dom Aquino, entre a 13 de Maio e Rui Barbosa.

Conhecido como Gordinho, ela tem diversas passagens na Polícia por furto, lesão corporal e vias de fato, tudo de crime que praticou no tempo que vive perambulando pela região central da cidade.

O encontro da equipe de reportagem do Campo Grande News com Luis Carlos aconteceu dentro da delegacia, quando ele foi preso pela última vez, no final do mês passado, por mais um furto que cometeu.

Ele conta que consegue ganhar, em média, R$ 4 mil por mês com as gorjetas que ganha cuidando carros. Mesmo assim, ele foi flagrado com três facas de cozinha escondidas na cintura, utensílios que furtava de uma loja de variedades, localizada na avenida Afonso Pena.

“Fazia quatro anos que não pegava nada das lojas, mas hoje, o cão me atentou e eu furtei”, justifica Gordinho. Sobre o “salário” que recebe todo mês, ele afirma, sem qualquer pudor, que praticamente todo valor tem destino certo. “Eu fumo todo o dinheiro que ganho”, declara o flanelinha.

Mesmo ressaltando que não agüenta mais a vida de dependente químico, ele enfatiza o motivo por continuar nela: “Nunca tive oportunidade na vida, o meu vício acabou comigo e nunca consegui ajuda para me tratar”, afirma Gordinho.

Protesto – No início do ano passado, Campo Grande sofreu uma onde de incêndio em carros, principalmente no Centro da cidade. O acusado de ter provocado as chamas em pelo menos 8 veículos foi um morador de rua, identificado como Estevão de Oliveira Alves, na época com 32 anos.

Em entrevista à imprensa, ele afirmou ter cometido os crimes em protesto, se baseando “na teoria do caos”. "As pessoas me tratavam como mendigo, fiz por protesto mesmo", justificou.

Estevão contou que morava e Dourados e trabalhava com reciclagem. Depois de ser demitido, ele foi trazido para a Capital e internado no Hospital Psiquiátrico Nosso Lar. “Graças a Deus consegui fugir de lá”, afirmou.

Da unidade de saúde, ele foi direto para as ruas de Campo Grande, onde passou a pedir dinheiro para sobreviver, já que aqui não tinha conhecidos e nem para aonde ir. “Se alguém tivesse me ajudado não tinha acontecido isso aí. Não tem vítima. Foi tudo por protesto”, ressaltou Estevão, que ainda está preso.

Assistência social – Para o delegado Wellington de Oliveira, é muito comum este tipo de situação e que Campo Grande não tem estrutura para lidar com esta problemática, como dar condições às pessoas em vulnerabilidade de se reestabilizarem na sociedade ou de voltarem às origens.

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