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Cidades

Em pleno 2014, as diferenças raciais ainda existem na sociedade em MS

Helton Verão | 13/05/2014 13:22
A abolição da escravidão foi assinada no dia 13 de maio de 1888, pela princesa Isabel (Foto: Cleber Gellio)
A abolição da escravidão foi assinada no dia 13 de maio de 1888, pela princesa Isabel (Foto: Cleber Gellio)

Há 126 anos, em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil. A data sofre conflito com a falta de informação sobre a data 20 de novembro, quando é celebrado o dia da Consciência Negra. Entre os negros o pedido é apenas para o fim da indiferença e o olhar igual a todos.

Em 2014, os negros lembram que as diferenças ainda seguem no cotidiano de cada um. “Todo advogado (a) pede ou é chamado de doutor, eu que sou advogada também, tenho doutorado e me ainda me chamam de dona Raimunda. Isso a população brasileira não absorveu ainda. Não fico lamentando, mas vou a luta”, ressalta Raimunda Luzia de Brito, mestre no serviço social e doutora em ciências da educação e fundadora do ICAB (Conselho de Mulheres Negras de MS).

Raimunda foi professora por 29 anos em uma das maiores faculdades da Capital, e conta que já aconteceram casos de alunas que se formam, no dia seguinte são chamadas de doutoras e as mesmas pessoas a chamam de “dona”. "A lei Áurea apenas libertou alguém que estava preso, sem direito e acesso à educação, continuou um escravo solto na rua", pontua Raimunda.

O presidente do Cedine/MS (Conselho Estadual dos Direitos dos Negros de MS), Carlos Versoza, lembra de casos mais frequentes do dia a dia, em que a pessoa por preguiça ou vergonha de perguntar o seu nome criam rótulos. “Ao invés de chegar e perguntar meu nome, preferem rótulos, olha o negro ali”, descreve.

“O salário do negro sempre é menor do que do branco. Em pleno século XXI, o que conquistamos?!”, indaga o presidente da Tucanafro de Mato Grosso do Sul, Rafael Domingos.

Todos entrevistados pedem mais atenção as ações para a raça. Inicialmente pela educação, em seguida as leis. “Essa é uma data que devemos repensar as atitudes e o governo do estado precisa repensar as ações na inserção do negro e também a mulher negra”, completa Domingos.

O presidente da Tucanafro/MS, questiona porque ainda não existe uma delegacia de questões raciais, lembrando de diversos crimes contra negros, somente em razão da sua cor de pele.

“Em 2014, ainda existe muita diferença. Só poderemos sentir a diferença daqui 30 a 40 anos, quando as leis criadas hoje começarem a funcionar e a nova geração quem vai usufruir disso” avalia o presidente Versoza, que elogia os poucos que ainda ajudam os afrodescendentes.

“Pode melhorar se todo mundo se olhar igual. Não me associei a um clube esses dias porque toda vez que chego lá me olham diferente, isso não pode acontecer”, lamenta Raimunda.

Enquanto o dia da abolição da escravatura é celebrado em maio, o Dia da Consciência Negra é uma data celebrada no Brasil no dia 20 de Novembro. Este dia está incluído na semana da Consciência Negra e tem como objetivo um reflexão sobre a introdução dos negros na sociedade brasileira.

"Ao menos hoje se discute a questão racial abertamente. As redes sociais facilitaram o debate e ajuda muito busca de alternativas para solucionar os problemas", completa.

O dia 20 de Novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares, data na qual morreu, lutando pela liberdade do seu povo no Brasil, em 1695. Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi um personagem que dedicou a sua vida lutando contra a escravatura no período do Brasil Colonial, onde os escravos começaram a ser introduzidos por volta de 1594.

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