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Interior

“Fui burro”, diz ex-senador que sobreviveu a atentado do PCC

Para Robert Acevedo, o fato de criticar o tráfico em várias entrevistas à imprensa foi determinante para o ataque

Aline dos Santos | 27/01/2020 15:19
Com gesto, Robert Acevedo mostra como tiro passou de raspão durante atentado em Pedro Juan. (Foto: Marcos Maluf)
Com gesto, Robert Acevedo mostra como tiro passou de raspão durante atentado em Pedro Juan. (Foto: Marcos Maluf)

“Burro”. Com uma palavra, em que o portunhol engole um dos erres, o ex-senador Robert Acevedo, atual deputado nacional do Paraguai, faz uma autoanálise de como se tornou alvo de atentado da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que atua na fronteira de Pedro Juan Caballero (Paraguai) e Ponta Porã (Mato Grosso do Sul). Ele é sobrevivente de um ataque em abril de 2010, em território paraguaio. Para Robert, o fato de criticar o tráfico em várias entrevistas à imprensa foi determinante para o atentado.

“Estava no Centro de Pedro Juan, era por volta de 18h. Tinha saído do cabeleireiro. Veio uma caminhonete por trás e começaram a atirar. Quando percebi que era atentado, desci do veículo. Mas não sabia para onde correr, acabei correndo para onde eles estavam, mas não me viram porque achava que tinha morrido. As pessoas que estavam comigo ficaram sem cabeça”, conta Robert. No braço direito, uma extensa cicatriz marca onde o tiro passou de raspão. No atentado foram usados fuzis AK-47 e M 16.

“Eu já estava enchendo eles, por isso que estou fazendo agora [falando com a imprensa]. O cara que mandou atirar em mim era um parente distante, estava surgindo com muito poder e construindo uma mansão. Levei um repórter de uma televisão para ver”, afirma.

Ex-governador do departamento de Amambay (que reúne cinco cidades e Pedro Juan é a capital), o então senador chegou passar um ano de Assunção, capital do Paraguai. Mas logo voltou para a cidade na fronteira com o Paraguai, onde o atual prefeito é seu irmão. Questionado se teve medo de voltar, a resposta demora 15 segundos. Depois de pensar, responde que tem muita proteção policial.

Sobre o desfecho da investigação do atentado, resume que do ponto de vista processual, o crime não resultou em condenação. Robert afirma que sofre com ações do que define de narcojornalistas, que veiculam matéria contra ele. 

Tanque do Exército em frente ao presídio de Pedro Juan Caballero. Reforço na segurança após fuga em massa de presos. (Foto: Marcos Maluf)
Tanque do Exército em frente ao presídio de Pedro Juan Caballero. Reforço na segurança após fuga em massa de presos. (Foto: Marcos Maluf)

Beira-Mar puxou a fila – Sobre a presença de facções criminosas na fronteira, onde antes reinava o tráfico numa versão mais família, o deputado afirma que o primeiro nome de peso foi Fernandinho Beira-Mar, líder do Comando Vermelho. “Ele pediu ao chefe da máfia para ficar aqui, mas ele não permitiu e o Beira-Mar foi para Capitan Bado. Ele trouxe muitos homens e subornava a polícia”.

Nos últimos anos, o comum era que o PCC, a facção que se fixou em Pedro Juan, tivesse um líder, mas agora o cenário mudou e não se sabe quem, afinal, é a principal liderança. O Paraguai se destacava pela produção de maconha, mas Pedro Juan passou a ser o centro de distribuição logística também da cocaína, que é produzida em países como Bolívia e Peru.

“No começo, tinha uma pessoa bem identificada, mas eles trocaram de estratégia. Hoje em dia, você nem sabe quem é. Não sabe onde está a cabeça, nem o pé nem nada”, afirma sobre o atual estilo sem rosto da facção criminosa.

Há uma semana, 76 presos fugiram do presídio de Pedro Juan Caballero, sendo 40 brasileiros. Foi aberto um túnel no presídio, mas também há suspeita de que a fuga aconteceu pelo portão da frente. A suspeita é que tanta facilidade teve um preço: 80 mil dólares.

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