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Interior

Água servida em 6 cidades de MS tem 27 tipos de agrotóxico, mostra pesquisa

Dourados, Rio Brilhante, Deodápolis, Itaporã, Maracaju e Nova Alvorada do Sul aparecem na lista

Por Helio de Freitas, de Dourados | 30/10/2023 14:19
Água distribuída em Dourados tem presença de 27 tipos de agrotóxicos (Foto: Aliny Fernandes)
Água distribuída em Dourados tem presença de 27 tipos de agrotóxicos (Foto: Aliny Fernandes)

Testes feitos em 2022 pelo Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde, identificou presença de 27 tipos de agrotóxicos na água tratada distribuída em seis cidades de Mato Grosso do Sul.

Além de Dourados, maior cidade do interior com quase 250 mil habitantes, estão na lista Rio Brilhante, Deodápolis, Itaporã, Maracaju e Nova Alvorada do Sul. Quinze desses 27 agrotóxicos encontrados estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, disfunções hormonais e reprodutivas.

O resultado da pesquisa, feita em 210 cidades brasileiras, foi publicado pela ONG “Repórter Brasil”. Segundo a publicação, os 27 tipos de agrotóxicos foram encontrados na água que sai das torneiras dessas cidades pesquisadas.

Segundo a “Repórter Brasil”, o cruzamento dos dados publicados no Painel do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, do Ministério da Saúde, mostra que a maioria dos exames identificou concentração dentro do limite considerado seguro pelo Ministério da Saúde, mas essa avaliação é feita de forma isolada.

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O que preocupa os especialistas é o chamado “efeito coquetel”, ou seja, a mistura das substâncias que acaba sendo consumida pela população junto com a água tratada. O risco que essa mistura oferece não é regulado pelo Ministério da Saúde brasileiro, ao contrário do que ocorre na Europa.

“O ideal seria não detectar, ou seja, não encontrar nada”, afirmou à “Repórter Brasil” a pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Cassiana Montagner. Segundo ela, quando há a detecção, ainda que em concentrações menores que o valor máximo permitido, os governos deveriam tomar ações para evitar que esses agrotóxicos apareçam por longos períodos de tempo.

Lacuna – A professora Alexéia Barufatti, da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), concorda com a pesquisadora da Unicamp. Segundo ela, o Laboratório de Ecotoxicologia e Genotoxicidade ‍da universidade atua em parceria com Cassiana Montagner.

“A presença de contaminantes em pequenas concentrações pode ser difícil de detectar, o que complica a monitorização e a regulamentação. A questão das interações entre substâncias químicas na regulamentação da qualidade da água é uma lacuna significativa na Portaria de Potabilidade da Água de 2021. É um desafio calcular os efeitos das diferentes combinações de substâncias químicas na água”, afirmou Alexéia ao Campo Grande News.

Segundo ela, ao focar apenas nos limites individuais de substâncias, a regulamentação deixa de abordar os efeitos de substâncias químicas quando combinadas. “Por exemplo, um composto que, por si só, pode ser inofensivo ou até benéfico em pequenas quantidades, pode se tornar tóxico ou prejudicial quando misturado com outras substâncias químicas”, disse a pesquisadora, que está atualmente em Valência, na Espanha, fazendo estágio pós-doutorado.

“A acumulação ao longo do tempo de exposição a várias substâncias químicas, mesmo em concentrações seguras, pode resultar em impactos adversos à saúde a longo prazo. Com relação a saúde humana, a exposição contínua a resíduos de pesticidas e fármacos pode resultar em acumulação gradual no corpo, levando a uma toxicidade cumulativa ao longo do tempo”, afirmou.

Segundo Alexéia Barufatti, a ingestão crônica de água contaminada pode estar associada ao desenvolvimento de doenças crônicas, como câncer, distúrbios hormonais, problemas reprodutivos, disfunções do sistema nervoso e doenças renais.

“A presença de resíduos de antibióticos na água pode contribuir para o desenvolvimento de resistência a antibióticos em seres humanos, tornando os tratamentos médicos menos eficazes. É importante ressaltar os impactos ambientais. A presença de contaminantes na água pode ser tóxica para a vida aquática, prejudicando ecossistemas aquáticos e a biodiversidade. Para mitigar esses problemas, é fundamental adotar regulamentações, realizar monitoramentos constantes da qualidade da água”, avaliou.

Além disso, segundo a pesquisadora, a conscientização pública sobre a importância da preservação da qualidade da água e do consumo responsável é essencial para proteger a saúde humana e o meio ambiente. Atualmente, o grupo de pesquisa coordenado por ela faz coleta nos rios Aquidauana e Miranda. Os projetos são financiados pela Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul).

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Mais cidades – Além das seis cidades onde foram detectados os 27 tipos de agrotóxicos pesquisados, os testes apontaram a presença de 22 tipos de pesticidas em Campo Grande e Bela Vista, 15 em Douradina, 21 em Fátima do Sul, 18 em Glória de Dourados, 13 em Naviraí, 22 em São Gabriel do Oeste e 1 em Ponta Porã.

Sanesul – Responsável pelo abastecimento de 68 dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, a Sanesul informou que atende as medidas estabelecidas na legislação brasileira, conforme a Portaria GM/MS Nº 888, de 4 de maio de 2021, que dispõem sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

Em nota enviada pela assessoria de comunicação, a empresa informou que em análises realizadas em seus laboratórios não foi detectado qualquer vestígio de resíduos químicos ou grau de contaminação que pudesse superar o VMP (Valor Máximo Permitido) estabelecido pela portaria do Ministério da Saúde.

“A empresa cumpre rigorosamente os requisitos da legislação ambiental e de potabilidade, monitorando os teores das substâncias na frequência estabelecida com previsão legal. Como forma de garantir transparência, a Sanesul disponibiliza aos seus consumidores, o resultado de suas análises, que é impresso nas contas de água enviadas às residências”, informa a nota.

Ainda segundo a empresa sul-mato-grossense, limites de substâncias nas águas precisam de estudos e regulamentação que são de responsabilidade do Ministério da Saúde.

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