ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, TERÇA  07    CAMPO GRANDE 22º

Interior

Com aldeias em colapso, Defensoria recorre aos Médicos sem Fronteiras

Defensorias do Estado e da União pediram ajuda também para o Exército pedindo colchões e materiais para espaço de isolamento

Izabela Sanchez | 25/07/2020 15:41
Mulheres terena organizam uma das barreiras sanitárias da Terra Indígena Taunay Ipegue em Aquidauana (Foto: Eric Marky Terena/ Conselho Terena)
Mulheres terena organizam uma das barreiras sanitárias da Terra Indígena Taunay Ipegue em Aquidauana (Foto: Eric Marky Terena/ Conselho Terena)

As Defensorias públicas de Mato Grosso do Sul e da União oficiaram pedido de urgência, no dia 22 de julho, ao Exército e à organização humanitária Médicos sem Fronteiras, para que enviem ajuda "humana e material" para as aldeias terena da região de Aquidauana, a 133 km de Campo Grande. O objetivo é evitar colapso em meio aos  casos crescentes de covid-19 e improvisar, com rapidez, espaço para isolar casos suspeitos entre os indígenas.

Nos ofícios, assinados pela defensora de Mato Grosso do Sul, Neyla Ferreira Mendes e pela defensora da União, Daniele de Souza Ozório, as instituições pedem ajuda ao Exército para conseguir colchões e demais materiais necessários para montar a casa de isolamento para evitar mais contágio dentro das aldeias, em especial nas de Aquidauana, onde está a maioria dos casos.

O Campo Grande News já havia publicado que a Prefeitura de Aquidauana sugeriu improvisar escolas municipais para o espaço. Endereçado ao general de brigada Cristiano Pinto Sampaio, o ofício cita “cinco mortes, em 24h, de indígenas da mesma família, pertencentes à aldeia Taunay Ipegue e Bananal”.

“Já em Miranda foram contabilizados 06 (seis) casos de contaminação, sendo que o primeiro, datado de 16 de julho, foi de um indígena da Aldeia Moreira e, caso medidas emergenciais não sejam efetivadas para o combate à pandemia, a situação tende a se agravar exponencialmente, até porque, a existência de foco da doença em quaisquer dos municípios de Mato Grosso do Sul, representa risco a todas os outros municípios do Estado”, dizem as defensoras.

Médicos sem Fronteiras – Até a última quarta-feira (22), apenas um médico, ligado ao polo base da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) em Aquidauana, atendia toda a região com mais de 7 mil pessoas e em meio ao aumento diário de casos de covid-19.

Novo boletim da saúde indígena, criado pelo Conselho Terena, cita 170 casos confirmados da doença neste sábado (25), 63 só na Terra Indígena Taunay  Ipegue, em Aquidauana. Já são 8 mortes, segundo o boletim.

Pressionados desde o início da pandemia por pedidos, Prefeitura e Missão Cauiá – gestora dos contratos para funcionários da saúde indígena em Mato Grosso do Sul – enviaram mais equipes, com três médicos e duas enfermeiras.

Com a falta de profissionais de saúde, as defensoras também acionaram os Médicos sem Fronteiras, organização humanitária internacional.

Conforme levantou o Campo Grande News, a ONG já deu aval positivo e se prepara para enviar ajuda. O ofício à organização também é assinado pelo Conselho Terena.

Além de “apoio humano”, pedem envio de álcool 70%, máscaras, aventais, luvas, oxímetros de pulso, macacões impermeáveis e termômetros infravermelho.

O cansaço entre as equipes que hoje atuam na saúde indígena é relatado diariamente pelos profissionais. Em maio, o único médico do polo base de Aquidauana ficou doente e os índios permaneceram sem atendimento médico por quase uma semana.

O comitê estadual da covid-19, coordenado pela SES (Secretaria Estadual de Saúde), está participando das discussões que mobilizam o espaço de isolamento e divulgou estar distribuindo 16,8 mil máscaras para as aldeias de Aquidauana.

Ainda assim, tanto indígenas quanto as Defensorias e a Procuradoria da República têm destacado a falta de recursos. O MPF-MS (Ministério Público Federal) ajuizou ações, incluindo pedido para que ocorra atendimento aos indígenas que vivem nas chamadas “aldeias urbanas”, geralmente as periferias de cidades maiores, como Campo Grande e Dourados.

Além desse processo judicial e das campanhas de doação, a Procuradoria também tenta recorrer em decisão que teve pedido negado por decisão da Justiça Federal ao tentar exigir que o governo federal enviasse recursos humanos e materiais com urgência a Mato Grosso do Sul.

Defensora do Nupiir (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial e Étnica), da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, Neyla Ferreira Mendes relata que na região terena, a situação “deve piorar”, mas critica auxílio que ocorre apenas “por meio de doações”.

“Nos entendemos que não é possível combater pandemia apenas com doações, por isso nós temos feito ações pressionando o poder público para que ele realize também a parte dele”, disse.

Nos siga no Google Notícias