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Interior

Covid-19 em aldeia gera ódio contra indígenas e áudios sugerem até extermínio

Município tem uma morte registrada, além de 11 casos positivos do novo coronavírus

Tainá Jara | 23/07/2020 18:16
Aldeias da região de Miranda receberam placas para levar informação sobre a covid-19, na língua Terena (Foto: Arquivo/Luciano Justiniano)
Aldeias da região de Miranda receberam placas para levar informação sobre a covid-19, na língua Terena (Foto: Arquivo/Luciano Justiniano)

O avanço de casos de covid-19 nas aldeias do município de Miranda, distante 202 quilômetros de Campo Grande, gerou onda da ódio contra os indígenas por parte dos moradores da área urbana da cidade. Em áudios enviados em grupos de WhatsApp, alguns sugerem até mesmo o extermínio dos povos que vivem na região.

Diante da situação a prefeitura inclusive deixou de divulgar os casos positivos de forma separada, entre área urbana e aldeias indígenas, no boletim diário, a fim de acalmar os ânimos entre os moradores da cidade. São 11 casos confirmados do novo coronavírus, além de uma morte.

“Vamos ajuntar todo mundo. Vamos invadir a aldeia e matar todo mundo lá. Pronto. Bom que já extermina essa raça inútil do c****”, afirma um homem entre um dos áudios enviados. “Tem que fechar a cidade e não deixar eles virem para a cidade”, opina outra moradora.

Outra sugere que os índios permaneçam isolados na aldeia durante toda a pandemia.“Já que na aldeia tem gente com covid, eles tinham que ficar lá dentro”, afirmou.

Embora tenha deixado de publicar nas redes sociais o número de indígenas contaminados, a prefeitura publicou no site institucional, na última terça-feira, que o primeiro caso confirmado, no último dia 16 de julho, foi na comunidade indígena da Aldeia Moreira.

Desde o primeiro resultado positivo na área indígena, lideranças e caciques intensificaram as barreiras sanitárias nessas localidades. A entrada de pessoas de fora está restrita e as medidas de prevenção para que o surto da pandemia não avance foram adotadas.

No entanto, caso exportado de coronavírus já havia sido registrado em um preso de São Paulo, detido no município, no mês de maio. Na época, um policial da Delegacia de Miranda, chegou a contrair a doença. A única morte ocorrida até agora envolveu um homem de 46 anos, que estava internado na Santa Casa de Corumbá.

Trabalhavam fora e voltaram – De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município de Miranda aparece, no último Censo (2010), com uma população de 6.475 indígenas, formando a segunda maior de Mato Grosso do Sul, atrás apenas de Amambai com 7.225.

Vice-cacique de Aldeia Moreira, Sebastião Gonçalves da Silva, afirma que são 9 casos de covid-19 confirmados entre os moradores da comunidade com 1,5 mil habitantes. “Os casos foram importados”, defende.

Segundo ele, muitos indígenas precisavam sair da aldeia para trabalhar ainda no início da pandemia. Alguns foram demitidos, voltaram para casa e acabaram trazendo o vírus com eles. “Quando foi gente deles [moradores da área urbana] que ficaram doente, nós fizemos uma oração para proteger a gente, eles e todo o Mundo disso. Agora eles agem assim. Nós queremos respeito agora”, afirmou.

O indígena ressaltou que desde maio, a aldeia conta com a uma barreira sanitária montada pelos indígenas, com apoio do Distrito Sanitário e da prefeitura.

Casos de contaminações entre indígenas também foram registrados nos municípios de Aquidauana e Dourados. Conforme boletim epidemiológico divulgado pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), no Estado foram confirmados 312 casos de covid-19, sendo que nove morreram.

A Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) contabiliza sete mortes no Estado e 553 em todo o País.

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