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Interior

Elogiado por Temer e embaixadores, Sisfron ignora segurança pública

Policiais federais e estaduais que trabalham na fronteira afirmam que nunca receberam informações do sistema de monitoramento; Exército contesta e diz que dados são compartilhados

Helio de Freitas, de Dourados | 20/12/2017 10:15
Soldados do Exército que trabalham no Sisfron fazem manobra em estrada de terra no município de Amambai (Foto: Plano Brasil)
Soldados do Exército que trabalham no Sisfron fazem manobra em estrada de terra no município de Amambai (Foto: Plano Brasil)
Michel Temer em visita ao comando do Sisfron em Dourados, em julho de 2015 (Foto: Divulgação)
Michel Temer em visita ao comando do Sisfron em Dourados, em julho de 2015 (Foto: Divulgação)

Pela metade, atrasado e com pouco dinheiro. Essa é a realidade do projeto-piloto do maior plano de monitoramento de fronteiras do mundo, o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), que está sendo implantado pelo Exército na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Mato Grosso do Sul.

Afetado pelo contingenciamento de recursos adotado ainda no governo de Dilma Rousseff, o Sisfron, criado em 2012, “patina” para cumprir sua missão enquanto vira alvo de críticas de policiais federais e estaduais que atuam na linha de frente do combate ao crime organizado que controla o narcotráfico e o contrabando na fronteira.

Nem mesmo as dezenas de visitas de ministros, embaixadores e adidos internacionais – inclusive de países europeus e asiáticos e da maior potência bélica do mundo, os Estados Unidos – foram suficientes para fazer o sistema deslanchar.

O presidente Michel Temer também conheceu e rasgou elogios para o Sisfron. Foi em julho de 2015, quando o PMDB ainda era aliado de Dilma Rousseff e Temer o vice da presidente petista, sacada do poder por um impeachment 13 meses depois. Dilma chegou a marcar uma visita ao Sisfron, mas não teve tempo.

Ineficiente – Policiais com atuação direta no combate ao crime organizado na faixa de fronteira seca com o Paraguai afirmam que até agora o Sisfron colaborou muito pouco, para não dizer em nada, com a segurança pública de Mato Grosso do Sul.

Há meses o governo de Mato Grosso do Sul cobra da União uma presença mais efetiva das forças federais na fronteira com o Paraguai, por onde passa quase toda a droga consumida no Brasil.

Ao Campo Grande News, um delegado federal disse não ter conhecimento se algum dia a Polícia Federal recebeu informação compartilhada do Sisfron. “Nunca recebemos nenhuma informação deles”.

Um policial militar rodoviário confirma e diz que para a segurança pública o Sisfron nunca existiu. “Não tenho conhecimento que algum dia a polícia tenha recebido informação do Exército sobre movimentações suspeitas na fronteira”, afirmou o oficial.

“Desconheço totalmente qualquer ação conjunta da polícia com o Sisfron. E para pedir alguma informação é uma burocracia enorme, tem que pedir no Comando Militar do Oeste em Campo Grande. Impossível uma informação dessa importância ter utilidade se for fornecida dias depois”, afirmou um policial rodoviário federal.

Atual ministro da Defesa Raul Jungmann conhece estrutura do Sisfron, em janeiro deste ano (Foto: Helio de Freitas)
Atual ministro da Defesa Raul Jungmann conhece estrutura do Sisfron, em janeiro deste ano (Foto: Helio de Freitas)

Exército contesta – O CMO (Comando Militar do Oeste) contesta as críticas de policiais estaduais e federais ao Sisfron e reafirma que os dados coletados pelo projeto-piloto estão sendo compartilhados.

“Os dados originados pelo sistema estão disponíveis no Comando Militar do Oeste e são compartilhados com os órgãos de segurança pública e fiscalização Em diversas operações interagências (conjuntas), que acontecem durante todo o ano, esses órgãos utilizaram equipamento adquiridos pelo Sisfron, tendo como exemplo a utilização do radar de vigilância pela PRF”, informou o CMO através da assessoria de comunicação.

Conforme o Exército, o Sisfron pode ser empregado nas operações de defesa externa e na segurança da faixa de fronteira. Em janeiro deste ano, o secretário estadual de Segurança Pública, José Carlos Barbosa – que deixa o cargo hoje (20) – cobrou que o Sisfron saia do plano de diagnósticos e tenha ações concretas, através de integração com as forças de segurança pública.

Sem dinheiro – O que o Exército não nega é que o Sisfron sofre com o corte de verbas. A implantação do projeto-piloto está atrasada porque só 10% dos recursos previstos inicialmente foram liberados até agora.

Segundo o CMO, cinco anos após o lançamento, 60% do projeto-piloto do Sisfron está implantado. A área abrange 695 km de fronteira, de Mundo Novo a Caracol. “Pela previsão inicial o projeto-piloto estaria pronto em 2016. Atualmente a previsão de término ficou para dezembro de 2018”, informou o Exército.

Dos R$ 12 bilhões incluídos no planejamento inicial, em 2012, até agora o Exército recebeu R$ 1 bilhão. Em janeiro deste ano, durante visita a Dourados, o ministro da Defesa Raul Jungmann disse em 2017 o Sisfron receberia R$ 450 milhões – quase o dobro do valor investido em 2016.

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