ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUARTA  24    CAMPO GRANDE 21º

Interior

Índios prometem resistir para evitar despejo em Dourados e Caarapó

Helio de Freitas, de Dourados | 11/01/2017 16:33
Índios que lutam pela demarcação da área Jeroky Guasu, em Caarapó (Foto: Rafael de Abreu/Cimi)
Índios que lutam pela demarcação da área Jeroky Guasu, em Caarapó (Foto: Rafael de Abreu/Cimi)

Índios prometem resistir ao despejo que deve ser feito nos próximos dias em três áreas invadidas nos municípios de Dourados e Caarapó. Os mandados de reintegração de posse foram determinados pela 2ª Vara da Justiça Federal em Dourados no final de dezembro.

De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), caso mais urgente, em que a Polícia Federal já foi autorizada a fazer a retirada da comunidade, é o “tekoha” Yvu Vera, no perímetro urbano de Dourados. Na segunda-feira (9) venceu o prazo para a saída pacífica dos índios.

As outras duas áreas em que o despejo foi determinado – Jeroky Guasu e Ñamoy Guavira'y – ficam no município de Caarapó.

Para o MPF (Ministério Público Federal) e a Funai, “Yvu Vera” é uma área de quase 20 hectares que integra a reserva de Dourados, ocupada por não-indígenas.

“Cinco propriedades passaram a existir e fazem parte da reintegração. Um parecer vinha sendo preparado pelo MPF e Funai para a Justiça Federal, que decidiu não esperá-lo e optar pela expulsão sumária”, afirma o Cimi. As áreas invadidas pertencem a pequenos sitiantes, vizinhos da reserva de Dourados.

“Não vamos sair porque é terra indígena, do nosso povo. É parte da reserva, que já tá pequena faz tempo. Tem família que sai porque não tem mais espaço e vamos deixar ruralista aqui dentro? Se tirar a gente, a gente volta a retomar. Tem uma chácara aqui que tava abandonada e agora tem plantação de mandioca, feijão, moradias", afirma Catalino, apontado pelo Cimi como liderança de Yvu Vera.

Ainda de acordo com o conselho, as outras duas áreas com despejo a ser cumprido fazem parte da demarcação Dourados Amambai Peguá I. Cada uma delas é formada por duas fazendas e o prazo para saída pacífica já venceu.

O Cimi acusa o juiz federal Diogo Goes Oliveira de fazer pressão sobre a Funai e a Polícia Federal. “O coordenador da Funai em Dourados, Vander Nishijima, já recebeu cinco intimações acusando-o de desobediência civil por não cumprir o despejo dos indígenas. No caso de Yvu Vera, se o delegado da Polícia Federal não garantir a retirada das famílias, sofrerá multa diária e estará sujeitos a sanções no exercício profissional”, afirma o órgão ligado à igreja católica.

Integrante do Cimi, Matias Benno critica as reintegrações de posse. "O STF tem suspendido reintegrações aqui no estado alegando que elas trazem riscos para a ordem pública. Existe uma jurisprudência. Por que o juiz não se atenta a ela? Os indígenas, se despejados, não têm para onde ir. E eles já decidiram que o lugar deles não é na beira da estrada. Despejos só aumentam a violência e a vulnerabilidade".

“Decidimos pela autodemarcação [ocupações] porque o governo federal não demarca. Isso gera a violência e as reintegrações”, diz Eliseu, integrante da Aty Guasu [Grande Assembleia Guarani e Kaiowá] e membro do Conselho Nacional de Política Indigenista, citado pela assessoria do Cimi.

Nos siga no Google Notícias