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Interior

Pastor Altair "combateu o bom combate, terminou a corrida e guardou a fé"

Apaixonado pelo Pantanal e sua gente, Altair queria festa em sua despedida e teve carreata em sua homenagem após enterro

Lucia Morel | 08/08/2020 07:10
Filho Thiago, nora Taynara, Altair, esposa Norma e filho Kael, no Pão de Açúcar (RJ), em janeiro deste ano. (Foto: Arquivo da Família)
Filho Thiago, nora Taynara, Altair, esposa Norma e filho Kael, no Pão de Açúcar (RJ), em janeiro deste ano. (Foto: Arquivo da Família)

Apaixonado pelo Pantanal e pelas pessoas de lá, o pastor Altair Ribeiro da Silva, 55 anos, deixou marcas na região. À frente da Primeira Igreja Batista de Corumbá por 16 anos e nos dois últimos, na Nova Aliança, em Ladário, ele faleceu de covid-19 em 23 de julho, mas foi amplamente homenageado.

Carreata no dia seguinte ao enterro, segundo a esposa, mostrou o quanto o marido era amado pela população e também, que cumpriram algo que ele, em vida, queria: alegria em sua partida desta terra. “Ele dizia que quando morresse tinha que ter festa e celebração, porque “eu vou estar feliz, comendo churrasco e tomando Coca Cola no rio da vida””, relembra.

A frase revela ainda a personalidade de Altair, que segundo a esposa, Norma Beppler Penido Ribeiro da Silva, 51 anos, era expansivo, alegre e “cheio de energia”. Mostra também a visão que tinha da morte, já que conforme Norma, Altair tinha “um preparo interior” para esse momento, e não tinha medo dela.

“Quando ele tratou do câncer, os médicos perguntaram pra ele se ele teve medo de morrer e ele disse que não, porque a morte pode acontecer a qualquer momento. “Eu posso sair daqui do hospital aqui agora e ser atropelado lá fora”. Então, ele tinha essa concepção”, enfatiza.

Mesmo assim, tomava cuidados contra a covid, e em família, ficou em isolamento por duas vezes, diante de situações consideradas de risco: uma ao voltar de uma viagem a Campo Grande e outra, ao ter contato com pessoa que teve contato com caso positivo. No entanto, como ele se contagiou com a doença é uma incógnita.

Altair e a esposa. (Foto: Arquivo da Família)
Altair e a esposa. (Foto: Arquivo da Família)

Além de Altair, Norma e o filho mais novo deles, de 20 anos, também tiveram covid. A igreja onde congregavam havia retomado os cultos presenciais, mas apenas aos domingos e Norma diz não ter conhecimento de ninguém ali que tenha pegado antes do marido adoecer.

O pastor faleceu 11 dias depois de ter os primeiros sintomas - irritação na garganta e febre -, em 12 de julho. Nesse dia não foi à igreja, mas ao Hospital da Cassems, em Corumbá, de onde saiu com algumas medicações. No restante da semana ele foi piorando e voltando ao hospital, até que na quinta-feira, 16 de julho, ele passou por exame que detectou o pulmão 50% tomado por infecção.

No entanto, ao invés de ficar internado, voltou para casa e continuou tomando remédios. Norma lembra que não havia vagas nem no Hospital da Cassems nem na Santa Casa de Corumbá e por isso o marido não foi internado. “Ele passou a noite na Cassems e na sexta de manhã viemos embora”, comentou.

Foi então que no sábado, 18, surgiu uma vaga e Altair foi internado na Santa Casa, onde falava com a esposa todos os dias e mesmo com as medicações, teve o quadro agravado. Norma diz que o marido teve uma complicação da covid, uma embolia pulmonar, que foi o que acabou provocando sua morte.

“Eu penso que nós não temos respostas pra definir porque a morte chega pra uns e não pra outros. O ser humano não tem e nunca vai ter essa resposta. Nós podemos fazer as perguntas, conversar sobre, mas não como entender”, ensina.

Nos registros da SES (Secretaria de Estado de Saúde), Altair aparece como a 289ª morte por covid em Mato Grosso do Sul e como paciente imunodeprimido, cuja causa, geralmente, é decorrente de tratamentos contra câncer, que fazem cair a imunidade. Altair teve câncer de tireóide em 2010.

Amor e perdão – Segundo Norma, essas duas palavras eram vividas na prática pelo marido, que era muito “afetuoso” e era pessoal fácil de perdoar os demais. Ela lembrou inclusive de postagens recentes dele nas redes sociais, em que falava sobre isso e também, sobre como a existência é uma jornada de autoconhecimento e amadurecimento.

“A vida (...) é mais que existência concreta, ela é essência abstrata, que se encarna em um momento, em um lugar, em uma história. Deixa marcas, rastros, sinais visíveis de sua passagem. Que na sua jornada de autoconhecimento, a sua vida, subjetiva e concreta, deixe marcas que irão se tornar concretas na vida de outras vidas”, escreveu o pastor, que certamente cumpriu o que desejou a outros.

Para Norma, um versículo bíblico encerra o que foi a existência de Altair nesta terra e cita parte do capítulo 4 do livro de Timóteo, onde se lê: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”. Altair e a esposa são naturais de Volta Redonda (RJ), e vieram a Mato Grosso do Sul em 1994.

Altair, no último culto em que pregou antes de falecer, em 5 de julho deste ano. (Foto: Arquivo da Família)
Altair, no último culto em que pregou antes de falecer, em 5 de julho deste ano. (Foto: Arquivo da Família)

Agradecimentos - a pedido de Norma, ela pede que a reportagem acrescente à matéria gratidão à Missão Batista Nova Aliança, que é mantida pela Primeira Igreja Batista de Ladário e pela Igreja Evangélica Batista Ágape,  em Campo Grande.

"Gratidão ao pastor Nivaldo Didini, da Ágape, em Campo Grande, pastor, amigo, conselheiro, discipulador de Altair, e ao pastor José Carlos, da Pib de Ladário, amigo e apoiador", finalizou.

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