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Pesquisa identifica obesidade em moradores de comunidades do Pantanal

Levantamento feita com 70 pessoas da região do Passo do Lontra relatou risco de comorbidades e de casos de depressão

Silvia Frias | 15/02/2021 16:51
Pesquisa identifica obesidade em moradores de comunidades do Pantanal
Pesquisa foi feita a partir do atendimento feito na base de estudos da UFMS no Pantanal (Foto/Divulgação)

Moradores da região do Pantanal, em Corumbá, a 431 quilômetros de Campo Grande, apresentaram sobrepeso, muitas vezes acompanhado de comorbidades e até problemas de depressão. A constatação faz parte de pesquisa feita a partir do atendimento feito a esta população por acadêmicas do curso de Nutrição da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Os pacientes foram atendidos no ambulatório da base de estudos do Pantanal, localizado na Comunidade Passo do Lontra, no período de 2015 a 2019, quando eram feitos atendimentos presenciais, antes da pandemia.

A partir daí foi elaborado o projeto de pesquisa “perfil nutricional de adultos atendidos no ambulatório da Base de Estudos do Pantanal, Corumbá”, da professora Deise Bresan e acadêmicas do curso de Nutriçao.

O levantamento foi feito com base nos atendimentos feito a 70 pessoas, sendo 40 mulheres e 30 homens. A maioria (48,6%) ainda é bem jovem, estando na faixa dos 18 aos 35 anos e 65,7% tem baixa escolaridade, ou seja, estudaram por até oito anos, completando no máximo o ensino fundamental.

Em geral, são pessoas que trabalham nas fazendas próximas ou nos hotéis locais, por ser uma região turística, e alguns pilotam barcos.

A perda de peso (42,1%) é o principal motivo que os levaram a procurar o atendimento nutricional, seguido de reeducação alimentar (36,8%) e por causa de alguma doença secundária (21,1%).

Desse grupo, 79,7% estavam com sobrepeso ou obesidade, levando-se em conta o IMC (Índice de Massa Corporal). Somente entre os homens, o índice é de 66,7% e, entre as mulheres, 90%.

De acordo com a professora, isso é reflexo das condições de vida da população. “Vemos um baixo consumo de frutas e hortaliças, porque são coisas perecíveis, que até compram uma vez por mês, mas isso não dura muito. Essa era uma dificuldade que encontrávamos na hora de orientar, porque todos sabem da importância de consumir esses alimentos, mas existem entraves aí, até mesmo por uma questão econômica, porque são famílias que não recebem muito. Isso é bem difícil, extremamente complicado, o que víamos era consumo de alimentos extremamente ultraprocessados, como refrigerantes”, aponta Deise.

As bebidas altamente açucaradas e prejudiciais à saúde são consumidas todos os dias por pelo menos 25% das pessoas analisadas, assim como sucos industrializados, de pacotinho.

Uma dos preparos mais comuns da carne é da forma frita, o que acaba provocando um percentual de gordura maior. 50% dos homens e quase 30% das mulheres consomem frituras de três a sete vezes por semana. A alimentação deles fica baseada no arroz, no feijão, na massa e na carne. Produtos lácteos também foram observados com baixa frequência.

Os nutricionistas entendem hoje a obesidade como algo multifatorial. Além do que se está ingerindo, há questões sociais e econômicas. “Não é a nossa área, mas percebíamos, pelas dificuldades que as pessoas enfrentam, que às vezes estavam ansiosas, deprimidas, e isso acaba influenciando, obviamente, na alimentação, como no consumo diário, por muitos, de doces”, diz Deise.

O número de refeições feitas no dia também chama atenção. Os profissionais da Nutrição orientam o fracionamento da dieta, mas na maioria das vezes eles (72% das pessoas atendidas) faziam de uma a três refeições por dia, o que, em geral, leva a refeições mais volumosas, porque a pessoa fica com mais fome, segundo a nutricionista, e toda essa característica dietética acaba tendo impacto no excesso de peso.

Também foi avaliada a circunferência da cintura. Essa medida antropométrica reflete o risco de problemas cardiovasculares. Entre as mulheres, 89% apresentavam risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, conforme a circunferência da cintura e entre os homens o percentual foi de de 62%; ao todo, 75% tinham risco.

A professora explica que houve alguns casos de melhora, com perda de peso. “Às vezes é muito frustrante para os meus alunos quando vão lá, porque trabalham com uma realidade muito diferente, muito dura. Muitas pessoas não têm sequer o que comer, e aí como dizer para elas que têm de consumir frutas e verduras todos os dias? Como indicar arroz integral para quem tem diabetes? A partir das condições que a pessoa tem, minimamente, tentávamos caso a caso fazer uma orientação importante, como a redução das porções e pedir que evitassem, por exemplo, dois carboidratos numa mesma refeição, no caso de diabéticos”.

Além disso, 64% não faziam atividade física, eram sedentários. “É complicado, porque lá é muito quente, úmido, tem muito mosquito. Não tem estímulo. As pessoas trabalham o dia todo, quando é na boca da noite têm medo de sair por conta de onça e outros animais”.

Em uma próxima fase, a professora pretende lançar um projeto de pesquisa para investigar anemia e pressão arterial nessa população.

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