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Cidades

Pedestres reclamam que trânsito só beneficia motoristas

Redação | 23/05/2009 08:20

Nas ruas de Campo Grande as imagens deixam claro que o trânsito na cidade é pensado só para os motoristas. Quem é pedestre pena ao tentar atravessar as vias, na maioria dos casos sem sinalização fundamental, como a faixa de segurança.

Os projetos recentes, como o Onda Verde e a restrição de estacionamento em vias movimentadas, só privilegiam os motoristas.

No centro da cidade, no cruzamento da avenida 14 de Julho com a Afonso Pena, pedestres enfrentam dificuldades há anos para atravessar a rua. O motivo é que, quando o semáforo da 14 de Julho fica vermelho, o da Afonso Pena abre em seguida, e os carros viram na rua "sem dó" tornando quase impossível a travessia.

"Não sei como se chama isso, mas toda rua que tem essa entrada aqui para os carros fica difícil de atravessar", conta a professora aposentada Ionice Neves, de 67 anos.

Ela reclama que cruzar a 14 de Julho é demorado, pois com os carros da Afonso Pena não sobra tempo para os pedestres passarem. "Deve ter um jeito de resolver isso", defende.

O assistente de administração Clayton de Oliveira, de 29 anos, afirma que a simples tarefa de atravessar uma rua é muito perigosa. "Não dá tempo de atravessar com segurança", reclama.

Clayton sugere que os dois semáforos do cruzamento deveriam ficar pelo menos 10 segundos fechados simultaneamente, para que as pessoas pudessem atravessar.

Iara Telma Torres de Noronha, de 60 anos, é aposentada por conta de uma deficiência física e reclama que a falta de um esquema que beneficie os pedestres no cruzamento é um desrespeito com quem tem necessidades especiais.

"Eles não respeitam deficientes. Eu quase fui atropelada", diz indignada com uma bengala de apoio na mão, que apesar de visível dificuldade de locomoção, não comove condutores apressados que passam pela rua.

Há cerca de um ano, a aposentada Adenice Eugênio da Silva Lima utiliza a bengala que a ajuda a se locomover, por um problema nos joelhos. Para ela, cruzar a 14 de Julho é muito difícil porque os carros não param, mesmo quando o sinal está fechado.

Além do semáforo, ela reclama que a calçada que os pedestres têm para esperar é inclinada demais, e não dá suporte para quem depende de bengala para se apoiar.

Exemplo - Na rua Joaquim Murtinho, em frente ao CCI (Centro de Convivência de Idosos), há um semáforo para pedestres, um exemplo de como um sistema simples facilita o dia-a-dia. Basta apertar o botão para que o sinal fique vermelho aos carros, e os pedestres possam atravessar livremente.

Antônio Ferreira, de 71 anos, diz que o sistema ajuda muito. Para ele, antes de ser implantado, a travessia era 'difícil e perigosa'. "Se tivesse em outros pontos da cidade, ia facilitar a vida dos pedestres", afirma.

Freqüentador do centro, Antônio Almõas, de 85 anos, garante que o semáforo evita acidentes. Segundo ele, o benefício é tanto para idosos do CCI, quanto para crianças que estudam próximo ao local.

Ainda falta - Apesar de o semáforo facilitar a travessia dos idosos, o diretor do centro de convivência Valdir Gomes, de 58 anos, reclama que a rua Antônio Bicudo, em frente ao CCI, deveria ter mão única, ao invés de dupla.

O motivo é que os motoristas costumam fazer uma conversão proibida exatamente na área por onde os idosos passam, ao invés de seguir 100 metros até a rotatória.

Ele reclama que a situação, que garante que já foi informada à Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), põe em risco a segurança dos idosos. "Falta sinalização, porque eles têm dificuldades para atravessar", defende.

Para Valdir, a situação é um exemplo de que o trânsito em Campo Grande beneficia os motoristas em detrimento dos pedestres. "O motorista de Campo Grande está mal-acostumado", reclama.

Não funciona - Semáforo semelhante ao centro de convivência, também foi instalado na avenida Eduardo Elias Zahran. Mas, no local, o sistema não funciona. Na esquina com a rua São Vicente, até a placa indicativa está danificada.

"Dá medo de atravessar, mas o semáforo não funciona. Tenho que esperar o normal", diz a estudante de Direito, Luciene Ribeiro, de 24 anos. Para ela, a sinalização no local não leva em consideração as necessidades dos pedestres.

Tentativas - Apesar de grandes investimentos para melhorar o fluxo de veículos, a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) não prevê grandes investimentos para beneficiar os pedestres.

Mesmo assim, o diretor-presidente da agência, Rudel Trindade Júnior, garante que os investimentos feitos no trânsito da Capital, como a Onda Verde, deverão contemplar também os pedestres.

Os motoristas só poderão se beneficiar da sequência de semáforos abertos no centro se trafegarem a, no máximo, 40 km/h, explica. Para ele, a implantação do sistema deverá também diminuir a incidência de avanço de sinal e, consequentemente, os atropelamentos.

Mas, Rudel ressalta que o índice dos acidentes no gênero é bastante pequeno na cidade. "Campo Grande não tem altos índices de atropelamento em relação às outras capitais", garante.

Fatal - Para a família da aposentada Joana Alves da Rocha, de 77 anos, a tragédia veio na terça-feira passada. Ao atravessar a rua, rumo ao ponto de ônibus, ela foi atropelada e depois morreu no hospital.

Ao ser lembrado do caso, Rudel assegura que existe preocupação com o pedestre, mas explica que a prioridade da agência no momento é reestruturar os semáforos da cidade, cujo sistema ele afirma que está deficiente.

Mas, paralelo à Onda Verde, garante o diretor da Agetran, os sinais destinados aos pedestres, que ficam próximos aos semáforos, para indicar quando as pessoas podem atravessar a rua, serão reformados. "A maior parte deles está estragada", justifica.

Quanto ao problema da passagem no cruzamento da Afonso Pena com a 14 de Julho, o presidente da Agetran afirma que os motoristas que fazem a conversão vindos da Afonso Pena devem, pelo Código de Trânsito, respeitar a passagem de pedestres.

"O cidadão tem preferência para a travessia. O problema é que os motoristas não respeitam isso", reclama reforçando que a fiscalização será dura com esses infratores.

Rudel diz que, há algum tempo, os cruzamentos não tinham faixa de pedestres em todos os pontos, justamente porque não é seguro para a pessoa atravessar em alguns deles.

Mas explica que a Agetran tem colocado faixas nas quatro esquinas dos cruzamentos para 'induzir' os motoristas a respeitarem a legislação.

De acordo com Rudel, há previsão de que seja implantado na Capital um sistema de sinal vermelho simultâneo nos cruzamentos, para que os pedestres tenham tempo de atravessar. Mas, somente daqui a dois anos.

Enquanto isso, o que está previsto para o próximo semestre de 2009 é a iluminação das faixas de pedestres, com postes de luz direcionados, como forma de reforçar a sinalização durante a noite.

Passarelas - Perguntado sobre a implantação de passarelas para os pedestres, o presidente da Agetran argumenta que esta não é a medida mais adequada para a cidade. "Na área urbana, passarelas não funcionam, porque as pessoas não usam", defende.

Ele explica que a medida acaba 'penalizando' o pedestre, que tem de andar uma distância maior para cruzar ruas e avenidas. Além disso, Rudel diz que o volume de carros na cidade ainda não justifica a implantação de passarelas.

Costume - O presidente da Agetran ressalta, ainda, que os motoristas no Brasil, de modo geral, não têm o costume de privilegiar pedestres e ciclistas no trânsito, como ocorre nos países da Europa, por exemplo.

"No Brasil, a nossa cultura é dos veículos particulares", afirma. Para ele, os brasileiros costumam dar maior importância para a fluidez no trânsito.

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