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Cidades

Racismo se combate com união de forças, conhecimento e atitude

Elverson Cardozo | 22/07/2013 18:06
Daniel dos Santos Araújo alega que foi discriminado em restaurante. (Foto: Marcos Ermínio)
Daniel dos Santos Araújo alega que foi discriminado em restaurante. (Foto: Marcos Ermínio)

O caso do gesseiro negro que alega ter sido discriminado depois de tentar, sem sucesso, comprar água em um restaurante de luxo em Campo Grande, no sábado, reacende a discussão sobre o racismo no Brasil, mas especificamente aqui, na Capital do Estado. Para especialistas e militantes da causa, os casos vão além dos números oficiais, mas as vítimas precisam se inteirar do assunto e unir forças para fazer valer seus direitos constitucionais.

“Não adianta meia dúzia brigar por 42%, que é a população negra do Estado”. A afirmação é da coordenadora especial de Políticas para a Igualdade Racial, Raimunda Luzia de Brito.

Ela não sabia do caso, mas questiona porque o gesseiro Daniel dos Santos Araújo, de 45 anos, não procurou alguma entidade ou alguém do movimento negro na cidade.

A ajuda especializada, de gente que entende do assunto, é de extrema importância na hora de procurar a polícia e de qualificar o crime, disse. “Se ele vai à delegacia sozinho, o boletim de ocorrência não tem mais de 5 linhas, no máximo. Se vai com alguém do movimento, o documento é mais definido porque a gente chega e entende de das leis”, explicou.

Raimunda é firme na hora de avaliar a situação. Não considera que o gesseiro agiu errado. Fez certo em procurar a polícia, diz ela, mas o homem poderia ter mais respaldo. O problema é que, em casos como esse, geralmente a queixa vem depois do ato e daí, para ter uma solução é mais complicado.

“Estamos ganhando espaço, mas as pessoas têm que valorizar isso com a gente. Não adianta um grupinho ficar discutindo, se a massa só vê a discriminação quando alguém é discriminado”, afirmou.

Ativista do movimento negro e juiz aposentado de direito, Aleixo Paraguassu Neto, de 76 anos, também não teve conhecimento do fato, mas afirma, com segurança, que o preconceito, no Brasil, é velado e, por isso, fica difícil classificar o fato perante a lei.

“Uma hipótese como essa, admitindo que tenha havido alguma coisa, é muito sutil. Não estou dizendo que houve neste caso, mas em hipóteses dessa natureza, às vezes se esconde o racismo velado. Isso lamentável”, pontuou.

Paraguassu costuma dizer que essas manifestações “se dão nos desvãos das relações sociais”. “Um exemplo que me veio à mente são as imagens das bancadas da Copa das Confederações. Da a impressão que os jogos de futebol ocorreram em um país nórdico. Você não vê imagens de negros. No Festival de Literatura de Parati você também não vê pessoas negras na platéia, ao passo que 50% da população brasileira é de negros. É uma forma cínica do Brasil tratar a questão”, finalizou.

Outro caso - Há 12 anos, o jornalista Paulo Nonato de Souza, 46 anos, que é negro, viveu essa situação na pele. Na época, estava mobiliando a casa e precisava comprar alguns móveis. Foi a uma loja em Campo Grande em busca de cadeiras, mas sequer foi atendido.

Com muito custo, alguém foi falar com ele, que perguntou o preço. A atendente, ignorando todas as normas de conduta, disse que era “caro” e que o cliente poderia procurar em outro lugar “mais em conta”.
Paulo não se contentou. Insistiu no preço, soube que era R$ 180,00 cada e, por fim, sem dizer muita coisa, deu uma lição na vendedora. “Eu comprei cinco para mostrar que não é dessa forma que se deve tratar as pessoas”, relembrou.

Para o jornalista, o preconceito não é só racial, mas social e ele não vai deixar de existir tão cedo, porque o conceito já está “enraizado” na sociedade.

“Foram três séculos de escravidão e isso formou um caráter na sociedade brasileira. É a essência de muita gente de pele branca, que se sente superior apenas por isso”, afirmou. “Mas isso não ocorre só com pessoas brancas. Tem negros que, pelo fato de estarem em uma posição diferente, sentem-se superior. São iguais que se repelem. Pessoas que se sentem na casa grande”, salientou.

Para o jornalista, como defendeu a coordenadora, é preciso consciência social para buscar os próprios direitos. O que falta à maioria, completou, é deixar a zona de conformismo.

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